A realizadora de “A Domadora de Baleias” apresenta o mais recente remake live-action da Disney, “Mulan”, que devido à pandemia já não vai estrear nos cinemas em quase todo o mundo.
Em Portugal só chega gratuitamente em Dezembro à Disney+, mas no Reino Unido já está disponível por um custo acrescentado.
A Disney é sem dúvida uma das marcas de maior impacto do cinema atual. Através de sagas como o MCU, Star Wars, Pixar e os próprios filmes Disney, torna-se díficil de imaginar outro estúdio que consiga ter o mesmo nível de sucesso monetário que este estúdio tem.
Assim sendo temos mais um filme, que caso tivesse sido lançado nos cinemas poderia ter chegado à famosa marca de mil milhões de dólares já tão bem estimada pelo estúdio. Porém, devido ao clima atual em que vivemos o filme acabou por ser lançado através do serviço de streaming Disney+ no qual é bastante improvável que o filme lucre tanto como no cinema. Ainda assim, o filme está disponível (4 de dezembro, em Portugal) e finalmente podemos falar sobre a nova versão da personagem Mulan.
Confesso que antes de ver esta nova versão de “Mulan” já mal me recordava do original. Não o cheguei a rever mas lembro-me do conceito geral da história original e lembro-me de gostar imenso do filme quando era mais novo. No que toca aos live-actions da Disney a minha opinião está um pouco dividida.
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Se por um lado acho que existem excelentes acertos como é o caso de “Cinderella” (Brannagh,K. 2015) e “O Livro da Selva” (Favrea,J. 2016), por outro, obras como “The Lion King” (Favreau,J. 2019) ou “A Bela e o Monstro” (Condon, B. 2017), apesar de divertidas estão longe de captar a essência do original. Porém, são filmes sempre bem atuados e de um calibre visual impecável. No que toca a “Mulan” acho que o filme cai no meio deste espectro.
O filme realizado por Niki Caro e protagonizado por Liu Yifei toma um caminho diferente da versão original. Sim, o começo é semelhante, tal como no original “Mulan”, o imperador chinês decreta que um homem de cada família deve alistar-se ao exército para salvar o império numa guerra vindoura. Desta forma, Mulan alista-se pelo seu pai cuja avançada idade o colocaria numa posição difícil de lutar. Contudo, o exército não permite mulheres, por isso Mulan finge ser um rapaz e esconde a sua identidade para se poder juntar ao exército.
O conceito base está lá, porém esta nova abordagem é bastante diferente no sentido em que em contraste com os restantes remakes, este filme despe-se dos números musicais e evita algumas personagens para nos apresentar uma história um tanto mais adulta.
Tenho a dizer que não senti falta de nenhum dos elementos retirados do original e sou bem vindo à mudança já que boa parte destes remakes seguem os filmes originais quase por completo. Neste caso a mudança veio cheia de boas ideias com potencial para entregar o melhor remake da Disney até hoje, porém sinto que se perdeu em diversos aspetos.
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Comecemos pelos acertos. De novo, o tom adulto da história confere um peso interessante às personagens cujos atores interpretam de forma brilhante em especial a protagonista Liu Yifei que transborda de carisma e sensibilidade. A cinematografia é sem sombra de dúvida a mais bonita em qualquer um dos remakes da Disney e a banda sonora de Harry Gregson-Williams faz um excelente trabalho ao reinterpretar os temas do filme original através de instrumental.
Quase a entrar nos negativos, as cenas de ação são muito bem coreografadas, porém a edição torna-as um tanto frenéticas ao cortar em demasia e não deixar a imagem respirar o tempo suficiente para que emergisse na adrenalina da cena.
O argumento é sem dúvida algo que merecia muito mais trabalho. Se por um lado acho uma excelente ideia tentarem algo diferente com a personagem, por outro existem algumas mudanças que alteraram por completo a essência da Mulan original. Não sou apologista que não se possa mudar as personagens por completo, são filmes diferentes e histórias diferentes, porém neste caso mudaram a personagem para pior.
Esta mudança torna o progresso da protagonista muito mais fácil visto que a ferramenta para o sucesso do seu conflito está dentro dela desde sempre. Os vilões do filme apresentam um conceito interessante em contraparte com a protagonista mas têm pouquíssimo tempo de antena para sequer se sentir o peso da sua ameaça.
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O ritmo é sem duvida outra ponto negativo. A história, que merecia mais desenvolvimento iria com certeza beneficiar de mais meia hora de filme para que as emoções tanto da protagonista como dos antagonistas fosse enaltecida.
Posto desta forma parece que não gostei do filme, mas não, eu acho que é um filme interessante cujas ideias de uma história diferente e mais adultas que o original me mantinham interessado ainda que tivessem potencial para muito mais.
Com mais desenvolvimento acredito que este seria um dos, senão o melhor remake da Disney. Desta forma, acabamos com um filme com um argumento fraco, mas com excelentes perfomances, cinematografia e boas ideias. Não o melhor dos remakes da Disney mas está longe de ser o pior.
“Mulan” chega à Disney+ Portugal a 4 de Dezembro sem custos acrescentados. O Cinema Planet teve acesso ao filme através da Disney+ UK.