Após uma sólida trilogia de filmes baseados em factos verídicos, o realizador Peter Berg volta a reunir-se com Mark Wahlberg. Desta vez, para nos trazer “Mile 22”, sendo que o resultado final não está a altura das anteriores colaborações.
Nesta trama, James Silva (Mark Wahlberg) é o líder de uma equipa de forças especiais americana designada para missões top secret. No meio de um tumulto mundial, uma grande carga de césio, um pó químico mais poderoso que bombas nucleares, perdeu-se nas areias do Oriente. Assim, esta equipa de forças especiais, supervisionada por Bishop (John Malkovich), terá de transportar Li Noor (Iko Uwais), o único indivíduo que sabe do paradeiro desta arma, por 22 milhas, até ao avião que transportará Noor para a América. Pelo caminho, vão encontrar muitos obstáculos que farão de tudo para impedir a equipa de cumprir a sua missão.
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“Mile 22” marca a quarta colaboração entre Peter Berg e Mark Wahlberg. Colaboraram anteriormente em “O Sobrevivente” (2013), “Desastre no Golfo” (2016) e “Unidos por Boston” (2017). Agora, quando se focam em contar uma história fictícia, esta colaboração apresenta o filme mais fraco produzido por esta parceria.
Todos os filmes são povoados por personagens pelas quais se desenvolve o enredo. Neste caso específico, nenhuma das personagens em “Mile 22” é desenvolvida o suficiente de modo a que nos leve a preocupar com a sua missão. É-lhes sempre dado uma característica e/ou “tique” para conseguirmos distinguir cada personagem entre si. Mas, no fundo, estas não passam mesmo disso – personagens com tiques.
Vejamos o exemplo da personagem de Mark Wahlberg. O ator representa um indivíduo rude, cujo raciocínio é mais rápido que o das outras pessoas. Para conseguir controlar a fluidez do pensamento, usa um elástico no pulso para poder magoar-se sempre que isto acontece. Mas, ao longo 90 minutos, o filme não faz mais nada com esta informação. Dá-lhe uma característica interessante, mas fica por aí no que toca a percebermos melhor quem ele é e porque deveríamos apoiar uma personagem que nem é visto como uma “boa pessoa”.
A narrativa é bastante simples: transportar alguém importante de ponto A para ponto B. Já vimos, em muitas outras ocasiões, que esta premissa, apesar de simples, é bastante eficaz. Consegue criar uma corrente de adrenalina do início ao fim. Todavia, Lea Carpenter decide colocar neste argumento uma variedade de personagens e situações que são, ao fim e ao cabo, inúteis e que apenas atrapalham a fluidez do filme. Nada é devidamente desenvolvido porque o filme perde-se em múltiplas personagens e vários momentos temporais, tentando mostrar uma variedade de pontos de vista que não são necessários para o desenrolar da história.
E é na estrutura da história onde reside o maior defeito deste filme: a sua edição. A montagem de “Mile 22” é uma autêntica tortura. Seja na sua estrutura narrativa ou nas sequências de ação, tudo é filmado com uma shaky camera atroz e uma edição repentina, a mostrar mil e um ângulos da mesma situação. Esta técnica não nos deixa visualizar aquilo que seria, de outra forma, considerada uma óptima cena de ação. Mostra, assim, um lado amador, algo que sabemos que o realizador não é. Poderiam-me dizer que este filme foi editado por uma criança de 8 anos carregada com uma adrenalina de açúcar que eu iria acreditar.
Em suma, “Mile 22” fica muito aquém das expectativas de acordo com o potencial que tinha. Depois de três sólidos filmes, à quarta foi de vez. Esta colaboração entre realizador e ator apresenta-nos um filme desapontante que não está ao nível dos anteriores.