O repórter mais famoso do Cazaquistão está de volta – “Borat Subsequent Moviefilm“ veio para animar este período de pandemia, com a mesma formulação do filme anterior.
Acabadinho de estrear “Borat, o Filme Seguinte: Entrega de Suborno Prodigioso a Regime Americano Para Fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação do Cazaquistão“ já causa muita polémica. Desde declarações de Donald Trump até aos sobreviventes do Holocausto, o humor provocador de Borat não deixa ninguém indiferente.
14 anos depois, o Borat de Sacha Baron Cohen voltou para causar o pânico em pleno “US&A” e desta vez não vem só… A sua filha de 15 anos Tutar (Maria Bakalova) viaja atrás do pai e cai numa realidade completamente diferente daquela que vivia no Cazaquistão.
Sem muitas demoras, o filme vai logo directamente ao assunto: Borat têm a valiosa missão de entregar um macaco (que é uma estrela porno) a Mike Pence “o garanhão” mais conhecido da América. No entanto, esta missão começa logo a correr mal quando em vez do macaco na jaula, vem Tutar.
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Daí nasce a nova missão: em vez de entregarem um macaco, porque não entregar a filha como prenda para glorificar o Cazaquistão? Começa então as aventuras de Borat para ensinar à filha Tutar como ser a esposa perfeita para o homem americano.
Borat e Tutar interagem com várias pessoas, sem guião, causando várias situações hilariantes (e vergonhosas). Esta forma de contar um filme foi muito bem sucedida no primeiro filme e o segundo seguiu a mesma receita. Os anos passaram, mas os “US&A” nada mudaram: voltamos a sentir uma nuvem de racismo, homofobia, fake news e preconceito contra o feminismo.
Desta vez, Borat não veio para entrevistar pessoas conhecidas e apanha-las a dizer disparates. Nesta sequela, o humor é muito mais negro, o que encaixa perfeitamente no panorama actual. A cena da pastelaria onde Borat pede à senhora que escreva uma frase contra os judeus foi hilariante; já a cena de consultar um pastor para “tirarem um bebé de dentro da filha” foi surreal. Alguns momentos com comédia mais básica, como Borat e o seu novo emprego de barbeiro ajudam a aliviar a tensão das entrevistas às pessoas comuns.
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Quando a pandemia e o Covid-19 chegaram a meio das gravações, Baron Cohen e o realizador Jason Woliner adaptaram-se de uma forma surpreendente e sem grandes stresses.
Quando chega a pandemia, Borat decide ir em confinamente com dois homens, seguidores da QAnon. Estes homens, para além de acusarem fortemente os democratas de criarem uma campanha sangrenta contra Trump, também defendem que o Covid-19 foi criado pela China. Parece familiar?
Quarentena com Borat deve ser no mínimo bizarro, no entanto o filme acabou por não dar muito tempo de antena ao confinamento. Apesar de tudo, ainda houve um espacinho para documentar a típica manifestação dos anti-máscara, com muitas bocas aos judeus pelo meio.
O momento mais tenso no filme é claro quando Tutar entrevista Rudy Giuliani, o advogado de Trump. As imagens comprometedoras de Giuliani estão a correr o mundo, obrigando o próprio a defender-se (em pleno Twitter, claro!), dizendo que foi tudo montagem. Já no filme, Borat e Tutar saem a correr de cena, devido ao alto risco destas filmagens.
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“Borat Subsequent Moviefilm” é exactamente o filme que esperamos: uma road trip pela América, com entrevistas e cenários improvisados e Baron Cohen a puxar pelo lado mais racista, sexista e antissemítico dos americanos. Olhando para esta América de 2020, apercebemo-nos que não evoluiu muito socialmente, contribuindo ainda mais para esta sátira de filme.
Se em 2006, Borat andava com rodeios para que as pessoas mostrassem o seu pior lado, em 2020 isto já não é preciso. Parece que toda a gente é um livro aberto e não esconde o seu lado racista ou xenofóbico.
Não é por ter a câmara à frente que as pessoas ficam mais reservadas: não, “Borat Subsequent Moviefilm” encontra demasiadas pessoas a espalhar ódio gratuitamente e com toda a naturalidade.
O maior obstáculo desta sequela era, sem dúvida, superar o primeiro filme. Apesar da Borat já ser bem conhecido, fazer um segundo filme ia ser um risco. As comparações ao primeiro são sempre inevitáveis. Baron Cohen acaba por superar todas as expectativas com nota positiva, muito à conta da mais recente adição ao elenco. Bakalova, que aqui é Tutar, foi uma excelente aposta.
Desde as expressões faciais até à maneira de falar com as pessoas desconhecidas, Tutar é sem dúvida o par ideal para Borat nesta viagem pela América. A sua história e evolução ao longo do filme foi fluída, gerando sempre curiosidade para saber o que iria Tutar fazer a seguir.
Sendo assim, “Borat Subsequent Moviefilm” é uma boa dose de humor à maneira de Sacha Baron Cohen que todos nós precisamos. Com a preciosa ajuda de Tutar, Borat volta assim aos seus momentos de improviso entre o povo americano, sempre com um toque provocativo.
Certeiro e implacável, este filme é a comédia que faltava para os dias de pandemia. Com um guião corajoso e sem medo de apontar dedos, Baron Cohen volta a repetir a proeza de nos mostrar que a nossa realidade civilizada não é como a pintamos.
“Borat Subsequent Moviefilm” está disponível em Portugal via streaming na Amazon Prime Video.