Quem, por algum motivo, não esteve na 15ª Edição do Motel X, em 2021, não teve oportunidade de ver em primeira mão aquele que foi o vencedor “Escolha do Público”: Laranjas Sangrentas!
E, antes que comecem a pensar que é um filme onde laranjas andam a matar pessoas sem dó nem piedade, aviso-vos já que Laranjas Sangrentas é aquela comédia negra que fazia falta. Não só por ser francesa, mas porque satiriza perfeitamente qualquer país desta nossa Europa.
E tem o melhor que as comédias francesas já nos habituaram: diálogos frenéticos com muitas pessoas a falarem rapidamente por cima um dos outros, com mudanças drásticas de assuntos e que retratam perfeitamente o como estes encontros de amigos ou família são na realidade.
Agora um spoiler: não vi uma única laranja no filme, mas vi algum sangue que foi derramado de forma sórdida. Outra coisa que posso dizer é que me é difícil catalogar este filme em qualquer das variantes de terror. É uma comédia negra, muito negra por olharmos para ela e percebermos que não foge das várias realidades que retrata e que nos faz rir com as tiradas que algumas personagens lançam para o ar sem estarmos à espera.
Sobre a história: Laranjas Sangrentas está dividida em 4 histórias diferentes, que acontecem ao mesmo tempo, e que acabam por estar interligadas porque as personagens, a determinado momento, se cruzam entre elas. Temos o casal de idade cheio de dividas que tentam encontrar a solução dos problemas financeiras num concurso local de dança, um jovem advogado que tenta subir na carreira e na hierarquia social, uma jovem que deseja iniciar a sua vida sexual mas que tem mais receios do que expectativas positivas e um político corrupto que tudo faz para esconder os seus segredos profissionais e pessoais.
O filme vai-se desenrolando sempre de forma frenética, não nos dando muito tempo para respirar, até surgir um dos primeiros desfechos de história que nos param a respiração. E se dividíssemos o filme em duas partes, é neste momento que saímos da sátira cómica para a tensão psicológica. É a partir daqui que todas as histórias começam a entrar na sua espiral descendente, em que, algumas, nos partem o coração.
As performances dos atores são soberbas e extremamente convincentes, criando aquela ponte necessária para desenvolver afinidade e carinho por elas. Ou por algumas delas, claro.
A realização – a cargo do actor/encenador Jean-Christophe Meurisse – também está em grande destaque. Com planos largos de 4 ou 7 pessoas a uma mesa a falarem, a discutirem, a rirem, com as câmaras num movimento de rotação constante que evidencia a personagem central de cada história, torna tudo mais dinâmico e fluido.
Como comecei por dizer, Laranjas Sangrentas é a comédia negra que fazia falta. Os assuntos que aborda são pertinentes. São reais. E, alguns, podem acontecer aos nossos vizinhos ou, como no filme, na nossa própria família sem sequer desconfiarmos.
Se este género de filme é dos vossos favoritos, podem vê-lo no Cinema Ideal e perceber porque foi tão acarinhado pelo público do Motel X. Se não foi o vosso estilo, devem ver à mesma, porque como disse acima, há situações que podem acontecer a alguém próximo de nós e nem desconfiarmos.