Em 1974 estreou um filme que iria chocar a audiência até aos dias de hoje, “Massacre no Texas”.
O filme veio para mudar a forma como se fazia terror eficaz com um budget pequeno.
140 mil dólares. Este foi o budget de um dos filmes de terror mais influentes de todos os tempos – “Massacre no Texas”. Foi com este budget que o realizador Tobe Hooper teve de trabalhar para fazer o seu filme.
De modo a conseguir controlar as despesas, Hooper contratou actores desconhecidos, gravou 7 dias por semana, entre 12 a 16 horas por dia, durante uma das mais vagas de calor que já passou por Texas. Para poupar, até a própria roupa das personagens não era lavada, sendo que no final das filmagens a indumentária da actriz Marilyn Burns estava duro nalgumas zonas. Para poupar em sangue artificial, nalgumas cenas até foi utilizado sangue real, dos próprios actores.
A produção de “Massacre no Texas” foi um pesadelo para os actores e a equipa técnica. Mas, se calhar foi este o segredo para se conseguir fazer um filme tão visceral como o que temos o privilégio/desconforto de ver nos nossos sofás.
O filme segue uma viagem de 5 jovens num carrinha nos anos 70. Para visitarem a sepultura do avô dos irmãos, os jovens percorrem as estradas do Texas, onde dão boleia a um lunático perto de um matadouro. A partir deste momento, os jovens estão destinados a um destino muito cruel às mãos de uma família canibal.
Os filmes de terror foram alterando a sua perspectiva e os seus elementos de terror ao longo das décadas. Nos anos 70 estavam mais preocupados com o misticismo e componentes religiosas, como o caso de “O Exorcista” e “The Omen”. Mais tarde, veio componentes mais subtilmente sexuais como o “Pesadelo em Elm Street” e “Alien”. Nos anos 90, muita atenção foi dada ao despertar da juventude, com foco gigante em filmes passados em escolas secundárias e os excessos dos jovens a serem castigados.
“Massacre no Texas” destaca-se por simplesmente mostrar a violência como ela é, sem mensagens subliminares nem temas escondidos por debaixo de toda a matança. Este é um filme duro e cru, que tem como único propósito enojar a audiência, impressionar até os mais fortes de estômago e imprimir imagens que nunca sairão das nossas mentes.
A forma como Hooper utiliza o som, sendo uma montanha russa entre silêncio e hiper alto em momentos inapropriados, fazem gelar-nos até ao osso. Tudo isto possível com uma fotografia invasiva, cruzando close ups e planos abertos de forma descontável, revelando e omitindo certa informação visual de modo a imprimir uma maior impressão em nós.
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O acasalamento entre a fotografia e a edição de “Massacre no Texas” é feito de modo inteligente, ocultando certos momentos de violência que se iriam tornar demasiado caros para o seu budget limitado. Mas isto também faz com que muito fique implícito e ainda confira uma maior frivolidade à violência.
No conjunto todo, o filme até nem oferece muita violência propriamente dita. Na verdade, é a atmosfera que Hooper imprime ao longo de todo o filme que proporciona a tensão que nos coloca à beira do sofá em todos os momentos. É quase que doentio o sentimento que passa para o espectador, passando-nos um desconforto que fica até bem depois dos créditos finais.
A parte do filme que ficou mai deteriorado com o tempo foi as suas personagens e algumas das performances. Nenhuma das personagens chega a qualquer tipo de profundidade, servindo apenas de carne para canhão. Até mesmo a família que aterroriza os jovens não chega a ter qualquer fundamento dos seus actos, a não ser o de mero diabolismo e maldade.
Porém, até mesmo estas personagens e performances podem ser vistas como um produto da época e pode ser dito o argumento de que não era o objectivo de Hooper criar grandes personagens mas sim a audiência. E, de facto, isto não pode ser refutado.
E o que dizer do final que não foi já dito. “Massacre no Texas” termina de forma tão abrupta, tal como o Leatherface a matar as duas vítimas. Apesar de tudo, deixa ainda espaço para termos 15 segundos de Leatherface a “dançar” com a sua motosserra, de forma caótica e icónica, enquanto o Sol nasce para um novo dia.
“Massacre no Texas” é um assalto aos sentidos do espectador, pregando-nos ao ecrã durante 84 minutos sem o objectivo de nos largar até estarmos totalmente chocados. É uma lição sobre como fazer arte com pouco dinheiro, basta ser inventivo e ultrapassar todos os obstáculos no caminho. Um marco para o género de terror que muitos tentaram imitar sem sucesso. Os astros estavam alinhados na confecção deste filme e fez-se arte disruptiva.