É hoje, que estreamos o Let’s Talk um espaço que nos vai acompanhar durante muito tempo, um espaço que queremos que se torne épico, onde damos ao nosso público a possibilidade de conhecerem melhor variados artistas ligados ao cinema, desde atores a realizadores a sound designers e muitos outros.
Nesta 1ª edição, trazemos Tiago P. de Carvalho (realizador/ator) muitos devem conhecê-lo de Inspetor Max, e Hugo Pereira responsável pela criação de toda a parte sonora do filme Nirvana (realizado por Tiago P.Carvalho).
Começando por ti Tiago, o que te levou a realizar este filme, de onde é que surgiu esta ideia ?
– Foi sobretudo uma necessidade extrema de um grupo de pessoas apaixonadas pelo cinema, e profissionais do cinema, de criar uma obra que quebrasse o panorama português cinematográfico. Nessa altura, a tecnologia ofereceu-nos a oportunidade de investir em material que proporciona qualidade cinematográfica, e eu decidi pegar no guião que tinha escrito há vários anos atrás e fazer o filme sem qualquer apoio do Estado, uma vez que este, nunca nos apoiou e provavelmente nunca apoiou filmes que têm como maior foco, o respeito pelo espectador.
Qual a necessidade de falar em “Nirvana” de um grupo de “gangsters falhados” ?
– No fundo todos os filmes falam sobre um falhado. Uns, mais que outros mas, é sempre a história de alguém que está lutar por um objetivo que lhe é dificil alcançar. E quanto maior o desafio, mais interessante é o filme. Portanto quanto mais difíceis forem os obstáculos, e mais impotente for o herói, os espectadores têm mais necessidade e urgência em saber o que se vai passar nas cenas seguintes. Quando se trata de uma comédia, quanto mais falhados forem os personagens, mais caricatos, mais a comicidade da história funciona. E neste caso, cruzar o estereotipo do gangster mau e perigoso, com umas figuras falhadas e cobardolas, foi o instrumento de comicidade que usei para contar esta história.
Isto leva-nos a outra questão Tiago, porquê “Nirvana” ?
– Nirvana significa, de grosso modo, atingir um estado espiritual superior, e também uma destruição total. No sentido da aniquilação total de um ser, de maneira a construir outro. Uma espécie de baptismo. Neste filme, todos os personagens estão a lutar de uma maneira insana para chegar a um supra-objetivo, para atingir esse estado superior, que os satisfará de uma maneira orgásmica e os fará atingir o nirvana, cada um à sua maneira. Daí também o filme ser realizado de uma maneira alucinante, como se de uma viagem espiritual se tratasse. No fundo o que queremos oferecer ao espectador é uma out of the body experience. Ambição alta, eu sei…
No filme vemos algumas caras conhecidas da ficção e cinema nacional, foi uma decisão tua ?
– Sim. O primeiro critério foi conseguir os melhores atores para cada papel respetivo. Tendo sempre esse critério em prioridade, tentei conseguir algumas caras conhecidas, de maneira a facilitar a promoção de um filme sem financiamento, mas também conseguir proporcionar a esse atores, personagens que, eles nunca teriam oportunidade de interpretar, se não trabalhassem comigo. Por exemplo o Carlos Areia, nunca tinha trabalhado em cinema antes do Nirvana.
Bastante interessante essa questão do ator Carlos Areia, reparei que a certa altura do filme houve uma música, onde me pareceu ouvir e ser a voz do Toy a cantar um gênero de uma ópera, porquê o Toy ?
Existe muita gente a cantar ópera em Portugal. Mas seguindo mais uma vez o raciocínio da questão anterior, tenta-se que este género de aparições seja feita por alguém com algum mediatismo, e que o que estejam a fazer também crie mediatismo, seja pela que razão for. Neste caso é por termos um cantor a cantar um género de musical a que o público não está habituado. Eu conheço o Toy já há muitos anos, e sei que ele é grande cantor, com um talento inagualável, e também sei há muitos anos que ele é um grande amante de ópera e que gosta também de interpretar quando possivel. Portanto imediatamente pensei no Toy para interpretar o tema que passa no filme.
A receção dele ao convite foi também um sim automático, e foi bastante fácil agilizar as disponibilidades, até porque uma gravação de apenas um tema faz-se numa tarde. O resto da produção musical pode ser feita sem a presença do cantor.
Tenho bastante curiosidade em saber o sentimento por parte de um realizador ao saber que o seu filme está nos cinemas e que o pode ver diariamente ?
– Por um lado é um felicidade extrema, e uma sensação de satisfação muito gratificante. Fazer um filme pode ser tão complexo como fazer um edifício. Por outro lado, existe uma certa frustração pessoal porque, ao ter de fazer praticamente tudo, negociar a distribuição cinematográfica do filme, resolver problemas de pós-produção, e supervisionar tantas outras tarefas que, não dá para desfrutar dessa vitória de uma perspetiva mais distante, mais inocente talvez. E também porque ninguém ficou milionário. A minha vida, antes e depois da estreia do filme, não mudou drasticamente, como muita gente pensa.
Outra coisa bastante boa no filme é sem dúvida o “som”, e isso leva-me a outras questões agora ao Hugo Pereira (responsável pela banda sonora do filme), como encaraste este desafio, onde é que sentiste mais dificuldades ?
– Na primeira fase fiquei apenas responsável pela banda sonora que não apresentou desafios de maior relevância, pelo contrário todo o processo foi razoalvelmente facil. A musicalidade que o Tiago pretendia para o filme tinha no seu core a sonoridade de series policiais dos anos 80 e depois de algumas experiências com synths vintage que coleciono, surgiu o primeiro tema Alcacer Casino, e a partir dai conseguimos em conjunto acordar o desdobramento de esta melodia base para as diversas cargas dramáticas que o filme precisava de ter.
É a primeira vez que tens a experiência de trabalhar no filme que esteve nos cinemas ?
– Já participei em alguns filmes que estiveram em exibição em grandes salas no entanto fora do país onde resido e passo grande parte do tempo a trabalhar como músico e sound designer, em Portugal foi a primeira vez que um filme exibido nos cinemas teve a minha participação com imensa pena minha.
Eu tenho de admitir que gosto imenso dos teus trabalhos e não estava informado relativamente a isso, e isso leva-me a questionar o Tiago.
Tiago gostavas de ver o “Nirvana” a ser exibido internacionalmente ?
– Claro! Eu acredito que qualquer artista, que crie uma obra para mostrar a outras pessoas, tem vontade que essa obra seja testemunhada pelo número máximo de pessoas, independentemente da sua cor ou nação.
Para terminarmos esta entrevista, Tiago fala-me de projetos futuros, quero saber tudo, revela-me que futuros projetos tens em mente ?
– Estou a preparar vários projetos ao mesmo tempo. Infelizmente neste país não há financiadores, nem sponsors que apoiem os cineastas a preparar novos projetos. Portanto o processo é demoroso porque ando ocupadíssimo com outras produções, as quais me é impossivel recusar. Poderá valer a pena revelar que estou a preparar as condições necessárias para fazer 2 episódios de duas sérias televisivas. Uma de ação e comédia, e outra de ação e drama, dentro do género do The Wire. Além disso estou em contacto com produtoras nos EUA que estão interessadas num guião que escrevi totalmente em Inglês, baseado em factos verídicos. Chama-se The Fear Session e podem saber mais em no nosso site.
Obrigado Tiago P. Carvalho e Hugo Pereira e vocês já sabem, se quiserem saber mais sobre os novos projetos do Tiago sigam a Guerrilha Films no facebook (clicando aqui), e visitem o site (clicando aqui).