Uma das mais recentes séries documentais da Netflix sobre crime real estreou na plataforma de streaming a 13 de janeiro e traz consigo algumas novidades nesse âmbito. É um bom pedaço de entretenimento (não retirando com esta expressão a seriedade extrema dos acontecimentos que foca) e que satisfaz a permanente curiosidade dos seguidores deste tipo de conteúdo de que a Netflix tem muitos exemplares em catálogo.
A história do denominado Night Stalker
“Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” é uma minissérie de quatro episódios que conta a história do denominado Night Stalker, um indivíduo que aterrorizou Los Angeles em meados da década de 80 e integra um grupo restrito de assassinos em série onde se inclui Ted Bundy, Charles Manson ou o Assassino do Zodíaco.
Richard Ramirez, de seu nome real, matou indiscriminadamente durante um ano, entre 1984 e 1985, e marcou de forma indelével a história da cidade, sobretudo naquele inesquecível verão quente de 1985.
Realizada por Tiller Russell, que é produtor juntamente com James Carroll, “Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” é ainda o resultado natural do trabalho que Russell desenvolvia enquanto repórter de crime a nível local.
De entre o extenso catálogo da Netflix dedicado a esta temática, “Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” será talvez uma das mais atípicas séries, embora recorra a muitas das fórmulas clássicas com que os seguidores do tema estarão certamente familiarizados.
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O que a torna atípica é o facto de não se focar no assassino, mas sim nos polícias que investigaram os seus crimes à altura, sobretudo Frank Salerno e Gil Carrillo, que, agora, aposentados se vêem a braços com uma fama que retorna envolta ainda em traumas e choque emocional.
De certa forma, o que Tiller Russell conseguiu de forma mais genuína que a maioria, é o facto de tratar o tema com o cuidado necessário para não glorificar o assassino e deixar de parte as vítimas e os restantes envolvidos.
Podendo ser acusado de superficial e pouco interessado em desenvolver as razões por detrás do crime, esse é, na realidade, o seu ponto forte, já que mais do que se dedicar a desconstruir a imagem pop do assassino, tende a querer mostrar-se factual e focar a série nas vítimas, sobreviventes e famílias.
A escolha de Russell pode resultar superficial, mas mantém-se fiel à promessa de conceder a todos os que foram afetados por Richard Ramirez a devida atenção e respeito para que possam contar a sua história e prestar homenagem a quem perdeu a vida e sofreu verdadeiros traumas.
“Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” funciona um pouco como um thriller de suspense e, ao esconder a identidade visual do assassino na maior parte do tempo, cria um ambiente mais assustador e permite um maior crescendo numa história cujos pormenores e desfecho são devidamente conhecidos.
Por um lado, essa opção poderia abrir caminho a um interesse e profundidade maior na busca pelas razões e motivações, mas em vez disso o realizador optou por focar-se nos efeitos causados nas vidas por onde passou o Night Stalker.
Nesse aspeto, é um dos mais sóbrios e menos exibicionistas exemplos do catálogo Netflix, sem, apesar de tudo, se isentar de incorrer no pecado tentador de tornar pop as encenações dos acontecimentos nas cenas dos crimes.
Toda a estética utilizada remete para uma espécie de videoclip moderno, recorrendo a repetições marcantes de acessórios ensanguentados, armas disparadas perto da cara do espetador, vultos furtivos, fotografias explícitas dos homicídios.
Com todos os seus defeitos e possibilidades, “Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” é um bom exemplo de como tornar uma série de episódios violentos e traumáticos que marcaram a ferros a cidade de Los Angeles em televisão de entretenimento de qualidade que não cai no total facilitismo.
“Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” não está isenta de culpas no modo como tenta usar fórmulas já usadas tantas vezes antes, quer na estética quer na forma de encaixar as peças da história, mas, no final, o espetador sabe que foi manipulado e ainda assim teve interesse em continuar.
Para quem é fã deste tipo de séries documentais, este é um dos exemplos que mantém aguçada a curiosidade até ao final, mesmo que à custa de alguns lugares-comuns.
Por outro lado, merece destaque e recomendação pelo facto de não se entregar totalmente à tentação de glorificar mais um maníaco, como aconteceu, por exemplo, com Ted Bundy.
É ainda digna por se manter fiel à promessa que fez às pessoas que decidiu retratar, porque isso significaria trair a confiança tão difícil foi conseguir entre a equipa e as vítimas.
Por último, “Night Stalker – Caça a um Assassino em Série” permitiu uma espécie de encerramento de ciclo para muitos dos envolvidos que não chegaram a contar desta forma sincera os traumas que sofreram com os atos de Richard Ramirez.
Disponível na Netflix desde 13 de janeiro, vale a pena dar uma oportunidade a “Night Stalker – Caça a um Assassino em Série”.