Com uma distância de quase 2 meses da semana louca em que todos estavam a devorar “La Casa de Papel”, o que fica na memória da quarta temporada?
“La Casa de Papel”, série distribuída pela Netflix e criada por Alex Pina (que a 15 de Maio estreou “White Lines”), chega à sua quarta temporada com um ano frenético e dramático. Após o final da terceira temporada o grupo estava quebrado. Nairobi (Alba Flores) fora baleada e estava às portas da morte e Lisboa estaria aparentemente morta aos olhos do Professor (Álvaro Morte). Desta forma, o Professor começa a elaborar um plano de vingança, porém as coisas dão para o torto, na grande maioria.
Já vi imensos filmes espanhóis mas no que toca a séries, esta é a primeira do país que realmente me prendeu. Demorei imenso para começar a ver e efetivamente esta tornou-se numa das muitas séries que me dediquei a riscar da lista durante esta pandemia. As duas primeiras temporadas contam uma história bem pensada, cheia de energia e personagens carismáticas. Contudo, a meu ver a série tornou-se realmente incrível a partir da sua terceira temporada. Não só o nível de produção era muito mais elevado, como também a história era mais pessoal para as personagens que, por conseguinte foram muito mais aprofundadas e desenvolvidas.
Se a terceira temporada acaba num pico de emoções, os primeiros episódios da nova temporada são um tanto calmos. Entre a operação de salvamento de Nairobi e a fuga do Professor, os episódios iniciais funcionam muito bem pela forma como estudam as personagens face as suas perdas. Após a suposta “morte” de Lisboa e a queda de Nairobi, o grupo estava perdido. Tokyo (Úrsula Corberó) e Palermo (Rodrigo De la Serna) lutam pela liderança do assalto criando a desordem entre o grupo. Enquanto isso Denver (Jaime Lorente) sente ciúmes de Rio (Miguel Herrán) que se aproxima cada vez mais de Estocolmo (Esther Acebo) devido ao seu trauma após ser torturado. Assim sendo, Palermo é preso e Tokyo assume a liderança do grupo até que o Professor estabeleça uma nova base.
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Eis que Palermo instala o caos ao dar dicas ao agente Gandía (José Manuel Poga) para se soltar. É quando o agente se livra das suas algemas e se esconde no Banco de Espanha, que a trama da temporada realmente se desenrola de forma frenética. Tal como Palermo diz, Gandía é para o grupo como o Alien é para os tripulantes no filme “Alien: O oitavo passageiro”. Escondido nas condutas e armado até aos dentes, Gandía persegue o bando um a um, tentando matar cada um deles. Estes estão desesperados, não só pelo predador que se esconde no banco mas também pelo facto de que os reféns começam a perder o medo ao assaltantes. Adorei a forma como Gandía operou como o grande vilão desta temporada. A sua presença criou um sentimento de perigo de morte para todo o elenco principal. Para não falar que este tem uma personalidade sádica e simplesmente detestável, que vejo sempre como uma boa característica num vilão. Este era uma imparável de máquina de matar e ele não parou até cumprir o prometido.
A morte de Nairobi às mãos de Gandía é dos momentos com maior impacto da série. Após tudo o que a personagem sofreu torcia imenso para que ela sobrevivesse. Sempre a vi como a alma do grupo, o seu discurso inspirava tudo e todos, e das várias personagens, sempre a vi como uma das mais amáveis, e por isso ela sempre foi a minha personagem preferida. O seu arco é sem dúvida um dos melhores da série passando de uma mulher cujo único interesse é o dinheiro no primeiro assalto, para uma personagem cuja maior preocupação é o gangue no qual ela projeta a sua verdadeira família. Uma triste despedida, mas um grande marco na série que deixará saudades.
Outro dos grandes vilões da série é a personagem é a detetive Alicia Sierra (Najwa Nimri). Confesso que na sua primeira aparição na terceira temporada, não fiquei muito convencido com a sua excentricidade. Porém com o decorrer da trama, a sua forma de ser maquiavélica é conjugada com calma e um pensamento calculado que forjam uma constante carta na manga de Alicia em relação aos seus oponentes. Outro detalhe é a possível ligação de Alicia a Berlim (Pedro Alonso), uma teoria consistente em certos aspetos sendo que esta se mostra idêntica à mulher no casamento de Berlim e menciona ter um marido que morreu com cancro. Mas com teorias só esperar para ver.
No final da temporada, o grande Professor mais uma vez chama os mineiros para concretizar o seu plano. Desta vez para salvar a sua amada Lisboa (Itziar Ituño), que por sua vez é enviada num helicóptero para o banco de Espanha para junto do resto do gangue. Juntos eles prometem terminar o assalto em honra de Nairobi.
“La Casa de Papel” volta a surpreender com uma temporada mais intensa e com vilões daqueles que nos fazem roer as unhas. Agora é esperar para que tudo corra bem e no próximo ano tenhamos a quinta parte desta série que se tem vindo a demonstrar uma ótima fonte de entretenimento.