Robert DeNiro é “O Irlandês” num dos melhores filmes de Martin Scorsese, um excelente retrato do alcance do poder da máfia italiana nos EUA.
“O Irlandês” é a história do irlandês Frank Sheeran (Robert DeNiro). Após ter sido destacado para o sul de Itália e Sicília durante a Segunda Guerra Mundial, acabou por partir para os EUA e arranjar emprego como camionista. Numa das suas viagens o seu destino cruza-se com o de Russell Bufalino (Joe Pesci) e pouco tempo depois Sheeran entra na máfia, onde anos mais tarde se torna o braço direito de Jimmy Hoffa (Al Pacino).
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Baseado na obra “I Heard You Painted Houses” do investigador de homicídios e mais tarde procurador geral adjunto Charles Brandt, o argumento foi adaptado por Steven Zaillian (“A Lista de Schindler”, “Gangs de Nova Iorque”) cobrindo os momentos mais relevantes da longa vida de Frank Sheeran, que faleceu aos 83 anos em 2003.
O excelente argumento que passa pelos momentos que definiram a vida de Sheeran e as interpretações sublimes do trio de protagonistas aliam-se à mestria ímpar de Martin Scorsese que faz de “O Irlandês” um dos melhores filmes da sua carreira e um dos melhores sobre a máfia italiana nos EUA. Aclamado pelos mais variados retratos de máfia e gangues desde os anos ’70 com “Os Cavaleiros do Asfalto”, aos inesquecíveis “Goodfellas – Tudo Bons Rapazes” (1990) e “Casino” (1995) e aos mais recentes “Gangs de Nova Iorque” (2002) e “The Departed – Entre Inimigos” (2006), em “O Irlandês”, o realizador apresenta-nos personagens humanas com um toque de sensibilidade que costuma ficar esquecido neste género de filmes.
Aqui temos um Robert DeNiro que se divide entre atos de extrema violência e frieza, mas que também tenta evitar perder o afeto da filha. Al Pacino provoca um turbilhão em todas as cenas, um fala-barato e persuasivo que nunca abandona uma ideia ou convicção e com uma particular afeição aos gelados. Joe Pesci apresenta-se com uma calma tão protetora quanto ameaçadora. Três homens da velha guarda no topo do seu jogo, a interpretar três personagens modeladas aos atores e aos acontecimentos.
Os efeitos visuais eram um dos pontos mais aguardados e publicitados deste filme, que supostamente rejuvenesceria e envelheceria DeNiro, Pacino e Pesci consoante a década em que se encontrassem, recorrendo a efeitos digitais inovadores que se misturam com caracterização especial aplicada durante as filmagens.
No entanto, ao contrário de um esperado rejuvenescimento, temos movimentos corporais e rostos típicos de alguém envelhecido mas aos quais foram retirados vários traços marcantes da idade. Não resulta totalmente, mas também não o suficiente para distrair o espectador da história. É um caso para dizer ‘pelo menos tentaram’, porque na minha opinião é preferível manter este trio brilhante do início ao fim, a arriscar uma estrutura mais convencional de substituição de atores.
Quanto à longa duração de 3h 30min, a verdade é que fui dos poucos a ter acesso ao visionamento do filme numa sala de cinema em Portugal. Infelizmente, a sessão era exclusiva à imprensa. No cinema a duração de “O Irlandês” não se faz sentir. A montagem da colaborada de longa data de Scorsese, Thelma Schoonmaker (“Raging Bull”, “Goodfellas”, “O Lobo de Wall Street”), caminha de maneira fluída de cena para cena, mantendo o interesse do espectador em querer saber como se vai desenrolar a vida dos envolvidos, com momentos que permitem respirar e absorver as imagens em contraponto com momentos de cortar a respiração.
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Mas compreendo que ao ser visto em casa, o filme pareça longo, especialmente para quem o vir num telemóvel ou tablet, algo que desaconselho por completo. Na impossibilidade de o ver no cinema, a melhor opção é uma sala escura com o maior ecrã que encontrarem.
Scorsese não desilude num filme com garra e sentimento, com DeNiro, Pacino e Pesci no seu melhor. É pena não passar nos cinemas em Portugal, mas é preferível vê-lo em casa a não vê-lo de todo.