A cerimónia dos Óscares teve lugar há mais de uma semana mas alguns fãs da sétima arte ainda estão em fase de rescaldo.
Comentam-se os vencedores, os vencidos, fala-se de justiça e de injustiça, mas principalmente analisam-se as escolhas mais mediáticas. Uma das grandes surpresas da noite teve a ver com Ex-Machina. Este filme, um sucesso de bilheteira e de crítica mas longe de ser um blockbuster, venceu a categoria de Melhores Efeitos Visuais e deixou de queixo caído os fãs do cinema, os críticos e até os próprios vencedores. Tudo isto porque este filme “desconhecido” derrotou o grande favorito à vitória nesta categoria: Star Wars : The Force Awakens. Para além disso, também estava nomeado para um dos cinco principais prémios da noite: Melhor Argumento Original. De todo este reconhecimento nasceu a pergunta:
“O que é Ex-Machina?”.
Ex Machina é o primeiro filme dirigido por Alex Garland, e é estrelado por Domhnall Gleeson, Oscar Isaac e Alicia Vikander. Conta a história de Caleb (Domhnall Gleeson), um programador que é escolhido para visitar a casa do seu patrão Nathan (Oscar Isaac), um excêntrico bilionário que vive isolado numa casa nas montanhas. Nathan revela que Caleb foi recrutado para fazer parte de um Teste de Turing a uma robot humanoide que ele criou. Caleb terá então de comunicar com a robot e avaliar as suas reações, e de que modo as suas respostas e comportamentos se assemelham às de um humano.
E isto é o suficiente para se saber antes de ver Ex-Machina: Todo o resto tem de ser “desembrulhado” aos poucos, à medida que se vê, com a sensação genuína de descoberta. E esse é de facto um dos pontos fortes deste filme: As suas inúmeras camadas, a sua imprevisibilidade, os seus plot twists, coisas que só têm realmente impacto se forem vividas sem qualquer noção do que vai ou não acontecer. Para além de uma história rica e surpreendente, Ex-Machina tem diálogos fabulosos, tem duas personagens muito sólidas e diferentes (o bilionário Nathan e a robot Ava) e consegue ser original dentro de um tema já tão abordado no mundo do cinema (a inteligência sobre-humana dos robots), fugindo ao sensacionalismo e aos clichés dos filmes americanizados. É fácil criar uma opinião e uma ligação com todas as personagens deste filme, é impossível não ficar consumido pela sua história e é difícil ficar indiferente às mensagens que ela nos oferece.
Para além de um guião merecedor de nomeação da Academia, Ex-Machina é um trabalho visual estupendo. Os seus efeitos em CGI são um trabalho tão minucioso que tornam quase possível acreditar que é real. E tal como o famoso urso em The Revenant, são a prova de um grande desenvolvimento de uma tecnologia que é hoje essencial para a grande maioria dos filmes, que nestes dois casos consegue fundir-se às imagens reais de uma maneira elegante e quase impercetível. E esta foi, provavelmente, a grande razão para a vitória inesperada na noite dos Óscares.
De destacar ainda o excelente e inteligente contraste de atmosferas que foi feito entre as cenas interiores e exteriores: Lá fora há luz, há água, há vida, é tudo real, palpável, genuíno, enquanto lá dentro o ambiente é claustrofóbico, pesado, escuro, falso e plástico. Tudo isto é feito para simular a sensação da robot em estar presa, e as mudanças de atmosfera são tão impactantes que sentimos até respirar mais folgadamente quando se passa de uma cena interior para uma cena exterior, tornando este filme numa autêntica experiência.
“Mas Ex-Machina não é um filme perfeito.”
A grande falha do filme é Caleb (Domhnall Gleeson), a personagem principal, que fica completamente na sombra das personagens interpretadas por Oscar Isaac e Alicia Vikander, os dois grandes motores desta história. Para além disso, e apesar de ser um thriller em crescendo, Ex-Machina tem alguns momentos a meio-gás que podem deixar o espetador impaciente. Mas fora estes dois pontos menos positivos, Ex-Machina é um filme fantástico que nos faz pensar, refletir, e que mesmo sem grandes aparatos, nos entusiasma.