Robert Eggers, o realizador de “The Witch”, apresenta uma espiral de loucura com Willem Dafoe e Robert Pattinson – “O Farol”.
Lembro-me, como se fosse hoje, da primeira vez que vi o filme “The Witch”. Tinha eu quinze anos, ainda um tanto verde no mundo do terror. Até hoje fico abismado com a maestria de um realizador cujos recursos narrativos não se reduzem a um terror barato. Pelo contrário, na sua estreia como realizador ele demonstrou ser capaz de criar cenários assustadores em situações imensamente humanas ao mesmo tempo que desenvolve um texto e visual surrealista e impressionante.
No seu novo filme, “The Lighthouse – O Farol”, Robert Eggers eleva todos estes pontos a um novo patamar. Aqui encontramos um conto caótico sobre dois homens enviados para trabalhar num farol no meio do mar que pouco a pouco se submetem à loucura proveniente da intensa reclusão e natureza sinistra do local.
Se em “The Witch” Eggers tinha uma linguagem mais contida, em “The Lighthouse” o realizador está muito mais confortável. Desta vez temos um filme de terror afirmado. Uma jornada para a loucura que abraça o estranho e o imaginário de braços abertos.
Dizer que as personagens deste filme são únicas talvez não seja o bastante. Robert Pattinson entrega a sua melhor performance até então. A transição para a loucura é perfeitamente bem trabalhada pelo ator. A par dele está a maior estrela do filme Willem Dafoe que interpreta o marinheiro comandante do farol. Dafoe traz todos os maneirismos de um homem do mar, desde a barba e cabelo despenteados, ao andar cambaleante e vício alcoólico. Ambos os atores contracenam de forma intensiva e entregam monólogos que se por um lado podem ser lidos como aleatórios por outro possuem um texto visceral e profundo.
A cinematografia de Jarin Blaschke é simplesmente deslumbrante e merece sem dúvida a nomeação ao Oscar. O uso de preto e branco a par de um aspect ratio de 1.19:1 dão um tom de claustrofobia ao cenário retalhado por tons de fantasia grotesca.
Algumas sequências deste filme são como uma verdadeira alucinação nas quais o realizador brinca com elementos de fantasia e terror. Desde sereias a grandes polvos, tudo isto são elementos que transformam “The Lighthouse” numa grande espiral de loucura.
Não podia pedir mais de um realizador, cujo segundo trabalho apenas me deixa ainda mais ansioso para ver o que ele fará a seguir. “The Lighthouse” entrega tudo o que um filme do género necessita, com performances dignas de um Oscar e uma atmosfera exuberante que leva os espetadores à loucura com a excentricidade genial das suas personagens.
“O Farol” será exibido em sessões únicas e exclusivas nos cinemas Medeia. Link: Sessões “O Farol”