Viver em Londres, ser fã de cinema, e não conhecer o BFI é algo quase impossível. Este é sem dúvida um dos lugares mais frequentados por todos os amantes da Sétima Arte.
Localizado em Southbank Waterloo, fica em frente ao rio numa rua cheia de restaurantes e em frente de uma livraria de rua onde livros usados e postais são expostos para a nossa tentação. Esta é uma das minhas zonas favoritas e, caso um dia visitem, aproveitem para ver a vista à noite, com a cidade iluminada e o London Eye de “olho” no lado esquerdo.
Para além de um leque de escolhas entre cinema de autor, clássicos e os mais recentes títulos de bilheteira, é também casa de um dos maiores festivais de cinema da cidade e que pela primeira vez tive oportunidade de fazer parte. Neste artigo que vos escrevo irei vos contar tudo, ou pelo menos quase tudo.
As Screen Talks, entrevistas com convidados, foram das experiências que mais recomendo. Jake Gyllenhal mostrou-se ser para além de um actor de excepção, uma pessoa de excelente sentido de humor e um conhecimento profundo sobre a arte da representação. Partilhou a sua experiência de trabalhar com Heath Ledger, “Heath estava anos à minha frente, ele compreendia o que estas personagens precisavam.” Também revelou que ambos tinham feito audições para o “Moulin Rouge!” anos antes de se terem conhecido para fazer “O Segredo de Brokeback Mountain” e que depois do sucesso deste Heath Ledger telefonou-lhe e disse-lhe: “Hey, o Baz Luhrmann acabou de me convidar para entrar no seu próximo filme e eu recusei! Por nós os dois! – Este era o tipo de pessoa que Heath era”, contou Jake Gyllenhal. O seu filme mais recente “Stronger – A Força de Viver” conta a história de um dos sobreviventes do atentado na Maratona de Boston. Um filme que segundo o próprio actor, “Nunca tive uma experiência como esta num filme, ou na minha vida”.
Cate Blanchett e Julian Rosefeldt falaram do novo filme “Manifesto” onde a actriz interpreta treze personagens diferentes e onde a arte e revolução se unem. Tal como no filme “I’m Not There – Não Estou Aí” a actriz também interpreta personagens masculinas e quando lhe perguntam porque aceita fazer estes papeis Cate Blanchett diz-nos que: “A resposta está na loucura da pergunta. Se alguém me pede para interpretar uma versão de Bob Dylan, que outra resposta poderás dar para além de um sim?”. Depois de trabalhar com grandes realizadores Cate Blanchett confessou que agora quando vai filmar um novo trabalho já não pensa tanto e dá tudo por tudo na hora para a personagem mesmo que as coisas não saiam bem: “Quando estava a trabalhar com o Woody (Allen) ele parou a cena e disse que o que eu estava a fazer era péssimo. Então eu pensei, okay o único caminho agora é para cima! (risos)”.
A minha última Talk foi com Guillermo Del Toro que nos contou de onde vem a sua empatia pelos monstros: “Eu era uma criança muito solitária e estranha, um dia o meu irmão fechou-me no meu berço e pregou-me um susto tão grande que eu comecei a ter pesadelos acordado, então eu uma noite eu acordei e queria ir a casa de banho dizendo aos monstros que se me deixassem ir eu seria seu amigo para sempre!”. Muitos de nós conhecemos o seu trabalho através de filmes como “Blade II” e “Hellboy”, filmes de super-heróis muito antes de estes terem a popularidade actual. “Depois de fazer Hellboy foram-me oferecidos todos os super-heróis à face da terra e outros filmes mas eu queria fazer o “Labirinto Do Fauno”.” O mais recente filme “The Shape Of Water”, que tive a oportunidade de ver numa das maiores salas em Londres e completamente cheia, é na opinião do realizador o seu melhor filme. “Eu queria fazer um Bela e o Monstro onde a Bela não é uma princesa Disney e o Monstro não se transforma num príncipe porque para mim o amor é amar uma pessoa por quem ela é exactamente!”. Este é sem duvida uma historia de amor fora do comum contada entre números musicais e humor em conjunto com uma estilo visual a que Guillermo Del Toro nos habituou tão bem. “A minha carreira tem sido sobre amar e abraçar o estranho!”
Entre tardes passadas entre o cafés e as salas de cinema, a correr atrás de um sitio para carregar o telemóvel, a receber e-mails a cada minuto a anunciar um novo screening e a tentar manter a sanidade, este foi sem duvida dos eventos mais intensos que já tive a oportunidade de participar. Espero para o ano estar lá novamente a representar não só o nosso país como o nosso website!
Para terminar, ficam as minhas sugestões de cinema deste festival :
1) The Shape Of Water : Guillermo Del Toro
2) Bobbie Jean : Elvira Lind
3) Saturday Church : Damon Cardasis
4) Ava : Léa Mysius
5) David Stratton : A Cinematic Life : Sally Aitken