O cinema Blockbuster é cinema. É neste contexto que surge “Jumanji: O Nível Seguinte”, a sequela do reboot do filme original de 1995.
Há umas semanas atrás, o grande Martin Scorcese afirmou que via o cinema Blockbuster não como cinema. Ao invés disso, Scorcese considera este género de filmes como um parque de diversões, que apesar de divertidos, encontram-se desprovidos de mistério e verdadeira emoção. Apesar de ter um enorme respeito pelo realizador, acredito que o cinema de Blockbuster já nos proporcionou diversas emoções e incríveis mistérios. Afinal de contas quantas pessoas não se emocionaram com o final de “E.T. O Extraterrestre?” Eu, tal como muitos outros, cresci com clássicos de ação e aventura tais como “Indiana Jones” e “Star Wars” e posso afirmar que até hoje vejo esses filmes como excelentes obras de arte, cujo nível de produção e histórias emocionantes influenciam-me até hoje. É por estas e por outras que vejo grande potencial para histórias de alto nível no cinema Blockbuster.
“Senhor dos Anéis”, a trilogia do “Batman” do realizador Christopher Nolan, “Regresso ao Futuro”… as obras são diversas e certamente não ficam nada atrás de um filme dito “arthouse”!
Porém, confesso que ultimamente o cinema Blockbuster só tem vindo a piorar. Há uma enxurrada de remakes e reboots que além de não introduzirem ideias novas, acabam por massificar as salas de cinema e por conseguinte, enterram os tais filmes “independentes” que o senhor Scorcese tem vindo a chamar de “verdadeiro cinema”. É uma pena ver obras como “Booksmart” serem “apagadas” por filmes como “Captain Marvel”, contudo o público de hoje em dia parece desinteressado em filmes originais. Isto é algo imensamente prejudicial à indústria e infelizmente não me parece que vá acalmar nos próximos anos.
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É neste contexto que surge “Jumanji: O Nível Seguinte”, a sequela do reboot do filme original de 1995. Nem vale a pena dizer que não havia necessidade para a existência tanto deste filme como do anterior. Contudo, a nova abordagem ao franchise lançada em 2017 foi um enorme sucesso de bilheteira, o que obviamente levou à inevitável produção de uma sequela, e não me parece que vai ser o fim desta saga…
Posso dizer que achei a produção de 2017 bastante razoável. Não chegava aos pés do original mas pelo menos tinha um elenco cuja dinâmica em cena e timing cómico criaram um filme agradável de sábado à tarde. Já a sequela consegue ser melhor que o filme anterior, ainda que não esteja isenta de problemas.
“Jumanji: O Nível Seguinte”, traz Spencer e o seu grupo de amigos de volta ao jogo! Mas, e porque há sempre uma mas, desta vez o seu avô Eddie e o seu amigo também idoso Milo, são transportados para o jogo com eles!
O grande forte deste filme é, mais uma vez, o elenco!
O timing cómico aqui é impecável, em especial com as personagens de Donald Glover e Danny DeVito cuja interpretação de um videojogo aos olhos de um senhor de 80 anos de idade, é simplesmente formidável. Outro destaque vai para Karen Gillan que claramente se divertiu imenso com o seu papel e mostra-se extremamente à vontade com a personagem.
O tom de aventura do filme é muito bem equilibrado. É uma típica aventura do estilo de “Indiana Jones”, apenas mais mirabolante. Jake Kasdan demonstra uma evolução em comparação ao primeiro filme com um controlo muito maior nas cenas de ação que desta vez apresentam-se mais criativas e com um movimento de câmara mais fluído.
Contudo há diversos problemas com este filme. A começar pelo ritmo. A primeira meia hora de filme parece desenvolver uma história que não quer chegar a lado algum. Algumas cenas prolongam-se sem necessidade o que acabou por deixar o filme com alguma “gordura” desnecessária. Além disso, o CGI consegue ser pior que o do primeiro filme em algumas cenas…
Confesso que me diverti com este filme, mas tenho a dizer que esta obra apenas contribui ao comentário de Martin Scorcese. O novo filme da saga Jumanji não traz nada de novo à série ou ao género. É na ação e na comédia que este filme demonstra o seu valor, pena que a par disso não haja uma história ao nível desse espetáculo. Vistas as coisas o cinema Blockbuster tem caminhado apenas para espetáculo mas é sempre bom lembrar que há espaço para bom cinema dentro desse género, ainda que hoje em dia isso não pareça ser o caso.