Depois de ter feito um brilharete no festival TIFF, “A Plataforma” chega agora à Netflix, prometendo ser o filme espanhol do ano.
Neste momento de quarentena e clausura nos nossos lares, muitos de nós têm de se agarrar aos serviços de streaming para nos mantermos sãos. Portanto, deambulamos muitas das vezes pelo catálogo da Netflix sem saber bem o que escolher.
Pois bem, esta semana a Netflix ofereceu-nos um filme que foge dos padrões e parâmetros hollywoodescos e que promete vir a causar impacto e falatório entre quem o vê. Esse filme dá-se pelo nome de “A Plataforma” – ou “El Hoyo” na versão original.
“A Plataforma” é uma das apostas do cinema espanhol deste ano. Realizado por Galder Gaztelu-Urrutia, conta-nos a história de uma prisão vertical, com com vários níveis e duas pessoas presas em cada nível. No centro, uma plataforma com comida vai descendo de nível para nível e os prisioneiros de baixo comem os restos dos níveis superiores.
Nesta prisão, seguimos os passos de Goreng (Ivan Massagué), um recém-chegado à prisão que vai descobrindo como esta funciona e o que deve ser feito para existir uma boa distribuição de comida por todos.
“A Plataforma” apresenta um conceito bastante interessante, actual e que apela a uma discussão acesa por parte dos espectadores. Não fechando os olhos aos horrores que os prisioneiros têm de enfrentar, o filme não se impede de mostrar a violência física e mental que estes têm de ultrapassar para poder sobreviver.
Com interpretações competentes e uma realização exemplar, “A Plataforma” agarra-nos do início ao fim e leva-nos numa viagem a uma ideia que serve de espelho à nossa sociedade.
O filme não está tão preocupado em desenvolver personagens nem em oferecer uma viagem de protagonista fora do comum. Tem sim como missão fazer passar a sua mensagem, através desta alegoria elaborada e cuidadosamente estudada para conseguir tapar todos os buracos que poderiam defraudar a sua ideia.
Muita desta mensagem é-nos transmitida por exposição narrativa que, apesar de ser necessária para percebermos a envolvente que rodeia o nosso protagonista, é, em partes, excessiva, porque quer sempre dar a mão ao espectador para este não se perder, não se chegando a aperceber-se que o argumento é bastante claro desde o início da sua mensagem.
Porém, não estou de maneira nenhuma a descurar a importância do que “A Plataforma” nos está a dizer. É de facto bastante relevante, actual e imperativo que a mensagem seja retida e discutida em sociedade. E “A Plataforma” trabalha bem os seus 94 minutos para chocar e impactar o espectador para o que nos está a alertar.
Portanto, “A Plataforma” torna-se um caso pertinente de cinema fora da língua inglesa que deve ser visto. Apesar de alguma superficialidade de personagens, demasiada exposição narrativa e alguns acontecimentos fisicamente impossíveis de acontecer, “A Plataforma” pretende causar alguma impressão no espectador e gerar conversa importante para os dias de hoje.
Nomeado aos Prémios Goya da Academia de Cinema de Espanha, o filme está disponível na Netflix desde 20 de Março.