Vencedor do César de Melhor Realizador, Jean-François Richet passou por Portugal para apresentar o seu novo filme “O Imperador de Paris”.
Esta é a segunda vez que Vincent Cassel é o Inimigo Público nº1 num filme seu…
Mas não na mesma perspetiva! Porque há um que pretende continuar a ser o Inimigo Público nº1 [Jacques Mesrine] e o outro nunca o quis ser [Eugène-François Vidocq]. Penso que Mesrine teria sido um mau Vidocq e Vidocq teria sido um mau Mesrine.
Como foi toda a experiência de realizar os dois filmes de Mesrine ao mesmo tempo? [“Instinto Assassino” e “Inimigo Público Nº1”]
As rodagens duraram 9 meses… o que é muito! Sabíamos que seriam dois filmes desde o início. O problema foi que gravámos por ordem decronológica porque o Vincent estava a emagrecer aos poucos. Ele engordou 22kg para o papel e aos poucos, durante as filmagens, foi perdendo o peso. Portanto começámos pelo fim e terminámos no início. O maior exemplo disso é a primeira cena do primeiro filme numa cave durante a Guerra da Argélia ter sido a última cena que gravámos.
Quanto ao remake de “Assalto à 13ª Esquadra”, como é que John Carpenter recebeu a ideia?
Ele gostou mesmo muito do meu segundo filme, “Gangs da Minha Cidade”, chegou a vê-lo várias vezes. Na altura John Carpenter não dava os direitos das suas obras a ninguém. Acabei por ser o primeiro a quem ele acedeu à ideia de um remake, ele queria mesmo ver o resultado e praticamente deu-me os direitos. Nem se pode considerar uma compra… cedeu-nos os direitos! No fim do projeto ele estava contente, foi a primeira pessoa a ver a montagem final do filme. Eu estava radiante. Logo após a projecção lembro-me que John Carpenter disse “Same spirit. Same energy. Different time.”
A comédia romântica “Um Momento de Perdição” sai da linha de filmes de crime que realizou ao longo de toda a sua carreira…
Talvez sim, mas não o vejo dessa maneira. O projeto interessou-me porque não é tanto um filme sobre uma amizade traída [um homem que anda com a filha do melhor amigo] mas de um homem adulto que dormiu com uma miúda muito jovem. Tratei o tema da mesma maneira que nos outros filmes, portanto para mim não foi assim tão diferente. A minha liberdade enquanto artista permite-me estar nas tintas para o género, só no final é que os outros encontram uma categoria para o nosso trabalho. Quando lês um livro passas de um histórico, para um policial, para um romance e quando vais ao cinema é igual. Obviamente que depois há géneros que prefiro em relação a outros, mas gosto da ideia de não me interditar a alguma coisa. Eu queria fazer o filme e o Thomas Langmann, que detinha os direitos, já tinha apresentado a ideia a outros realizadores que não quiseram tocar no assunto.
Como foi trabalhar com Mel Gibson na sua fase de ‘renaissance’ em “Blood Father – O Protetor”?
Foi incrível e há uma grande amiga que quando fala dele só diz a verdade – a Jodie Foster. E cada vez que a Jodie Foster fala do Mel Gibson descreve-o tal e qual como quando eu trabalhei com ele, um tipo fantástico. Tudo o que lhe aconteceu para mim passa-me ao lado porque o homem que conheço não tem nada a haver com o que alguns dizem. Fizemos um pequeno filme de 11 milhões de dólares, o que para um filme americano é pouco. Não tínhamos gruas nem steadicam e ele foi um amor de pessoa, sentia-se bem connosco, muito simpático.
O que lhe suscitou um maior interesse em “O Imperador de Paris”?
A época. Adoro o Primeiro Império e a Revolução Francesa, acho que tudo era possível nessa época, em que a meritocracia é que contava. Todos os marchais do império eram filhos de camponeses e se pensarmos numa transposição para a atualidade vemos que claramente já não é possível o Inimigo Público nº1 tornar-se Chefe da Polícia de Paris. O que quer dizer que provavelmente era um tempo em que havia mais oportunidades, mais segundas chances e o que determinismo social era menos pronunciado que agora. Para além de que a personagem do Vidocq diz ‘não’ ao seu determinismo social e penso que foi DeGaulle quem disse algo do género “Responder ‘não’ é o início da liberdade.”
Sendo um filme de época, qual foi o maior desafio na criação de “O Imperador de Paris”?
Encontrar o dinheiro para o fazer, porque em França há dinheiro para as comédias, mas para os filmes mais sombrios é difícil. Os filmes históricos são os meus preferidos, neste momento tenho três projetos históricos em desenvolvimento mas é difícil montá-los financeiramente. Uma dificuldade no orçamento de “O Imperador de Paris” foi o facto de termos optado por menos efeitos visuais, queríamos construir os cenários. Acaba por ser um ovni no cinema francês.
Jean-François Richet falou ainda sobre outros projetos históricos…
Propuseram-me um filme de guerra norte-americano passado em França durante a Segunda Guerra Mundial. Eu aceitei, portanto agora vamos ver o que acontece. É sobre um aviador americano que cai de pára-quedas em França e portanto o filme é em inglês e francês. Também escrevi um thriller policial. Ainda vai no início mas a ideia é muito cativante. Vamos lá ver qual dos dois será o meu próximo projeto… às tantas ainda surge um terceiro que acaba por ser filmado antes. No cinema nunca se sabe.
“O Imperador de Paris”, de Jean-François Richet, foi nomeado a 2 prémios César da Academia de Cinema Francesa e já se encontra em exibição em Portugal desde 14 de Novembro.