Albert Shin lançou o seu mais recente filme “Disappearance at Clifton Hill”, um thriller sobre um desaparecimento misterioso que irá acompanhar a personagem principal e que se torna numa espiral de acontecimentos.
O filme estreou no ano passado em aclamados festivais de cinema. Eu tive a oportunidade de fazer uma entrevista com este realizador, à distância, para nos falar de onde veio a inspiração para este filme e porque as Cataratas do Niagara são também uma personagem neste thriller.
Inspirou-se na sua própria experiência de viver num motel com os pais, perto das Cataratas do Niágara. Que elementos dessa experiência incorporou no filme?
De facto, trouxe definitivamente para o filme muitas experiências directas e indirectas do tempo da minha família nas Cataratas do Niágara. A mais significativa foi todo o incidente incitante do filme, que envolve o possível rapto de um rapaz numa área isolada rio abaixo das Cataratas do Niágara. Isto foi na verdade inspirado pela minha própria experiência de ver o que eu pensava ser um rapto na altura, que reprimi durante muito tempo. Só muitos anos mais tarde é que comecei a contar a história às pessoas, apercebi-me das linhas entre o que realmente vi, o que penso ter visto, e a minha própria imaginação ficou muito desfocada. Com o tempo, a memória e a imaginação, esse acontecimento na minha vida tornou-se impossível de reconciliar e tornou-se a génese deste projecto. E para o filme, foi bastante surreal recriar uma versão do evento, no mesmo local onde me aconteceu.
O que acha que torna as Cataratas do Niágara um lugar tão interessante? Quase como uma personagem em si.
Bem, há uma convergência de factores que eu penso que torna as Cataratas do Niágara um lugar tão especificamente único. Em primeiro lugar, as próprias Cataratas do Niágara, que é grandioso, poderoso e verdadeiramente uma das grandes maravilhas naturais do mundo. No entanto, envolvendo este espectáculo majestoso está a sua cidade fronteiriça com o seu nome, armadilha turística pirosa de nome “Capital Mundial da Lua-de-mel” auto-proclamada. Esta dicotomia, que está no coração deste lugar peculiar, pareceu um terreno perfeito para um mistério noir que é tudo contradições e salão de espelhos. E sabe o que se diz, se o sapato servir.
Fico sempre muito intrigada com as histórias sobre o que uma personagem pensa que viu e depois vamos nesta viagem com eles para encontrar a verdade (como “Expiação” ou “A Rapariga no Comboio”) em que viagem deseja levar o seu público neste filme?
O filme foi muito propositadamente concebido como uma viagem subjectiva, esperando torná-lo mais palpável para o público como uma descida pela toca do coelho através dos olhos da nossa heroína, Abby. Os mistérios do cinema têm uma longa história de restringir a narrativa ao protagonista principal – vendo apenas o que vêem, sabendo apenas o que sabem. Filmes como “Chinatown”, “Janela Indiscreta” e “Memento” vêm-me à mente. É um dispositivo narrativo divertido de empregar, mas se bem feito, pode também tornar-se sub-textualmente um estudo de personagens, esperemos que não de forma artificial, o que foi tão importante para mim como os X e O do mistério.
Existem outros géneros que gostaria de explorar como escritor e cineasta?
Sim! Tento conscientemente desviar o olhar de qualquer género que acabei de abordar, em parte como uma forma de me manter atento, mas também, adoro todo o tipo de filmes. O filme que fiz antes do “Disappearance at Clifton Hill” era um “chamber drama” em língua coreana [“In Her Place”], lidando com adopções secretas e maternidade, por isso, sim, não podia estar mais longe deste filme. E espero que a próxima coisa que faça, seja igualmente um grande salto.
Faço esta pergunta a todos os realizadores que entrevisto: se alguém fizesse um filme sobre a sua vida, quem escolheria para o realizar e porquê?
Hm, grande pergunta. Sinto que a minha vida até este ponto tem sido bastante vulgar e resolutamente pouco cinemática. Contudo, se há um cineasta moderno que pode extrair drama e verdade fora do comum, torná-lo sublime e tocar a alma, é o mestre japonês, Hirokazu Kore-eda.
“Disappearance at Clifton Hill”, com Tuppence Middleton e David Cronenberg, estará brevemente disponível em VOD.