Muitos são os filmes em que se representa a tecnologia como um monstro dantesco, que irá destruir a Humanidade. Em “Pesquisa Obsessiva”, Aneesh Chaganty tenta demonstrar que a ligação entre Tecnologia e Humanos é mais benéfica do que parece.
“Pesquisa Obsessiva” conta-nos uma história muito recorrente no cinema. David Kim (John Cho), um pai viúvo perde o paradeiro da sua filha Margot (Michelle La), depois desta sair de uma noite de estudo na casa de uma amiga. Com a ajuda da detective Vick (Debra Messing), o pai desesperado tenta descobrir o que aconteceu à sua filha através dos meios tecnológicos ao seu alcance, desde redes sociais a imagens de vídeo-vigilância.
O que distingue “Pesquisa Obsessiva” dos outros filmes de investigação criminal é o facto deste caso decorrer todo através da lente de dispositivos tecnológicos, seja computador ou smartphone. Outrora já vimos filmes de terror medíocres, como o caso de “Unfriended”, e até mesmo um episódio da série televisiva “Uma Família Muito Moderna” a utilizar esta técnica de storytelling. No entanto, nenhuma das anteriores tentativas conseguiu realizar com tanta eficiência como neste caso.
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Grande parte do sucesso desta narrativa deve-se ao seu argumento, que está intrinsecamente bem escrito. Desde uma montagem inicial deveras emocionante, ao estilo de “Up – Altamente”, até ao seu explosivo final, leva-nos por entre voltas e reviravoltas que nos prenderá ao assento ao longo do seus 100 minutos. Ficamos investidos nesta família e em desvendar o caso desde o primeiro momento. O argumento, apesar da sua pequena dimensão, consegue puxar todos os cordelinhos emocionais que nos farão envolver profundamente na história.
Porém, toda a carga emocional advém das performances dos actores. Neste caso, o peso do filme recai na sua totalidade sobre John Cho, que nos oferece provavelmente a melhor performance da sua carreira. Todas as personagens são subtis e naturais, bem desenvolvidas, com caráter próprio, traduzindo-se assim numa sensação intensa de realismo.
Este realismo apenas é cortado pela banda sonora, que serve para pontuar certos momentos intensos do enredo. Apesar desta ser esporádica e simplista, roça o exacerbante e o desnecessário, servindo apenas para nos retirar a camada de crença de que estamos a presenciar algo que realmente tivesse ocorrido.
“Pesquisa Obsessiva” aproveita ainda para realizar algumas críticas à nossa sociedade. Quando o caso do desaparecimento se torna público, muitos opinam, por escrito ou por vídeo, sobre o caso em questão… Mesmo que não estivessem por dentro do assunto. Milhares são as vezes que já presenciámos isto ocorrer (ou que até mesmo nós o fizemos). O argumento serve aqui como uma lupa que aumenta a arrogância e o egocentrismo humano. Dá-nos uma nova perspectiva sobre algo tão humanamente natural como dar a nossa opinião, assim como as consequências desse acto.
De um modo simples, “Pesquisa Obsessiva” é um excelente filme. Curto e direto, tanto consegue emocionar a audiência, bem como fazê-la reflectir sobre a nossa sociedade. Certamente o melhor exemplo do que se poderá realizar apenas utilizando dispositivos e plataformas digitais. Um diamante em bruto que merece mais reconhecimento.