Vingadores: Guerra do Infinito, realizado por Joe e Anthony Russo é o culminar de 18 filmes num universo construído ao longo de 10 anos. Tem mais super heróis que qualquer outro filme alguma vez feito. Tem um vilão cujo objetivo é destruir metade do universo com um, literal, estalar de dedos. É impossível negar que este filme tem muita coisa a acontecer.
AVISO: a seguinte crítica poderá conter spoilers sobre Vingadores: Guerra do Infinito. Lê ao teu próprio risco.
Neste filme há uma constante alegria em ver o crossover que engole todos os outros crossovers numa só garfada, principalmente vindo do estúdio que redefiniu o conceito desde há seis anos atrás. Guerra do Infinito suga tudo à sua volta para girar na sua orbita e ainda revela o que há em baixo da superfície, e há muito, mas mesmo muito, para desempacotar sob essa superfície. Entre muitos temas, alguns que vêm já desde filmes anteriores no MCU, o maior destes é: “Qual o verdadeiro valor da vida no universo”.
Thanos (Josh Brolin) e a sua trupe a Black Order, estão na sua demanda pelas Infinity Stones, a seis singularidades formadas durante a criação do universo. Se Thanos as juntar a todas, ele terá nas suas mãos o poder para obliterar metade de toda a vida no universo. Thanos tem um problema com a sobrepopulação universal, e acredita com fervor que a única forma de encontrar equilíbrio de forma justa é aleatoriamente aniquilar metade dessa população.
Para tentar parar esta ameaça os Vingadores acabam divididos em grupos por volta da galáxia para proteger as Infinity Stones, dando prioridade às que estão já na Terra – a Time Stone e a Mind Stone — e Thor encontra-se na sua própria missão para arranjar uma arma que possa fazer frente a Thanos.
Sem revelar seja o que for, a forma como vemos os personagens separarem-se simbolicamente ilustra o caos e agitação que a vinda de Thanos traz, o que torna o filme numa situação urgente mas bem divertido de assistir. Vemos Tony Stark (Robert Downey Jr.) a interagir e a lutar ao lado de Doctor Strange (Benedict Cumberbatch), o que claro também nos traz uma disputa verbal quando os seus gigantes egos colidem. Encontramos Thor (Chris Hemsworth), que após muito sofrer após Ragnarok tal como assim que o filme começa, a criar uma relação com Rocket Raccoon (Bradley Cooper), personagem que passou quase toda a sua vida a não deixar ninguém aproximar-se ou conhecer os seus segredos.
Entendemos que os irmãos Russo escolheram estas combinações a dedo para criar dinâmicas únicas que trazem ao de cima o melhor de cada um dos personagens em Guerra do Infinito. É pura alegria ver personagens já vistos noutros filmes a interagirem e a reagirem à existência de outros personagens que nunca pensamos ser possível ver juntos no grande ecrã. O filme expande o espectro dentro do qual certos personagens se encontravam, dado o estrelato a personagens como o próprio Thanos, Doctor Strange, Gamora, Scarlet Witch e Vision, em vez de nos mostrar Homem de Ferro ou Capitão América no centro uma vez mais.
Vê também: Detalhe relevante na cena pós-créditos de Vingadores: Guerra do Infinito
E não, Guerra do Infinito não se limita a baralhar personagens e tentar a sua sorte, pois traz-nos o seu próprio personagem à ribalta, Thanos, pois este é tanto o antagonista como o protagonista. Thanos guia a narrativa apesar do seu objectivo ser absolutamente louco e terrível em todos os sentidos. Não só são os seus motivos compreensíveis e têm de facto razão de ser, a prestação dada por Brolin é fascinante, pois Thanos não só se vê como o herói nesta história, mas também não se mostra satisfeito com as suas acções.
Ele vê tudo como um fardo o qual ele e apenas ele tem a coragem para carregar, levando-o à solidão. Embora Thanos entenda que está a fazer algo horrível, ele vê uma luz ao fundo do túnel, especificamente, más acções que levarão a um bom fim. Esta sinceridade no personagem torna-o num ser com o qual nos podemos relacionar de certa forma.
E forte como o objectivo de Thanos, é a riqueza temática, narrativa, e a ambição do filme. Infinity Way é um filme que nunca se envergonha em ser um grande espetáculo, ou melhor, um massivo espetáculo. Há um pequeno preço a pagar graças a isto, pois gostamos tanto de todos os personagens presentes, queremos de tal modo passar tempo come eles, ver as suas interações e as novas relações criadas que podemos por momentos ficar com a sensação de que não passamos tempo suficiente com nenhum (o que não é verdade) mas a sensação sente-se no fim do filme.
Vision (Paul Bettany) e Scarlet Witch (Elizabeth Olsen) têm desde o inicío uma bela relação no filme, que nos mostrar como têm sido as suas vidas desde os eventos de Capitão América: Guerra Civil, este romance é infelizmente interrompido graças aos eventos do filme. Não que isto aconteça à custa do seu desenvolvimento, mas sim para mais uma vez demonstrar a urgência da situação pois esta relação é importante para o peso dramático da narrativa, cheio de emoção e bem definido.
Há várias histórias bem desenvolvidas ao longo das necessárias 2 horas e 36 minutos. Temos super-heróis mas também temos as suas histórias. Quando a acção nos leva a Wakanda, sentimos que estamos mais uma vez em Pantera Negra, um lugar que por si só é um personagem cheio de vida, mas também com algo significativo para oferecer ao filme.
Os irmãos Russo são inspirados por muitos filmes na sequência de Wakanda, o que enriquece o todo que é Vingadores: Guerra do Infinito. Pois graças a essa riqueza todos têm um arco. Capitão América (Chris Evans) tem certamente um pequeno arco de responsabilidade e nobreza, a prestação dada é subtil mas tão densa que quase é maior que o próprio filme. Assim como o Homem de Ferro, cujo arco é inegavelmente o maior e mais extenso em todo o universo, sendo que ele é o personagem que incorpora as maiores temáticas dos filmes. O filme junta personagens e leva-os para a frente, ninguém é no fim a mesma pessoa que é no início do filme.
É um filme grandioso sobre muita coisa, com temas bem definidos e explorados. O que é uma vida no grande esquema de vida no universo? Questão esta que precisa urgentemente de resposta dada a presença e a matança em massa às mãos de Thanos. Tão enorme é a sensação de que não há esperança que sentimos um aperto na nossa garganta. A vida das personagens depende destes impedirem Thanos de concretizar o seu objetivo e vivemos isso à flor da pele. Contudo, há ainda espaço para relações verdadeiramente humanas mesmo assim.
O fim do filme é audaz, é algo que faz com que não haja muito a discutir mas ao mesmo tempo muito. É o tipo de final que fará com que os fãs mais fiéis espalhem as suas teorias durante o próximo ano. Os irmãos Russo tiveram muita coragem com muitas das decisões que tomam neste filme mas o fim é a maior prova disto: dão-nos algo que nos deixa sem ideia alguma do que virá a seguir, para o bem ou para o mal.
Como fã deste universo cinemático, o maior e mais brilhante de todos eles, saí mais que satisfeito. Há muito para gostar nestes personagens, e este filme prova que isso é verdade mais uma vez após os termos acompanhados em histórias de origem, sequelas ou trilogias inteiras. Guerra do Infinito coloca todos os nossos heróis favoritos num só lugar, e dá-lhes algo para fazer, um caminho a seguir, uma ameaça a parar, um universo para salvar, custe o que custar. Há diversão, acção, riso, choro, perda, choque, incerteza, e com a cena pós-credito, vem a sensação de que o ano vai demorar a passar.
Nos seus filmes individuais, vemos o quão mais que meros humanos estes heróis podem ser, e em Vingadores: Guerra do Infinito, eles cumprem ser tudo o que a soma das partes promete.