Num belo dia de Verão no Norte de Londres, mais propriamente em Hampstead, encontrei-me no meu café favorito com o actor Dan Fogler. Conhecemo-nos na London Film Comic Con e ele aceitou o meu convite em trocar umas palavras para o nosso site.
Muitos de nós apenas o conhece pela sua personagem em “Monstros Fantásticos”. No entanto, Dan Fogler já habita o nosso pequeno e grande ecrã há bastante tempo. A sua carreira salta entre a Broadway, o Cinema, a T.V. e a Banda Desenhada. Mas como tudo começou?
Eu não acho que pensei em fazer as coisas naquela ordem, havia sim, coisas que eu amava e sempre quis seguir. Comecei a fazer teatro na escola e achei que era uma boa forma de arrancar. Mas foi muito antes de alguém ter reparado em mim. Fiz Stand Up, Improvisação, e em 2005 ajudei a criar de raiz um projecto que foi para off off off Broadway (risos), no pior teatro que possas imaginar até chegar mesmo à Broadway. E fazer isso com algo que ajudaste a criar foi um sonho tornado realidade.
Dan Fogler trabalhou em teatro antes de chegar a outras plataformas. Mas mais do que ser actor, ele também se aventurou como escritor e director de uma peça que acabou por fazer parte de um festival de teatro em New York. Trabalho esse que se chamava “The Elephant In The Room”, uma homenagem à famosa peça de Ionesco “Rinoceronte”. Uma sátira política sobre a conformidade em tempos terríveis. E como foi para ele esta experiência?
Quando andava a estudar entrei nessa peça, tinha um professor espectacular que estava a dirigir e ele convidou-me para participar. Tinha um papel incrível! Todo o material era tão inteligente, e aprender esta lição sobre a conformidade enquanto apenas estava no secundário foi fundamental. Eu peguei nesse conceito e fiz com um elefante, na altura o presidente era o Bush (filho) e eu achava que íamos todos pelo ares. Mas agora é completamente surreal! (risos)
Estamos sentados na esplanada do café. Há uma certa aura especial nestas ruas que de certo modo te inspiram para palavras ou meras conversas. Entre o cappuccino e os ovos mexidos, perguntei-lhe se, mediante a actual situação politica nos EUA, voltaria a fazer esta peça.
Com toda a certeza! Mudava uma ou outra coisa e faria a peça o mais Trump possível (risos). Mas das coisas que mais me assustou foi filmar na Austrália onde tínhamos que estar numa caverna e alguém diz-me assim (põe sotaque australiano) “sabem que naquela caverna 9 entre 10 aranhas são venenosas!” e eu pensei “Mas que bom! É agora que vou morrer!” (risos)
Depois de um belo pequeno-almoço, eu convido-o a passear comigo por Regent’s Park que fica apenas a cinco minutos. É um parque imenso mas que tem uma das minhas vistas favoritas da cidade: Primrose Hill. Aqui vemos Londres a nossos pés, calma e silenciosa. Dan Fogler e eu caminhamos por entre relvados e caminhos onde joggers e crianças passam por nós, alheios á nossa conversa. Falamos de como com apenas vinte e cinco anos ganhou um Tony Award e como isso mudou-lhe a vida profissional.
Nunca pensei que me fosse acontecer assim tão cedo. Ainda agora pus os pés na Broadway! Como me podem já estar a dar um prémio? (risos) Eu basicamente achava que não iria acontecer porque ainda só tinha molhado os pés, ainda não tinha provado que merecia esta honra. Nem um discurso preparado tinha, então quando chamaram o meu nome e a Anne Hathaway me entregou o premio o meu cérebro parou.
Mas esta honra foi crucial para a carreira de Fogler.
Esse momento mudou tudo. Eu estava ali, em frente aos meus heróis, legitimou o meu trabalho. Antes eu tinha ofertas para papeis em TV mas depois daquela noite, vieram papeis para cinema! Abriu-me as portas
Sentados num banco de jardim, perguntei-lhe como foi a reacção ao saber que iria fazer parte de algo como o mundo de Harry Potter. Dan sorri.
Foi um sonho tornado realidade. Algo tão imenso. Sabes, eu desejei que algo assim me acontecesse. Tinha chegado a um ponto na minha carreira em que precisava de um milagre, algo que me desse alguma estabilidade na vida. Um papel num grande franchising seria o ideal. E eu sou um grande fã de Guerra Das Estrelas, por isso achava que um papel num dos novos filmes seria perfeito mas quando eu fiz o desejo não especifiquei (risos) e passado três semanas recebi uma chamada a dizer que tinha o papel em Monstros Fantásticos. E isso foi um milagre a tantos níveis. Fazer parte deste mundo fez de mim uma criança numa loja de doces
Fogler faz o papel de Jacob, um No-Maj. Acidentalmente entra no mundo da magia através de um feiticeiro que chega a N.Y. com uma mala recheada de criaturas fantásticas.
Para mim foi como ganhar a lotaria. Eu fiz a audição sem nunca pensar que iria ter o papel. Eu nunca li os livros, algo que eventualmente irei fazer, e tinha visto metade dos filmes. Comecei pelo terceiro porque sou um grande admirador do Gary Oldman e quando quis terminar de ver os filmes, jà estava envolvido e como faço papel de um No-Maj não é suposto eu saber nada disto, para não falar que tudo acontece anos antes dos acontecimentos dos livros e eu queria ir um pouco como a minha personagem. Quando terminei as filmagens fiz uma maratona dos filmes e logo de seguida fui ver a peça “Harry Potter and the Curse Child” enquanto ainda limpava lágrimas devido ao que aconteceu com o Snape. Foi muito Potter (risos)
A personagem Jacob é, para mim, das minhas favoritas no filme. A sua ingenuidade e deslumbre ao presenciar um mundo magico, faz-me pensar que seria assim que muitos de nos reagiríamos. Isso torna esta personagem ainda mais querida para o publico.
Ver também:Monstros Fantásticos 2 | Título da sequela foi finalmente revelado
Ele reage como o publico reagiria se tivessem naquela situação. A minha cena favorita no filme é quando ele está sentado na cama e vê o Newt a descer pela mala abaixo. Eu tive a minha reação natural e o realizador disse que talvez fosse demasiado, porém foi essa a versão final que ele escolheu e que aparece no filme, porque ele viu que tinha potencial, que essa seria a reação normal : pânico!
Dan inspirou-se em grandes nomes da comédia do cinema mudo, que sempre teve como referências, para interpretar Jacob.
Eu quis prestar homenagem a grandes talentos como Chaplin e Buster Keaton, especialmente quando pões uma cara inexpressiva mediante a cena mais caótica de sempre. Eu senti que este papel tinha sido escrito para mim. Eu estou a fazer o papel do meu tetravô, que cresceu em N.Y. e também tinha uma confeitaria e eu acho que eles viram isso na minha audição.
O quão especial é este filme para Dan Fogler? De viver histórias e personagens que fazem parte da vida de milhares de fãs e passam de geração em geração.
Isto é algo muito especial. Mais até que Guerra Das Estrelas porque vem de livros que ajudaram muitos jovens a gostar e aprender a ler. Agora faço parte da imaginação deles, e isso é outro patamar. Eu amo Guerra Das Estrelas mas tudo se passa numa galáxia longínqua e Harry Potter acontece aqui mesmo, logo ao virar da esquina.
Descemos Primrose Hill até a estação de Chalk Farm. Conversamos sobre Neil Gaiman, os nossos filmes favoritos de Kubrik e que poderes mágicos teríamos se pudéssemos escolher. Dan conta-me que se pudesse ser um desenho animado seria o Daffy Duck. Partilhou também a história de como se sentiu um fanboy quando conheceu Bill Murray. Levou-me ate à entrada da estação e despedimo-nos.
Dan Fogler é um actor a quem o sucesso aconteceu por puro acaso. Diga-se, no entanto, que não poderia ter acontecido a alguém mais merecedor. A sua humildade e boa disposição são, para quem frequenta Hollywood, um dom mágico.