Quando o Capitão Salazar (Javier Bardem) e a sua tripulação escapam do Triângulo do Diabo, determinados a matar todos os piratas (incluindo o nosso favorito), o Capitão Jack Sparrow não tem outra escolha senão partir em busca do Tridente de Poseidon, a única arma capaz de destruir todas as maldições.
Caros leitores:
A partir deste momento e durante toda a crítica, quando tiver que fazer referências ao título do filme, farei por meio de uma sigla. Sigla essa que será: “POTC-DMTNT/SR”. A razão é óbvia. O título é enorme para “chúchú” e só escrevê-lo ocupa quase todo o espaço dedicado à crítica.
– E “SR”, Luis?
“SR” é o subtítulo “Salazar’s Revenge”. É o subtítulo que está nos créditos iniciais e finais do filme e no Imdb nas estreias internacionais. No entanto, o marketing internacional usa “DMTNT”. Talvez tenham mudado para não ferirem susceptibilidades em terras lusitanas. Ou talvez seja uma grande gaffe. Porque neste filme:
“Dead Men Do Tell Tales”/”Homens Mortam Contam Histórias”
– Confusos? Eu também… E preparam-se para mais.
“POTC:DMTNT/SR” é o quinto filme do franchise “POTC” e por esta altura já todos sabemos que estilo de filme vamos ver. Uma montanha-russa de explosões em mar alto, actos de bravura misturados com situações de comédia, o uso do sobrenatural para aumentar o “wow factor”, muito, muito CGI a mistura, personagens antigas que voltam para ajudar no sucesso do franchise, personagens novas que são criadas para ajudar na longevidade do franchise, vilões estereótipo sem necessidade de existirem, uma personagem que sabe MMA (parece uma moda recorrente nos blockbusters deste ano), outra personagem cujo decote está sempre a mostra e nunca se suja no meio de tanto caos, uma história que não tem pés nem cabeça, piadas mais clichés que as anedotas do Fernando Rocha, a pior tripulação alguma vez escrita em papel, uma bruxa que desaparece do filme tão misteriosamente como aparece, um cameo do Sir Paul McCartney tão irreconhecível com tanta maquilhagem/tralha em cima que tive de ir ao Imdb para saber quem era e um “Luke, I’m your father” moment que já se adivinhava à distância.
E no meio disto tudo temos Johnny Depp, um actor que nas últimas duas décadas só mostrou merecer esse título duas vezes. A primeira em “The Libertine” de 2004 e a segunda em “The Rum Diary” de 2011. Longes vão os tempos de “Edward Scissorhands”, “What’s Eating Gilbert Grape”, “Ed Wood”, “Deadman”, “Donnie Brasco” e “Fear and Loathing in Las Vegas”. Procurem estes filmes e vejam-os com atenção. Neles encontram um Johnny Depp sem medos de cair no ridículo, de arriscar, de mostrar o seu íntimo. De mostrar a sua alma.
Em “POTC-DMTNT/SR” temos um Johnny Depp controlado. Que sabe o que deve fazer para tirar umas gargalhadas à multidão. Que sabe o que o estúdio e a história querem dele. Um Johnny Depp que faz um copy/paste aos seus greatest hits para poder continuar a justificar o seu enorme cachet. Mas um Johnny Depp cuja dedicação à arte da interpretação é quase nula.
O filme contém momentos divertidos. Faço especial menção (sem causar spoilers) aos diálogos na sequência da guilhotina, na origem de Jack Sparrow e na conversa sobre relojoaria (a tradução na legendagem é horology = (h)urologia). Três momentos de brilhante escrita e interpretação por parte de todos, mas que não justificam todos os outros momentos de desleixo criativo.
Tubarões zombie? Mas afinal de contas isto é o “POTC” ou o “Sharknado”? Porque se compararmos a absurdidade de ambos, um é mais legítimo que o outro.
Falar dos outros actores é desnecessário. Os seus papéis, com muita ou pouca importância, não ficam na memória do espectador. Javier Bardem (Capitão Salazar) faz um vilão não muito diferente daquele que já tinha feito em “Skyfall” e Geoffrey Rush (Capitão Barbossa) apesar de ser o melhor do filme, fica relegado apenas a ser o personagem que encaminha a história na direcção que é suposta, enquanto esperamos por outro Jack Sparrow moment.
“POTC-DMTNT/SR” é melhor que o seu predecessor, mas não é um bom filme. Apenas razoável.
E se esta crítica pode ser entendida como um rant, um argumento negativo e extremamente emocional, acreditem que está longe de ser esse o seu propósito. Como crítico/reviewer é a minha função dar uma observação concisa (quando possível), imparcial e informativa sobre o filme que presenciei. Como fã e geek que sou tento também passar um lado mais emocional e divertido (quando possível) para criar uma maior proximidade convosco. O público que sirvo e que está a ler estas palavras. E como actor tenho a capacidade de poder contribuir com um conhecimento quase de behind the scenes sobre o processo criativo do actor.
Tudo com a finalidade de poder informar o público na melhor das minhas capacidades. Esta é e deve sempre ser a função de um crítico/reviewer. Digo e mantenho.
E quando estiverem sentados confortavelmente nas cadeiras do vosso cinema, com uma bebida numa mão e as pipocas noutra, prontos para duas horas de diversão com “POTC-DMTNT/SR”, exactamente naquele momento antes do filme começar, lembrem-se disto: este filme custou 350 milhões de dólares (informação do Imdb confirmada pelo estúdio). 350 milhões de dólares para vos dar mais do mesmo. Num país como Portugal, cuja média de orçamento é um milhão de euros (no máximo) e o número de projectos cinematográficos anuais ronda os 12, 350 milhões permitiriam possibilitar financiamento a nível mensal durante 29 anos. Os números podem não ser exactos mas a matemática é sólida.
29 anos. Uma verdadeira indústria de entretenimento. Adorava poder ver isso acontecer.
Talvez um dia…
Esta foi a minha última crítica para a Cinema Pla’net. Foi um prazer e honra poder estar nesta posição a informar o grande público. Espero voltar brevemente a entreter-vos. Até lá vejam bons filmes e divirtam-se!