“Trick ‘r Treat” saltou a estreia nas grandes salas de cinema, passando despercebido por uma grande parte do público.
Será que está na hora de dar mais apreço a este diamante do terror moderno?
São muitos os filmes que demoram até encontrar o seu público-alvo e para este começar a acarinhar tanto o filme em questão que essa paixão expande para a grande maioria das pessoas. Filmes de culto que, ao estrearem, não tiveram muito impacto mas que recebem a atenção devida com o passar dos anos.
Muitos destes filmes até chegam a atingir um sucesso estratosférico, como os casos de “Fight Club” ou “The Shawshank Redemption”, que não chegaram a ser um grande sucesso de bilheteira na altura em que estrearam. Outros casos como “The Big Lebowski” ou “Donnie Darko” não tiveram o sucesso esperado devido a serem bastante particulares, mas que criaram ao longo dos tempos um crescente número de fãs e o estatuto de filmes de culto.
Será neste último categoria que entra o filme que vos vou falar hoje – “Trick ‘r Treat – A Noite de Todos os Medos”, um filme de Halloween de 2007. Nunca ouviram falar? Então deixem-me convencer-vos a dar uma hipótese a esta pérola.
“Trick ‘r Treat” é escrito e realizado por Michael Dougherty e 5 histórias diferentes – um director de liceu com um segredo obscuro; um grupo de jovens que decidem prestar uma homenagem ritualista; uma mulher que odeia a obsessão do marido com o Halloween; um velhote isolado com os seus próprios fantasmas; e um grupo de raparigas que procuram homens na noite mais assustadora do ano – que se interligam numa fatídica noite de Halloween.
Apesar de todas as histórias serem, à primeira vista, imensamente clichés, todas estas são muito mais do que é perceptível à superfície. Basta irmos vendo o filme para percebermos que existe algo por detrás de cada acção.
“Trick ‘r Treat” é mais um filme de Halloween do que um filme de terror propriamente dito. Existem elementos terroríficos, mas o objectivo por parte de Dougherty é divertir a audiência com histórias aterradoras mas que injectam uma grande dose de celebração desta época tão especial do ano.
Grande amostra disto é a tentativa bem sucedida de Dougherty em criar uma mascote universal para o Halloween. Tal como o Natal tem o Pai Natal e a Páscoa tem o Coelho, agora o Halloween tem Sam, uma criança mascarada de espantalho que estará presente e cada castigo macabro aplicado a quem merece. E que mascote tão maliciosamente adorável temos aqui, que sem recurso a diálogo consegue transmitir uma áurea perfeita para o tom do filme e da noite de Halloween.
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De forma engenhosa, Dougherty coloca o filme num limbo entre o levar-se a sério e o ser totalmente descabido e over-the-top, conseguindo agradar a quem quer apenas passar um bom bocado a ver um filme e aos mais acérrimos fãs de terror.
As histórias em “Trick ‘r Treat” interligam-se de forma inteligente, muitas das vezes até subtil. Basta um encontro de ombros ou a passagem de uma personagem à frente da câmara para conseguirmos perceber em que momento temporal da história em que estamos. É inteligente e magistralmente orquestrado.
Aquela que pode ser apontada como a maior falha do filme recai sobre as interpretações de alguns actores, especialmente quando nos focamos no elenco mais jovem. Porém, isto apenas se torna um grande obstáculo se o espectador estiver na ânsia de ver um filme de terror sério e sóbrio.
Para aquilo que conta, “Trick ‘r Treat” é um filme de Halloween maravilhoso, divertido em toda a sua perversidade. Intrinsecamente bem escrito e realizado, Dougherty oferece-nos um filme que passou despercebido no ano em que saiu, mas que merece toda a nossa atenção e um lugar na estante como um clássico moderno para a noite mais terrorífica do ano.