O Ano da Morte de Ricardo Reis | O fantasma agarra-se à vida

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“O Ano da Morte de Ricardo Reis” apresenta uma viagem imersiva ao mundo e mente do génio solitário Fernando Pessoa.

Uma adaptação da obra de José Saramago pelo realizador João Botelho, tem estreia marcada para 1 de outubro nos cinemas portugueses.

Trabalhada numa gestação inversa, a obra evoca Fernando Pessoa e Ricardo Reis aproveitando o facto de o poeta não ter deixado uma data de morte para o seu heterónimo. Para João Botelho, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” é “a luta contra o esquecimento, a afirmação da necessidade da leitura”.

Aliando a imaginação de Fernando Pessoa e a ousadia de Saramago, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” transporta os espectadores até ao ano de 1936, uma época assinalada por extremos políticos: o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler, o Estado Novo de Salazar e o deflagrar da Guerra Civil Espanhola.

O filme tem um tom significativamente político, devido ao momento ditatorial europeu, e sempre com a presença e vertente filosófica que caracteriza a escrita de Saramago.

Nesse ano tão demarcado, Fernando Pessoa, interpretado por Luís Lima Barreto, e Ricardo Reis, ‘vestido’ pelo brasileiro Chico Diaz, são dois “observadores”, aos quais se juntam duas mulheres: Lídia, papel genuinamente desempenhado por Catarina Wallenstein, e Marcenda, personagem de Victoria Guerra, com grandes diálogos em cena de primeiríssimo plano.

Tanto Luís Lima Barreto como Chico Diaz imprimem nas suas personagens um distinto estilo, voz e rosto. Por outro lado, os encontros com Lídia e Marcenda têm um tom subversivo e enigmático, que nos leva a certo ponto a vê-las como símbolos diferentes de amor, o emocional e o físico, por exemplo. Encontros onde a linguagem é extremamente rica em componentes filosóficas sobre as paixões platónicas, carnais e impossíveis de Ricardo Reis.

O filme é apresentado na sua maioria a preto e branco, uma opção do cineasta para trazer maior representatividade ao romance de Saramago. Isto leva a uma certa “estranheza” no início, que rapidamente se ultrapassa à medida que o filme prossegue e nele ficamos mais imergidos. Algo também ajudado pela banda-sonora do pianista Daniel Bernardes, que nos entrega um grande trabalho que nos faz recuar à época passada.

A adaptação da obra ao cinema é “mais ou menos rigorosa” e o texto assume-se como “a coisa mais importante do filme”, como referiu o cineasta João Botelho.

Há cenas que nos prendem, como quando Ricardo Reis regressa a Portugal e é perseguido e interrogado, deixando-nos a sensação de querer saber quem são as pessoas que o perseguem. O filme também nos transporta para uma grande utopia política, como se toda a população tivesse de repente a lucidez de votar em branco na próxima eleição.

Um prato cheio para fãs da literatura e do cinema, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” estreou a 1 de Outubro.

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