A versão cinematográfica das aventuras de Miles Morales é um excelente passo em frente no Universo Aranha, que nos últimos anos muito sofreu nas mãos da Sony.
As múltiplas adaptações de “Homem-Aranha” ao cinema em pouco mais de 15 anos, que rapidamente passaram do muito bom (“Homem-Aranha 2”) ao péssimo (“O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro”) levaram a Sony a ter de emprestar a personagem à Marvel Studios numa tentativa de salvarem o seu universo de um desastre do qual não conseguissem recuperar. O resultado foi um “Homem-Aranha: Regresso a Casa” satisfatório, que permitiu assim a integração da personagem na extensa e delicada teia narrativa do MCU para grande agrado do fãs.
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No entanto, a par do empréstimo à Marvel, outro projeto relacionado com a personagem fazia parte dos emails de Amy Pascall divulgados durante o ataque informático à Sony, tratando-se nada mais nada menos de um filme de animação pelas mãos de Phil Lord e Christopher Miller (“O Filme Lego”, “Agentes Secundários”). Pelo caminho faleceram Steve Ditko, co-criador da personagem, a 6 de Julho e o icónico Stan Lee, a 12 de Novembro, mas o filme que nos chega nesta temporada natalícia é mais do que muito bom, é incrível! Uma versão animada que faz justiça à imaginação dos seus criadores.
“Homem-Aranha: No Universo Aranha” apresenta-nos pela primeira vez no cinema Miles Morales (voz de Shameik Moore) um aluno do ensino secundário que através de um sorteio é enviado da sua escola pública para um estabelecimento de ensino de elite no qual não se consegue integrar. Longe de casa, acaba então por fugir dos dormitórios para passar tempo com o tio (Mahershala Ali) nos túneis do metro de Nova Iorque. Quando é picado por uma aranha e ganha poderes toda uma nova realidade se apresenta diante dos seus olhos, mas ao contrário de filmes anteriores, neste mundo já existe um “Homem-Aranha” e ele chama-se Peter Parker (Chris Pine), um super-herói adorado pelo povo e que corresponde ao Tobey Maguire da trilogia de Sam Raimi.
No entanto, enquanto Miles tenta lidar com os poderes recém-adquiridos, uma tragédia acontece e um barão do crime (Liev Schreiber) abre um portal interdimensional que faz com que cheguem ao mundo de Miles e Peter outras “Pessoas Aranha” como Spider Gwen (Hailee Steinfeld), Spider-Ham (John Mulaney), Spider-Man Noir (Nicolas Cage) e Peni Parker (Kimiko Glen).
O elenco vocal, que para além dos nomes já referidos, inclui igualmente Jake Johnson, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Zoë Kravitz, Kathryn Hahn e um cameo de Oscar Isaac, foi muito bem escolhido para cada personagem, com um destaque especial para o jovem Moore, um intenso Ali e um divertido Mulaney (cujo Spider-Ham é um scene-stealer).
Realizado por um trio que se foi compondo e alterando ao longo da produção, Peter Ramsey (realizador de “A Origem dos Guardiões”), Rodney Rothman (argumentista de “Agentes Universitários”) e Bob Persichetti (animador de “Shrek 2”), conseguiram dar vida às bandas desenhadas da Marvel num filme que transporta o estilo visual das BDs para o grande ecrã, misturando diversos estilos de animação ao longo da narrativa, consoante o estado de espírito das personagens, numa harmonia de cor e texturas.
A juntar ao fator visual, temos uma mistura e edição de som muito bem trabalhada, com efeitos sonoros merecedores de nomeação aos Óscares, aliados a uma banda-sonora que nunca desilude e acima de tudo um argumento que trabalha todo um percurso das personagens, criando momentos de humor, tristeza, tensão e adrenalina sem nunca haver partes forçadas, sendo que mesmo com muitas personagens, consegue articular e justificar a presença de cada uma.
É caso para dizer que “Homem-Aranha: No Universo Aranha” é não só um grande filme de animação como também um dos melhores filmes de super-heróis de sempre.