“O Dia Seguinte” | Quando o menos bom ainda é bom

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“O Dia Seguinte”  não será um exemplo de magnificência do cinema sul-coreno atual, mas prova que o menos bom ainda é bom.

O filme foi escrito e realizado por Sang-soo Hong, um dos realizador sul-coreanos mais autorais em atividade e, que neste caso, também compôs a banda sonora.

O filme foi escrito e realizado por Sang-soo Hong, um dos realizador sul-coreanos mais autorais em atividade e, que neste caso,também compôs a banda sonora. Sou sincero, desconhecia a sua filmografia e o meu interesse nele começou quando descobri a atriz Min-hee Kim que, depois da ótima prestação no drama erótico do ano passado, Ah-ga-ssi”, ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz, no Festival de Berlim deste ano, com o filme On the Beach at Night Alone”. Pressinto uma dinâmica realizador-atriz muito promissora, estou muito curioso.

O estilo dele surge como uma mistura típica de Wes Anderson com os temas e atmosfera da filmografia de Michel Franco. Como explicar? O filme é uma obra bastante silenciosa e calma. Imaginem Wes Anderson em preto e branco, deprimente e sem qualquer elemento de humor …

Sendo assim, praticamente todas as conversas dos personagens (triviais ou não) são gravadas com os atores colocados de perfil, o que realça a expressividade do elenco, assim como a ligeira simetria dos  planos.

O filme não é pesado, ao contrário daquilo que a própria trama insinua. O Dia Seguinte” é um filme para quem gosta de ouvir pessoas a conversar, a partilhar ideias, enquanto que o foco é a resolução do problema principal. A abordagem do primeiro tema, o adultério, é inicialmente feita de uma maneira leve, contudo, sem jamais perder o realismo ou seriedade. Há muitos silêncios e isso torna a experiência muito  credível e palpável.

Quando não estamos num dos momentos de maior exaltação (que já são poucos), Sang-soo Hong oferece-nos somente um tema musical singular e distinto. As transições das cenas deixam óbvia a entrada da música, porém o lirismo e a poesia são tão agradáveis que ficamos imediatamente consumidos pela deliciosa melodia, que se torna ligeiramente incómoda e estridente. Há um contraste muito interessante.

Os planos variam entre horizontais e estáticos. Contudo, alguns zooms exagerados acabam por não ser justificados. Aparece, de vez em quando, um quadro, que indiscutivelmente têm um significado, mas outros são desnecessários.

Felizmente, isto dura pouco. Para melhorar, a fotografia ajuda a suavizar ainda mais a tensão que eventualmente surge durante o processo. É uma visão muito bonita da cidade pacata, complementada pela neve do dia e pela melancolia da noite. Alguns frames podiam ser quadros lindíssimos.

Os diálogos tinham de ser bons, senão o filme fracassaria. De facto, podem não estar ao nível do filme “Moonlight”. A recriação das duras conversas de um casal em crise, é feita de maneira eficiente, incluindo bons silêncios, interrupções e os momentos adequados de discussão.Por vezes são abordados alguns temas que, quando expressados por frases consecutivas, tornam-se artificiais demais. O filme incluí ainda, estranhos áudios das pessoas a lerem cartas e mensagens no telemóvel, nessas situações, era muito mais interessante observar as reações do leitor.

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O elenco fez o seu melhor e é responsável pela qualidade e pela verdade das cenas. Hae-hyo Kwon retrata um homem cansado, frustrado, inicialmente colocado no papel da vítima, mas lentamente o desprezo do público por ele aumenta quando conhecemos o seu lado mais hipócrita, arrogante e quadrado.

Min-hee Kim faz novamente um trabalho impecável e a sua personagem é a mais interessante. Mesmo a interpretação tendo momentos exaltados, são nos pequenos suspiros e revirar de olhos que ela me convenceu e que me chamou à atenção.

Sae-byeok Kim e a Yoon-he Jo fazem um trabalho apenas respeitável. Não são as personagens mais interessantes, mas as atrizes cumprem o seu papel.

O final foi mantido no ponto de maneira bastante adequada. A resolução foi simples e terminou numa nota positiva, ainda que inesperada. Mas calma, neste caso “inesperado” não é sinónimo de twist à lá Shyamalan.

Porém o final seria melhor se o filme terminasse 20 segundos antes, pelo menos nesse momento o shot seria perfeito. Infelizmente, o filme decide acabar com uma informação que o público já tinha obtido na cena anterior.

“O Dia Seguinte” pode não ser mais um exemplo da excelência do cinema sul-coreano que tivemos nos últimos anos. Ainda assim, apesar de vários acertos técnicos necessários numa produção demasiado autoral, o filme merece atenção por ser diferente, minimalista, leve e refrescante.

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