Há umas semanas escrevi uma crítica onde revisitei o filme “Showgirls“ e como este se tornou num clássico.
Para quem não está familiarizado, é um “carrossel de filme” que retrata a vida e ambição de um grupo de bailarinas de um show erótico num casino em Las Vegas. Mas hoje venho-vos falar do documentário que Jeffrey McHale fez sobre este “suposto” fracasso de bilheteiras. Sentámo-nos no Mayfair Hotel onde durante quase meia hora falámos entusiasticamente sobre as razões pelas quais adoramos este filme e porque é importante para nós. Mais uma vez vamos lá fazer as nossas unhas e fazer compras no “Versayce“.
Jeffrey McHale é um entusiasmo de pessoa! No momento em que me sento para conversarmos é num click que percebemos que somos “Showgirls” groupies. Eu tinha visto o seu filme no dia anterior numa sala quase lotada. O seu documentário tomou-me de surpresa quando me apercebi que ele não tinha feito um behind the scenes/making of mas antes uma perspectiva da audiência, de quem, tal como nós, tivesse viva a experiência deste filme e o que ele representa.
McHale leva-nos numa viagem através da vida da actriz que deu alma e corpo à personagem de Nomi Malone, ao realizador Paul Verhoeven, aos livros que publicaram sobre o filme, até ao musical criado numa produção off Broadway. É incrível como após anos este filme tem um cult following tão grande.
Vê também: Revisitar um Clássico – Porque “Showgirls” se tornou um filme de culto…
Perguntei a Jeffrey McHale o que o levou a fazer este documentário e o que este filme representa para ele:
“Eu sou um fã deste filme desde que o vi pela primeira vez. Vi-o dez anos depois de ter estreado e nessa altura já era um filme de culto para a comunidade Queer. Lembro-me de estar com um amigo e ele me dizer – o quê? Nunca viste? Tens que ver este filme imediatamente! – Então vimos o filme e a minha mente explodiu! É daqueles momentos em que vez os primeiros dez minutos e a tua mente explode. Eu pensei – este filme vai manter este ritmo? – e foi daquelas coisas que não consegues fabricar. ShowGirls não foi claramente feito a pensar na comunidade Queer mas tornou-se parte dela e isso é simplesmente mágico.”
Uma das partes que me emocionou neste documentario é quando mostram uma sessão especial ao ar livre do Showgirls em Los Angeles onde podemos ver a actriz Elizabeth Berkley (Nomi Malone) a subir ao palco para apresentar o filme. Ouve-se a energia dos fãs, centenas de pessoas presentes para assistir ao filme e à personagem icónica que ela criou. É incrível ver que o mesmo papel que à décadas lhe destruiu a carreira é o mesmo que acabou por ser tão acarinhado pelos fãs.
“Eu estava presente nessa sessão e senti exactamente isso. Estava sentado bem lá atrás e havia pessoas a acamparem ali. Podias sentir a energia a se aglomerar antes da Elizabeth Berkley ter pisado o palco e se virado para as câmaras. Foram minutos e minutos de uma ovação em pé. Foi incrível! O mais perto que vivi de uma experiência religiosa!”
Mas o que o fez levar a fazer este documentário?
“Foi esse momento. Fiquei curioso sobre o porquê deste filme ainda ser tão falado. Queria consumir tudo o que havia sobre o filme então colecionei tudo o que havia sobre ele, inclusive livros. Showgirls é completamente diferente de qualquer outro filme.”
A alma do filme e deste documentário é sem duvida a actriz Elizabeth Berkley e a sua Nomi Malone. A actriz que foi tão criticada e aquela cuja carreira foi destruída por simplesmente ter feito um papel e aquilo que o realizador lhe pediu. Foi apenas em 2015 que Paul Verhoeven veio a publico confessar que todo o over acting da actriz foi a pedido seu e que ela nunca deveria ter carregado toda a bad press nas costas.
“Sabes eu não consigo imaginar mais ninguém a fazer este papel. Não seria a mesma coisa. A olhar para trás e a ver todas aquelas criticas negativas é horrível ver o quanto ela foi apontada como o único problema do filme.”
Há mil e uma cenas neste filme que são ícones, mas eu quis muito saber qual era a cena preferia para Jeffrey McHale.
“As minhas cenas favoritas variam entre a cena de abertura onde ela apanha boleia e há todo aquele seguimento da navalha e ela a espetar a navalha no radio, quer dizer, todos os primeiros seis minutos do filme são um carrossel! Ela vomita, há quase um acidente de carro, ela ganha o jackpot, ela perde o jackpot. E depois a cena no restaurante e o Doggy Chow . É a joia da coroa! (risos)”
A minha pergunta final a qualquer realizador é sempre quem escolheriam para realizar um filme sobre a sua vida. A resposta de McHale não é uma surpresa:
“Boa pergunta! Definitivamente um realizador de documentários. Sempre fui um fã de cinema narrativo mas escolheria sem duvida que fosse um documentário.”
Muita desta entrevista foi uma troca de entusiasmo por Showgirls, do que mais gostamos, das citações que ainda hoje em dia são usadas. O seu documentário é mais do que um simples porquê-isto-aconteceu mas sim uma prova de como o publico e o tempo são os melhores críticos de cinema. Talvez o que mais importa é como um filme nos faz sentir, pensar, desejar, celebrar! No final da nossa entrevista, McHale ofereceu-me um crachá do infame vestido Versayce como uma espécie de condecoração por ser a maior fã do dia. Usei-o durante todo o London Film Festival com honra e muito orgulho.