Estamos cada vez mais próximos da estreia do último capítulo da trilogia iniciada por Jurassic World, com Jurassic World: Dominion. Revisitamos aqui o filme anterior, Jurassic World: Fallen Kingdom, o quinto filme da saga Jurassic Park ao todo.
Uma atmosfera mais negra
O filme anterior acabou com a ilha Nublar a ser abandonada, após mais um desastre com o parque de diversões que vimos em Jurassic World. Em Fallen Kingdom, que se passa algum tempo depois, a ilha está prestes a ser destruída devido a uma iminente erupção vulcânica. E desse modo, os dinossauros todos que vivem lá também morrerão, voltando a estar extintos.
No meio desta tragédia, o filme apresenta-nos uma questão social: é nosso dever salvar os dinossauros da morte certa, ou devemos deixá-los perecer? O Dr. Ian Malcolm, interpretado pelo sempre carismático Jeff Goldblum, está do lado de que a morte destes dinossauros vai reestabelecer a ordem da natureza que foi corrompida no primeiro Jurassic Park. Infelizmente, não vemos muito mais desta perspetiva, pois este personagem aparece praticamente apenas nos minutos iniciais. Passamos rapidamente para o ponto de vista de Claire (Bryce Dallas Howard). Agora ela é uma ativista fervorosa pelos direitos dos dinossauros, atualmente uma espécie em vias de extinção. Assim, recruta Owen (Chris Pratt) para a ajudar a resgatá-los da ilha antes que esta expluda.
Esta é a premissa inicial deste novo capítulo da saga do Parque Jurássico, desta vez realizado por J. A. Bayona. Colin Trevorrow passou a argumentista, após ter realizado o primeiro da trilogia, pois queria alguém que trouxesse qualidades diferentes para os filmes seguintes. E, nisso, acertou em cheio. Bayona traz uma nova direção para a série, focando-se mais na construção de sequências tensas e uma atmosfera assustadora. Enquanto que Jurassic World é um filme de ação e aventura mais direto, este pode ser visto como um filme de suspense e até de terror em algumas cenas. O realizador espanhol consegue conferir urgência em todas as set pieces, mesmo quando a parte emocional da história não resulta tão bem.
Um argumento cansado
Apesar de inicialmente a narrativa parecer que nos vai levar a sítios diferentes, rapidamente o argumento mostra que simplesmente não tem estofo para isso. Em primeiro lugar, os personagens não nos agarram. Já no filme anterior, Claire e Owen demonstraram ser protagonistas aceitáveis, mas nada de especial. Aqui, se for possível, ainda são menos consistentes. As decisões que tomam são determinadas apenas pelo enredo, sem muito cuidado com motivações de cada um. Especialmente no personagem de Chris Pratt, que vê quase todo o seu carisma drenado numa caricatura de herói de filme de ação. Para além disso, o elenco secundário também varia de irrelevante a irritante.
Contudo, as maiores asneiras encontram-se na história secundária, entre um antigo parceiro de John Hammond, Benjamin Lockwood (James Cromwell), e a sua neta. Nota-se de forma óbvia que criaram o personagem apenas para fazer uma conexão fácil com o filme original. Ele nunca tinha sido mencionado anteriormente apesar de parecer ter sido importante na criação dos dinossauros com Hammond, o que faz parecer isto tudo forçado. Já a sua neta esconde uma reviravolta, que, apesar de perceber a sua intenção, não serve para quase nada no fundo. Até o próprio filme sente-se embaraçado com o quão absurda é essa viragem na história, tanto que após o reveal, mencionam-na apenas mais uma vez, no final, de forma não verbal. Enfim, é um daqueles detalhes que podia ter sido perfeitamente deixado de parte e não faria praticamente diferença no resultado. Isso, ou tentavam realmente desenvolver mais a fundo as questões levantas.
Uma sinfonia de terror… quase
Muito deste filme consegue-se resumir em: ideias criativas mas execução desajeitada. A segunda metade do filme passa-se inteiramente na mansão de Lockwood e novamente vê-se potencial. Dinossauros num ambiente caseiro é algo que diverge da fórmula do “parque que dá para o torto”. E de facto alcançam algum desse potencial. Bayona diz que se inspirou em “Nosferatu” e Alfred Hitchcock para criar as sequências de suspense e terror que vemos nesta secção do filme. Nota-se claramente estas influências na cinematografia e montagem destas cenas: Bayona cria momentos inegavelmente aterrorizantes e emocionantes. Existe quase uma atmosfera gótica na mansão ser assombrada pelos dinossauros, e o filme explora esse conceito de forma interessante.
Todavia, a narrativa que se passa entre cada um desses segmentos fica cada vez mais desinteressante à medida que o filme avança. Novamente, há a gimmick de ter de haver um novo dinossauro geneticamente criado. No Jurassic World, foi o Indominus Rex; neste, o Indoraptor. E a reciclagem de ideias não acaba aí: tens o plano maléfico de tornar os dinossauros em armas e uma corporação malévola com vilão cartunesco. Percebe-se que, por esta altura, a franchise está cansada e tem dificuldade em inovar.
A reação crítica na altura foi dura no filme. No entanto, penso que Jurassic World: Fallen Kingdom entretenha bem suficiente apesar dos vários deslizes do guião e das performances. E, ao menos, o final abre a porta para grandes possibilidades. Espera-se que sejam bem exploradas no Jurassic World: Dominion, um dos filmes mais esperados de 2022. A 9 de Junho já saberemos.