27 anos após o seu primeiro “filme”, Pennywise volta para se alimentar dos nossos medos com uma nova encarnação que promete voltar a colocar a personagem no top de ícones do terror.
Devo dizer que sim, eu já vi a adaptação de 1990 onde o Tim Curry tem uma interpretação marcante como Pennywise, mas a mini-série não resiste aos padrões dos dias de hoje, e a Warner Bros. apercebeu-se disso.
Assim que se soube do envolvimento de Cary Fukunaga, realizador de uma das melhores séries dos últimos tempos (True Detective Season 1), as expectativas subiram drasticamente pois presumia-se que uma obra de 1200 páginas estava em boas mãos.
Mas, ao haver confrontos de ideias com a Warner, Fukunaga deixou a produção do filme.
Foi assim que o realizador “abençoado” por Guillermo del Toro, Andy Muschietti, chegou ao cargo de realizador, mantendo parte do argumento escrito por Fukunaga, e substituindo ainda Will Poulter, ator escolhido para ser Pennywise, por Bill Skarsgård.
Estando vários anos em produção, saiu finalmente o trailer do filme e as espectativas cresceram ainda mais, tornando-o um dos filmes de terror mais antecipados desde o “The Conjuring” de 2013 por entre os fãs do género, muito provavelmente. E conseguiu viver o filme tais expectativas?
Com toda a certeza, este é o melhor filme de terror de 2017. Está mais que dito, e não vou voltar atrás nessa decisão. E este filme será, com mesmo muita certeza minha, um clássico do género de terror dos anos que estão para vir.
Apesar de ser um filme de terror e aparentar ter jump scares em abundância, o filme acaba por se focar mais no desenvolvimento das personagens das crianças do grupo “Losers Club”. Personagens essas brilhantemente interpretados por 7 jovens que mostram-se capazes de ter um futuro promissor na indústria cinematográfica.
Estas crianças estão a tentar enfrentar algo que ninguém iria acreditar que existe, porque quando somos crianças acreditamos que o mundo gira à nossa volta, mas infelizmente descobrimos que isso não é verdade e que nenhum adulto iria acreditar em algo como um diabólico palhaço que, ainda por cima, não se mostra às pessoas a menos que ele queira ser visto, o que dificulta qualquer tipo de ajuda. E é isso que acaba por “vender” o desespero que cada um demonstra.
Se a audiência for fã do grupo de crianças dos “Goonies”, “E.T.”, e até da recente série “Stranger Things”, “IT” acaba por conseguir transmitir o mesmo tipo de química entre personagens, o que leva o espectador a sentir alguma nostalgia pela infância.
E estas crianças não têm apenas medo de Pennywise, ou dos seus próprios medos. Estás crianças também sofrem com uma interpretação brutal de Nicholas Hamilton, que faz de bully Henry Bowers, onde ele sozinho serve perfeitamente como vilão do filme. Aliás, desde “Temos de Falar Sobre Kevin” que não vejo um rapaz como este. Mais não digo.
Mas, realmente, o que as pessoas querem saber é de IT, o Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård. Tendo noção que não conseguiria substituir a interpretação inesquecível de Tim Curry, Bill tentou trazer algo novo para a mesa. E o que conseguiu foi colocar de novo o palhaço no mapa de um dos maiores ícones de terror. Ele não apressa as coisas como qualquer bom vilão, ele diverte-se com as suas presas, com a sua comida, ferindo-as e assustando-as ainda mais do que elas imaginavam possível, o que o leva a desfrutar ainda mais a sua aguardada ceia que ocorre de 27 a 27 anos. Desde a Freira do Conjuring 2 que não me sentia tão horrificado com uma personagem do género.
Adoraria ainda expressar a minha sensação no decorrer dos últimos 10 minutos do filme, mas isso levaria a spoilers, por isso vou apenas deixar-vos desfruta-los. Apenas posso dizer que foi deveras satisfatório.
A nível técnico, apenas o CGI fica aquém das espectativas. Um filme destes certamente não precisa de tais efeitos, deveriam ser utilizados mais técnicas práticas que computorizadas porque o realismo acaba por ser mais assustador que algo que se nota claramente falso.
Dai o set design deste filme ser magnífico, por ter muita falta de “green screen”. Tentaram utilizar o computador a seu proveito, mas a maior parte da sua utilização desvia um pouco da ação.
Não vai haver cinematografia nem banda sonora mais surrealistas e arrepiantes até ao final do ano. Chung-hoon Chung, cinematografo de filmes como “Oldboy – Velho Amigo” e “A Criada”, e Benjamin Wallfisch, compositor do recente “Annabelle: A Criação do Mal”, criam um ambiente que nos faz sentir bastante desconfortáveis mais do que necessário, complementando assim a história do filme. E claro, quando há necessidade de aliviar a tensão, eles também conseguem, e é um alívio muito bem-vindo por parte de toda a audiência.
E já agora, apesar de o filme ser visualmente intrigante, não precisa de ser complementado com a experiência IMAX.
“IT” merece, sem dúvida, todo o bom alarido que tem recebido. É mesmo um filme de terror que marcará a geração e irá, assim, flutuar para juntos dos clássicos do mesmo género. Apenas espero que Muschietti volte para fazer o Capitulo Dois, pois ele fez o excelente trabalho de me deixar a pedir por mais.