Spike Lee volta à sua zona de conforto ao dar-nos uma lição de História de 2h30min envoltas num enredo cativante em “Da 5 Bloods”.
Depois do sucesso gigante com “BlackKklansman” em 2018, Spike Lee volta a incendiar o nosso entretenimento, desta vez saltando o grande ecrã e indo directamente para a Netflix.
Desta vez, Lee leva-nos para a selva do Vietname enquanto acompanhamos um grupo de veteranos a voltar ao local onde combateram para procurar um tesouro que enterraram e os restos mortais do seu amigo Norman (Chadwick Boseman). Por entre calor e poeira, eles terão de se descobrir a si mesmos e colocar de lado as suas divergências para conseguirem voltar para casa.
Escrito desta forma, e pelo conteúdo da sinopse, “Da 5 Bloods: Irmãos de Armas” parece ser apenas mais um filme sobre os traumas da guerra e as consequências das mesmas para os combatentes. Porém, tendo Spike Lee no comando, torna-se muito mais do que isto logo desde o primeiro minuto.
O argumento utiliza uma premissa simples para injectar comentários e críticas sociais fortes, tendo sempre como base a perspectiva da comunidade negra desde os anos 70 até aos dias de hoje. Com todas as ferramentas a seu dispor, Lee sabe como as manipular de forma a causar um tremendo impacto no espectador.
E muito deste impacto advêm das excelentes interpretações de todo o seu elenco. Desde Chadwick Boseman ao elenco mais velho (engenhosamente utilizado nos flashbacks da guerra num gesto simbólico), todos respiram e transpiram naturalidade, como se fosse mesmo aquela a vida deles. Porém, especial destaque deve ser dado a Delroy Lindo, que oferece com o seu Paul uma personagem profundamente perturbada pela guerra e depressa se transforma numa interpretação promissora para fazer parte das listas de nomeações para os prémios da Academia.
A edição deste “Da 5 Bloods” também merece ser motivo de conversa. Acompanhado por uma fotografia incrível, que caminha por 3 tipos de proporção de imagem, o filme apresenta-se com uma montagem fulminante, com o desenrolar da história entrecortado com imagens históricas e actuais desconcertantes e desconfortáveis, remetendo sempre os seus temas e críticas para uma actualidade bem presente nos nossos tempos.
Devido a esta edição, ao enredo intrigante e a uma escalada de tensão à medida que a história progride faz com que as 2 horas e meia de “Da 5 Bloods” passem a voar, com o espectador cada vez mais à beira do sofá até aos momentos finais.
Considero que este não seja um filme perfeito, e a maior falha para mim recai sobre a personagem de Jean Reno, aquele que pode ser visto como o vilão do filme. Com toda a profundidade dada a cada personagem e a cada situação, o Desroche de Reno destaca-se como um espinho de uma rosa. A personagem em si não passa de um vilão comum e sem sabor, que apenas o é porque o argumento assim o diz.
Assim, “Da 5 Bloods” volta a ser mais um sucesso nesta nova fase da carreira de Spike Lee. Tanto nostálgico como actual, tanto emotivo como impactante, tanto fascinante como desconfortável, tudo se conjuga para nos dar um dos melhores filmes deste 2020.