Lady Bird é um filme que não arrisca muito, o que é a sua principal limitação. Mas tal não impede a existência de momentos verdadeiramente tocantes.
Lady Bird é, sem dúvida, um dos melhores filmes Coming of Age da presente década. Em muitos aspetos, é um filme que joga pelo seguro e usa a fórmula tradicional de outras produções do género. No entanto, o tema central do filme é o que lhe confere individualidade, essencialmente pela urgência com que é abordado. Falo, obviamente, da relação entre mãe e filha, interpretadas competentemente por Laurie Metcalf e Saoirse Ronan, respetivamente.
Tal como a titular Lady Bird (Christine de nascimento), o próprio filme tem 2 lados. Os struggles familiares são abordados com um grande sentido de realismo, sem recorrer a estereótipos. Já o mesmo não se pode dizer das restantes atividades de Christine, e da narrativa que necessariamente as acompanha. O desfecho do arco entre Christine e a sua amiga Julie (Beanie Feldstein) é algo que já vimos muitas vezes. O mesmo vale para a caraterização dos namorados de Lady Bird.
Não seria justo atirar pedras a Greta Gerwig, que faz aqui a sua estreia como realizadora, pelo setting que envolve a narrativa principal. Durante o visionamento de Lady Bird, torna-se claro que a visão de Gerwig brilha na abordagem dos transtornos inerentes à maternidade. A realizadora projeta-se na personagem de Saoirse, cuja evolução retrata a maturidade que Greta foi ganhando ao crescer. Não é uma autobiografia, mas poderia ser. Esperemos só que a mãe da realizadora nunca tenha experienciado algo tão angustiante como aquela cena no aeroporto…
Creio que seja igualmente importante referir a importância de Lady Bird no panorama histórico do cinema. Numa época em que a importância da representação cultural é mais discutida do que nunca, Lady Bird vem mesmo a calhar. O género Coming of Age, talvez mais do que qualquer outro, requer que a pessoa se identifique com as personagens em questão. Seja esta identificação uma reflexão do que somos, ou até uma projeção do que gostaríamos de ser. Como tal, e sendo este um género escasso em filmes cuja personagem principal é do sexo feminino, Lady Bird vem ocupar um espaço essencial.
A forma como o filme foi construído, sem grandes riscos, faz com que seja praticamente impossível apontar-lhe muitos defeitos. E, de facto, não tem muitos, nem especialmente relevantes. A narrativa por vezes formulaica, mais do que ser um ponto contra, é essencialmente algo que não deixa o filme ir mais além.
Vê aqui a nossa lista dos melhores filmes Coming of Age.