Let’s Talk #52 – Michalina Olszanska, uma estrela em ascenção

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Só este ano protagonizou o thriller português “Carga”, faz parte da série Netflix “1983” e participou no candidato da Rússia aos Óscares, “Sobibor”. Michalina Olszanska encontra-se em plena ascenção.

Em “Carga”, Michalina Olszanska interpreta uma jovem que parte em busca de uma vida melhor mas que acaba por ser apanhada numa rede de tráfico humano que a aprisiona em Portugal. Pelo caminho depara-se com várias pessoas cujas decisões terão um grande impacto na sua vida, uma delas faz parte da rede de tráfico e também é interpretada por si.

O realizador Bruno Gascon referiu que foi a Michalina quem sugeriu interpretar duas personagens do filme…

Dito assim até soa mal, “Ai eu sou uma atriz, devia interpretar as duas…” Mas não, a minha sugestão surgiu ainda antes de eu estar no projeto. Quando li o argumento sugeri que se combinasse as duas personagens, porque existe sempre a possibilidade de a vítima se tornar vilão e vice-versa, principalmente pelas tragédias vividas na história. Vi que havia muitas semelhanças entre as duas personagens, Viktoryia e Alanna, e falei sobre isso ao Bruno. Depois quando fui escolhida para protagonizar o filme estava muito envergonhada, porque tinha de explicar às pessoas que não era por querer ter os dois papéis mas porque senti que era importante nesta história. O facto de quem somos e onde estamos, o que as pessoas fazem por nós… As pessoas à nossa volta podem considerar-nos uma vítima ou um vilão. Nunca sabemos.

Durante o painel do filme na Comic Con Portugal, a produtora Joana Domingues contou que durante as filmagens, dependendo de como estivesse caracterizada, havia quem nem a reconhecesse no corredor como sendo a mesma atriz…

É verdade! Eu estava sobre muito stress mas isso foi a melhor observação que me podiam fazer pois permitiu aliviar a pressão. Para além de que era esse o objetivo da caracterização das personagens, que estava excelente. Foi um grande desafio para mim, não só enquanto atriz mas de um ponto de visto psicológico, porque enquanto pessoa, no mesmo dia tinha de entrar na menta da vítima e da vilã. Fez-me pensar muito sobre o lado espiritual da questão e lembrou-me de quando há uns anos tive de interpretar uma assassina condenada à morte [Olga Hepnarova]. Isso fez-me aprender que não devemos julgar imediatamente as pessoas.

“Eu, Olga Hepnarova”

Recebeu vários prémios pelo seu desempenho em “Eu, Olga Hepnarova”. Como foi interpretar uma mulher polémica que realmente existiu e foi condenada à morte?

Foi muito interessante interpretar a Olga, porque não é uma história ficcional. Temos mesmo de analisar esta mulher que existiu e que no fundo era uma pessoa má, porque não há nenhuma desculpa para ela ter matado um grupo de pessoas. Mas há que entendê-la, porque ela via-se como uma vítima, e não faz sentido interpretar uma personagem se não a compreendermos verdadeiramente. « I had to find the beauty in the beast », ou seja tive de encontrar o lado humano no monstro.

Foi uma longa aventura, um papel muito especial para mim e que me deu a aprender muito, principalmente porque começámos a gravar antes da nova vaga de terrorismo na Europa. O filme segue esta mulher que aos 22 anos conduziu um camião contra um grupo de transeuntes. Na altura [1973, Praga, República Checa], isto era algo de exceção e ainda o era durante as rodagens, mas quando chegou aos cinemas coincidiu com os atentados de Nice [o filme estreou em França a 6 de Julho, o atentado de Nice ocorreu a 14 de Julho]. Uma coincidência horrenda.

Quando ouvimos algo semelhante nas notícias, o nosso primeiro instinto é a raiva, mas no caso da Olga, como em tantos outros casos, há toda uma história por trás de cada situação, um conjunto de circunstâncias, que levam uma pessoa ao limite. Nada desculpa estes atos terríveis e devemos punir os responsáveis mas, ao mesmo tempo, temos de procurar a raíz do problema para impedir que estas situações ocorram.

Michalina Olszanska
“1983”

Já fez pequenas participações em séries, mas pela primeira vez faz parte do elenco principal em “1983”, uma nova série polaca da Netflix.

Surpreendentemente não foi o projeto mais longo em que participei. Porque o mais longo demorou um ano a filmar, “Matilda”, e esta série da Netflix foi apenas meio ano. Claro que é sempre diferente comparar um filme a uma série, porque as filmagens não são todos os dias. Às vezes é só dois dias por semana, o que não é muito confortável para os atores. Enquanto no “Carga” estávamos a filmar numa montanha, no meio da neve e do frio, e ao final do dia íamos para o hotel entre amigos, todos no mesmo ambiente. Numa série estamos na mente da personagem e depois pára tudo, vamos ao supermercado, alimentamos o gato, estamos em casa e depois regressamos e temos de entrar na mente da personagem naquele preciso momento em que parámos.

Por acaso, ainda não tive oportunidade de ver nenhum dos episódios já finalizados, mas estou muito curiosa porque enquanto utilizadora da Netflix sou uma viciada! Tenho grandes expectativas e ao mesmo tempo é interessante porque vou ser consumidora e participante.

E para onde se inclina o seu gosto na Netflix?

Gosto muito de comédias abstratas como “Dirk Gently’s Holistic Detective Agency”, “Unbreakable Kimmy Schmidt”, “Happy”. A Netflix tem um sistema em que nos aconselha aquilo que acham que vamos gostar e se alguém entrar na minha conta vai encontrar coisas muito estranhas! Agrada-me esse surrealismo, é o tipo de comédias que eu gosto de ver.

Alguma vez viu “The Good Place”?

Oh My God!!! Eu adoro essa série, acabei de ver o primeiro episódio da terceira temporada e agora estou à espera que acabe porque prefiro ver tudo de seguida. É uma série muito boa, boa demais para esperar uma semana entre episódios.

Também participou em “Sobibor”, o filme submetido pela Rússia ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, passado num campo de concentração na II Guerra Mundial.

Resumindo, o meu papel é pequeno, apareço logo no início do filme e depois morro. Mas foi uma experiência incrível porque o Konstantin Khabenskiy [realizador] é muito bom e foi com grande prazer que trabalhei com ele, mesmo que por um período muito pequeno. O resultado final é um filme tão forte quanto deveria ser e penso que fizeram bem em submetê-lo aos Óscares.

Michalina Olszanska
“Carga”

Regressando a “Carga”, o que destaca de toda a experiência de gravar um filme em Portugal?

Foi a minha primeira vez em Portugal e apaixonei-me pela energia pelas pessoas. Não digo isto porque estou a falar para um site português. É mesmo verdade, a equipa foi excelente e o Bruno e a Joana foram muito mais do que alguma vez poderia imaginar, são dois amigos para a vida. Independentemente do resultado final não trocaria nada por esta experiência.

Sem falar português, como foi a sua interação com os outros atores e a equipa?

Já estou habituada, porque sou polaca mas chamam-me para muitos filmes na Rússia em que não percebo nada do que estão a dizer. Portanto, nas filmagens do “Carga” falavam comigo em inglês. O mais importante é perceber o que me dizem e depois não importa o que falam entre uns e outros. É divertido e viajo muito, porque acabo por fazer mais filmes no estrangeiro que no meu próprio país. Foi uma boa experiência, conheci novas culturas e ainda tentei aprender algumas coisas em português… mas foi difícil.

Qual é a melhor parte de ser atriz?

Um trabalho é só um trabalho mas isto é mais do que um trabalho. A cada vez é uma experiência diferente. A cada vez desenvolvo uma personagem. Interesso-me por esse processo, porque depois a forma como as personagens são filmadas não depende de nós e muito menos a forma como o filme vai ser recebido. Até porque às vezes as críticas são más e anos mais tarde o filme é redescoberto num contexto diferente.

Não penso unicamente na qualidade que acho que o filme vai ter mas sim nas personagens. Se prestarmos demasiada atenção a certos detalhes, se nos focarmos unicamente na progressão da carreira, perdemos-nos facilmente, e o que acho mais incrível nesta profissão é, como disse a Cláudia Cardinali, « Vive-se várias vidas numa vida ». Costumo brincar e dizer que viver estas vidas todas pode levar a alguns problemas mentais, porque é uma linha fina entre interpretar uma personagem e entrar demasiado na sua mentalidade. Enfim, é incrível! É a possibilidade de viver uma experiência que as outras pessoas nunca vão viver.

Michalina Olszanska
“The Lure”

E na pele de que personagens ainda pretende viver…

Quero trabalhar com o Bruno de novo. Ele faz um trabalho excecional com os atores, tem uma grande habilidade para trabalhar as emoções das personagens. Espero que ele queira voltar a trabalhar comigo. Mas sobre os papéis que gostaria de fazer é engraçado que quando era pequena queria ser uma sereia e depois acabei por interpretar uma sereia [“The Lure”]. Quando queremos muito algo e lutamos por isso, conseguimos alcançá-lo, mesmo que às vezes seja uma coisa tão simples e ridícula como estar no sítio certo à hora certa. E claro, gostava de participar numa comédia absurda, seria certamente uma experiência nova.

“Carga” está em exibição nos cinemas. “1983” estreou na Netflix a 30 de Novembro.

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