“Onward”, em Portugal “Bora Lá”, teve uma passagem atribulada pelos cinemas devido à pandemia e chega agora à Disney+.
“Onward”, o mais recente filme da Pixar teve um percurso curioso. A sua estreia deu-se no dia 5 de março, às portas do começo de uma pandemia que ameaçava o encerramento das salas de cinema. Com o encerro das sessões, o filme foi lançado nos cineclubes digitais apenas duas semanas depois da sua estreia.
Habituado aos dois ou três meses de espera entre o lançamento no cinema e o lançamento em Blu-ray, a decisão da Pixar de conceder acesso ao aluguer do filme apenas duas semanas depois do seu lançamento deixou-me um tanto perplexo. Não que ele fosse o único, afinal de contas tal como “Onward”, também outras obras como “The Invisible Man” (“O Homem Invisível”) seguiram o mesmo caminho.
Assim sendo, e tendo em conta as condições que levaram a esta escolha os espectadores fechados em casa tiveram acesso a uma panóplia de filmes inéditos. O que isto tem a dizer sobre o futuro das nossas queridas salas de cinema, não sei. Porém, um filme como “Onward” acarreta um sentido de esperança necessário aos tempos que decorrem.
“Onward” segue a história dos irmãos Ian Lightfoot (Tom Holland) e Barley Lightfoot (Chris Pratt), dois elfos num universo do nosso tipo, mas habitado por criaturas mágicas. Contudo, a magia morreu neste universo e é tratada como algo arcaico que abandonou o mundo há anos. No seu aniversário, Ian encontra um cajado do seu falecido pai, e ao pegar nele executa um ritual no qual as pernas do seu pai voltam à vida. Após isso, ele e o seu irmão têm de partir numa aventura para completarem o corpo do pai. Porém, o corpo só estará de volta durante vinte e quatro horas, o que leva Ian e Barley a entrarem numa corrida contra o tempo para poderem ver o seu pai uma última vez.
O filme tem a realização de Dan Scanlon, cujo trabalho na Pixar passa por filmes como “Monstros: A Universidade” como realizador entre outros trabalhos como parte da equipa criativa em filmes como “Coco” e “Brave: Indomável”. Aqui o realizador conta uma típica história de dois irmãos em busca de algo que perderam, para mais tarde perceberem que não estão a dar valor suficiente ao que já tem. Porém, “Onward” tem um toque extra no que toca à aventura. O filme é montado como uma aventura do estilo de Dungeons and Dragons, cheia de criaturas, mapas, pistas e até mesmo tavernas, típicas de uma quest do género. A própria personagem do Barley, o irmão mais velho, que demonstra um grande conhecimento num jogo semelhante mas baseado no universo do filme, representa precisamente este ponto.
A Pixar é conhecida por entregar histórias verdadeiramente emocionantes a par de uma animação soberba. “Onward”, apesar de ter uma história um tanto banal, consegue agarrar as emoções ao criar uma história reconfortante sobre dois irmãos. A juntar a isso, a animação conjuga o universo medieval e o moderno de forma impecável, algo que havíamos visto em filmes como “Shrek” mas agora numa escala ainda mais moderna.
O maior defeito deste filme talvez seja o facto de ele não trazer nada de muito diferente ao catálogo da Pixar. Claro que este universo medieval é algo sem precedentes na história do estúdio, porém isso não é suficiente para inovar o seu reportório sendo que “Onward” segue uma estrutura semelhante a obras anteriores. Ainda assim, este é um filme que ainda consegue ter uma alma, presente no crescimento da relação de ambos os irmãos ao longo da jornada.
Vi este filme em casa, mas gostava de o ter visto no cinema. Filmes como os da Pixar são aventuras espetaculares que merecem ser vistas no grande ecrã. Porém, em casa, o filme trouxe-me um sorriso aos lábios, com uma história que apesar de banal, acerta em todas as cordas necessárias do grande nível de qualidade a que a Pixar nos tem vindo a habituar.
[Artigo atualizado a 1 de Novembro de 2020]
“Onward – Bora Lá” chega agora à Disney+ a 6 de Novembro.