O universo terrorífico “Ju On” regressa nesta curta série que revela as origens da maldição tão popular desde os anos ’90.
Todo o comum mortal, quando está a assistir a uma partida desportiva, quer que a equipa pelo que está a torcer que ganhe. Se, por falta de sorte, terminar num empate, sempre desejamos que o jogo seja interessante e desafiante, para que valha a pena termos assistido ao duelo.
Eu, por muito amante de cinema que seja, a grande realidade é que o género de terror tem um lugar muito especial no meu coração. Mesmo que o filme/série não seja 100% original ou de um efeito terrorífico arrebatador, peço somente que seja interessante o suficiente para me manter interessado e para ver que o tempo investido valeu a pena.
A saga de terror “Ju-On” já leva com uns valente anos em cima. Com início em 1998, e depois do primeiro sucesso em 2000, a franquia viu-se a ser transposta para a grande audiência com uma adaptação americana em 2004, tal como uma sequela em 2006. Com um nova adaptação que estreou no início deste ano, já se podem contar 11 filmes, tal como uns quantos livros e videojogos.
Em plena pandemia a Netflix não queria ficar de fora deste universo, lançando a primeira série que debate este tema, intitulada “Ju-On: Origens”.
Tal como nas entradas anteriores, a história debruça-se sobre uma maldição numa casa no Japão. Viajando entre os anos 80 e os anos 90, a série mostra como a maldição perturbou a vida de muitas pessoas, levando-as até a cometer actos inimagináveis.
Como tremendo fã de entretenimento de terror, e como acompanhante casual da saga, estava deveras interessado em ver esta série (principalmente por ser totalmente produzida no Japão, a sua origem). Com apenas 6 episódios, com uma duração aproximada de 30 minutos em cada, estava pronto para ser consumido por esta maldição vinda dos confins da Netflix.
E, no fundo, posso dizer que fiquei um pouco desiludido. Não só porque a minha equipa não estava a ganhar, mas porque o empate não estava a ser muito aliciante de se ver.
Apesar da sua curta duração – cerca de 3 horas -, “Ju-On: Origens” demora um pouco a começar a encarrilhar a sua história. Divide-se constantemente entre várias personagens, sendo que demoramos a perceber como se interligam entre si e para com a maldição.
Isto não seria um defeito se os criadores da série conseguissem criar um ambiente sombrio e palpitante desde os primeiros minutos. Porém, isso não acontece, arrastando-se pelos pontos da história de cada personagem, nunca chegando a desenvolver nenhuma com profundidade. Ninguém do elenco faz uma má performance, simplesmente não chegam a ter muito com que trabalhar.
E grande parte desse curto desenvolvimento das personagens advêm do facto da série não contar a sua história de modo linear. A narrativa pula entre vários anos, entre as duas décadas, mostrando a perspectiva de várias personagens. É uma fórmula interessante de contar a história, mas as passagens nunca chegam a ser bem estabelecidas e, pelo facto de não termos qualquer empatia com nenhuma das personagens, não existe nenhum farol que nos guie, a história depressa fica um pouco confusa e desordenada.
Contudo, ao fim de 3 episódios difíceis de engolir, depois de já estar quase a desistir, “Ju-On: Origens” dá-me um murro no estômago em forma do seu quarto episódio. O episódio número 4 depressa se torna o melhor de toda a série. Perturbador, com uma grande intensidade e a maior concentração de momentos de terror, com um sound design de arrepiar e visuais que irão ficar para sempre impressos na minha memória. Se toda a série fosse deste calibre, seria certamente uma das melhores séries do ano.
Assim, apesar de ter um bom conceito por detrás, “Ju-On: Origens” nunca chega a atingir o seu potencial. Não é totalmente má, tendo certos momentos que deliciam o espectador e satisfazem os fãs da saga. Pode ser que encontre um melhor ritmo em futuras temporadas. Não é de se jogar fora, mas ainda tem muito que limar para que a maldição volte a impressionar.