Em todas as áreas conseguimos encontrar uma personalidade que fugiu aos padrões do meio em que estava inserida e se destacou pelo seu espírito incomum. “McQueen” fala-nos sobre uma das personalidades mais irreverentes do mundo da Moda.
Este documentário, realizado por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, leva-nos a explorar a vida de Lee Alexander McQueen. O estilista britânico provocou uma revolução no mundo da Moda nos anos 90 devido à sua obra audaz e que fugia aos parâmetros convencionais. Desde a sua infância e primeiro emprego como aprendiz de alfaiate, ao longo da sua carreira e posterior falecimento precoce… Somos mergulhados na vida conturbada desta personalidade incomum e deveras interessante.
Os nossos guias turísticos nesta viagem são amigos, colegas e familiares de McQueen, que oferecem o seu testemunho em entrevistas. Todos nos oferecem o seu ponto de vista sobre a personalidade e o génio que Alexander era. Tudo isto é entre-cortado com imagens e entrevistas realizadas ao próprio, em várias fases da sua vida. O documentário deixa-nos assim espreitar por detrás da cortina, oferecendo-nos um retrato realista e intimista do estilista.
“McQueen” segue uma estrutura lógica, com o decorrer do filme a percorrer os momentos mais relevantes da vida do artista por ordem cronológica, sendo estes apresentados como capítulos, intercalados por ilustrações que juntam o macabro e a beleza – dois temas sempre juntos em todas as obras de Lee. Aqui entra o sentido estético do filme, com uma bela fotografia que nos apresenta imagens deslumbrantes que dariam para fazer parte de uma exposição artística.
A narrativa não se censura a si mesma e tenta demonstrar que a persona de McQueen e o seu trabalho não eram do agrado universal. Muitos criticavam as suas colecções e até mesmo a forma como se comportou em algumas ocasiões e com algumas pessoas. Muitos não aceitavam o seu lado disruptivo. Porém, grande parte da oposição apenas é revelada através de headlines de jornais ou de revistas da época, sendo que poderia ter sido mais interessante colocar o testemunho de alguém com essa perspectiva, não para subjugar o talento e genialidade de McQueen mas sim para podermos ter uma visão mais abrangente ao longo de todo o documentário.
O filme é preenchido por uma belíssima banda sonora, que faz questão de pautar todos os compassos da narrativa. Uma componente cinematográfica à qual, aliás, é dada pouca atenção em documentários. Contudo, neste caso, apesar de ser uma óptima acompanhante, a banda sonora chega a ser demasiado intrusiva em alguns momentos. Consegue despir a sensação de realismo que um documentário deveria transmitir.
Feitas as contas, “McQueen” é um bom documentário que vai a fundo na vida do famoso estilista. Aborda os seus triunfos, mas também os próprios demónios que não conseguiu exorcizar. Não debate um tema socialmente ou ecologicamente relevante, como muitos outros documentários, é verdade. Mas é a história de um guerreiro com uma agulha no lugar da espada e um dedal no lugar de um escudo que nos demonstra que a paixão por algo é a nossa maior arma para o sucesso.