“Joker” não é fácil de classificar. Mas se tivesse que definir este filme em uma palavra seria: desconfortável.
Assim que saí da sala de cinema, vários sentimentos se misturaram. Tinha de reflectir sobre o que tinha acabado de ver, e sabia que não ia ser fácil. “Joker” não é fácil de digerir, nem de tirar conclusões.
Joker, é o vilão mais famoso da história do cinema e o maior inimigo de Batman. criado pela DC. Anteriormente, interpretado de forma mítica por Jack Nicholson e Heath Ledger. Também Jared Leto deu vida ao vilão, mas não convenceu os fãs. No entanto todos conseguem demonstrar a complexidade do vilão, que até agora sempre teve o papel secundário. Temos finalmente a oportunidade de conhecer o que está por detrás do vilão. Neste filme acompanhamos a transformação de Arthur Fleck em Joker.
Fleck representa toda uma sociedade debilitada.
Interpretado pelo incrível Joaquim Phoenix, que prova o seu, já reconhecido, talento nesta interpretação em particular, Phoenix carrega o filme nas suas costas, a aparece cerca de 95% do tempo no ecrã.
O filme conta as origens de Arthur Fleck, em Gotham City nos anos 80. A vida de Arthur é uma sucessão de desgraças. A cidade, está em crise, o lixo não é recolhido, existe uma infestação de ratos, a pobreza é elevada. Fleck representa toda uma sociedade debilitada. Sociedade essa que assiste a uma crescente desigualdade e que tem o sentimento permanente de que ninguém se importa.
Fleck vive com a mãe, é doente mental, pobre, e sofre constantemente todo o tipo de humilhações, o que nos causa um tremendo desconforto. Além disto sofre de uma condição que o faz rir histericamente em situações de nervosismo ou stress, o que é bastante constrangedor e obviamente se torna um obstáculo social para a personagem, que é visto como um parasita.
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A atuação de Phoenix é soberba!
Arthur Fleck é completamente abandonado pela sociedade, pelos colegas de trabalho e a sua saúde mental não é tratada da melhor forma. Estas condições juntamente com o contexto social e económico de Arthur, criam os elementos perfeitos para a loucura.
A atuação de Phoenix é soberba, e percebemos isso no seu olhar, na sua magreza, na maneira como dança, como se move, como fuma, como ri… Chega a ser perturbador e ao mesmo tempo deslumbrante. Não conseguimos desviar o olhar!
Por muito que a atuação de Ledger fique para a história, Phoenix apresenta uma das melhores atuações no universo de super-heróis, digno de um Óscar.
O único ponto menos surpreendente é já sabermos que no final Arthur se transformará em Joker. O que surpreende é como se chega a esse final. Cada evento que acontece obriga-nos a refletir, deixa o espectador desconfortável. Mesmo quando tem piada não conseguimos rir, e se rimos é de nervosismo.
Muito mais que um filme de super heróis…
Arthur Fleck surge como a cara de uma Gotham que está podre e deixada à deriva. Para a sociedade onde ele se encontra inserido, ele será o herói que traz de volta a esperança em fazer vingar uma cidade perdida.
Apesar de toda a critica negativa dirigida ao filme, acerca do incentivo à violência, na minha opinião, o filme retrata muito mais a origem dessa violência e como não devem ser ignorada. Por vezes é pouco claro o que Todd quer que retiremos com o filme. E talvez até seja uma chamada de atenção para aquilo que já sabemos que existe, mas que teimamos em ignorar.
Ter a perspectiva de Arthur é sentirmos alguma compreensão e até mesmo empatia, o que chega a ser assustador.
Muito mais que um filme de super heróis, é um filme sobre economia e política, que incentiva ao debate e humaniza um vilão que pela primeira vez tem a oportunidade de criar empatia com o público.
Para mim, este filme não é sobre Joker, mas sim sobre Arthur.