Há séries que imprimem parte da linguagem cinematográfica. São muitas outras entregues aos “fazendeiros” e que se tornam dececionantes, apesar do potencial.
“Deep State” é umas das mais recentes séries da Fox. Trata-se de uma criação dos ingleses Simon Maxwell e Matthew Parkhill, que, em conjunto com Steve Thompson (“Sherlock”, “Doctor Who”), escreveram a maior parte dos episódios. O primeiro produziu as séries “Off the Hook” e “Odisseia de Risco”. E o segundo produziu “Rogue” e realizou parte dos episódios, juntamente com o australiano Robert Connoly.
A série decorre alternadamente em várias localizações da Europa Ocidental, América e do Médio Oriente, e acompanha Max Easton, um agente retirado do MI6. Max é, contra a sua vontade, chamado de volta e enviado para uma missão com o objetivo de controlar e punir ministros e ativistas iranianos que violaram acordos de paz destinados à prevenção da utilização de tecnologia nuclear. Mal o agente inglês sabe que ficará preso numa enorme rede de mentiras e conspirações.
Sem querer ser injusto, a Fox continua a produzir bom conteúdo. Porém, o seu problema está em raramente sair da sua zona de conforto. “Deep State”, mesmo com um bom valor de entretenimento e com um comentário político minimamente cativante, não agradará àqueles que procurarão uma série que pense fora da caixa, uma história nova e distinta. Vamos por partes.
Os primeiros episódios são muito fracos. Não há um grande sentimento de presságio ou de consequência. Ocorrem muitas facilitações narrativas e diversos buracos na premissa que precisavam de acertos. As mortes conseguem ser risíveis e incompreensíveis no que diz respeito à sua duração e nexo. Há especificamente dois personagens antagónicos que aparecem e desaparecem esporádica e inexplicavelmente.
Há um personagem secundário relacionado com o protagonista cujo arco e personalidade parecem ser de outra série completamente diferente. E no último episódio, aparece mais um personagem completamente clichê, banal e desnecessário. A fotografia e a banda sonora são funcionais, mas completamente esquecíveis. São pouquíssimos os momentos visualmente apelativos ou memoráveis. Como se pode ver, os contras ainda são alguns.
Quer isto dizer que não existe qualidades? Não. A série comprometeu-se e soube lidar com temas relevantes. Há um comentário inteligente sobre espionagem, terrorismo, segurança, defesa, pátria, traições e cooperações políticas secretas, conspirações e sobre o choque dos distintos valores culturais e das éticas nacionais. A discussão principal consiste acerca no valor dado às vidas que se perdem no meio de conflitos militares e geopolíticos. O consequencialismo e a deontologia estão constantemente em choque e, realçando esse debate, está um grupo de personagens cativantes e com camadas.
O Mark Strong é a presença mais sólida de toda a série. É um homem que já dispensou tantos inimigos que não se sente minimamente incomodado em fazê-lo de novo. Há uma frieza compreensível, mas, vista de outro determinado ângulo, um pouco desumana. O personagem tem um charme elegante e ao mesmo tempo consegue ser robusto e violento, vendendo também o seu lado mais inteligente, cauteloso e experiente, assim como o seu amor pela família.
Falando nela, a Lyne Renée cumpre perfeitamente o seu papel, convencendo como uma mulher destroçada por causa da ausência do seu marido, vivendo simultaneamente amedrontada e ameaçada por aquilo que desconhece a seu respeito. Acompanhamos a sua personalidade a evoluir moralmente à medida que esta é obrigada a agir contra os seus princípios para proteger as suas duas filhas pequenas.
O Joe Dempsie está ótimo como um jovem extremamente habilitado para a sua idade e, por outro lado, descontrolado pela sua raiva e frustração que carregou durante toda a vida desde pequeno. Ao lado dele, está (melhor ainda) a Karima McAdams. A personagem é multidimensional. Envolve-se com diversos personagens, é persuasiva, carismática, agressiva, perspicaz, fala diversos idiomas e domina diversos sotaques. Sem falar na sua química com o Joe Dempsie, que torna o relacionamento muito credível. Acreditamos de imediato que existe história ali.
O Alistair Petrie e o Zubin Varla estão bem, mas têm pouco tempo em cena. No entanto, a atriz que se destaca mais depois do Mark Strong é a Anastasia Griffith. Interpreta uma mulher igualmente autoritária, mas num conflito interno muito maior. A personagem convence-se e é convencida constantemente que aquilo que faz é necessário para proteger o futuro dos filhos, a sua segurança, mas vive numa dúvida inquietante. As suas incertezas e atitudes tomadas de cabeça quente preocupam o espectador.