Engane-se que acha que banir uma obra é coisa exclusiva de regimes ditatoriais ou de época de guerra. As razões recentes são mais bizarras, multiplicando as controvérsias sobre filmes “banidos”, tornando-os, frequentemente, “filmes de culto”.
Ao longo da História do cinema, governos, instituições nacionais ou grupos locais retiraram ou impediram a chegada à sala de cinema de centenas de filmes no Mundo inteiro. Pode parecer uma violação da liberdade de expressão do realizador, dos artistas e uma injustiça. Mas, em alguns casos, foram a justiça ou os próprios realizadores que impediram a divulgação do filme ou limitou o acesso ao público.
Casos Recentes
Só no último ano, 2017, vários filmes foram banidos dos mercados no Mundo inteiro. O filme Mulher Maravilha, protagonizado pela actriz Gal Gadot, que completou o seu serviço militar obrigatório em Israel, foi retirado de distribuição no Líbano, no Qatar e na Tunísia, assim como outros países da Liga Árabe, aplicando-se uma lei com décadas de boicote de qualquer produto israelita. Porém, o filme estará disponível em DVD.
O live-action da Disney, A Bela e o Monstro, foi banido no Kuwait e na Malásia por sugerir conteúdos homossexuais. A personagem LeFou foi descrita como sendo homossexual pela Disney, o que gerou alguma controvérsia pouco antes da sua estreia.
O enorme sucesso de bilheteira, a trilogia Cinquenta Sombras, foi totalmente banida no Cambodja, na Indonésia, no Quénia, na Malásia, nos Emirados Árabes Unidos e no Zimbábue, por retratar “o uso insano e doentio de violência durante relações sexuais”.
“Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick
A obra-prima de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica, retrata uma violação, brutalidade, e extrema violência num Reino Unido futurista. Este filme segue Alex DeLarge, um psicopata, o seu caminho criminoso e terapia. Saiu no Reino Unido em 1971, quando rebentou a controvérsia sobre a inútil violência retratada.
Rapidamente, a imprensa britânica começou a relatar notícias de “cópias reais” de crimes inspirados no filme. O próprio Kubrick limitou os visionamentos. Porém, em 1973, uma rapariga holandesa foi violada por um homem cantarolando “Singin’ in the Rain” tal como DeLarge. Tal obrigou Kubrick a cortar 30 segundos do filme para ser requalificado como violento. O filme foi banido do mercado da África do Sul por treze anos, do Reino Unido e Irlanda por 27 anos, por 30 anos em Singapura e Coreia do Norte.
“O Exorcista” de William Friedkin
Por outras razões, mas na mesma altura, no Reino Unido foi banida outra obra cinematográfica de referência. Em 1973, estreou nos cinemas o clássico dos filmes de terror, O Exorcista. Foi banido por 11 anos dos cinemas britânicos devido à sua natureza perturbadora.
Apesar de ter sido catalogado com o equivalente à “bolinha vermelha” e tivesse chegado aos cinemas, foi retirado e não passou para VHS por potencialmente poder ser visto por jovens para os quais foi considerado inapropriado. Em 2010, a versão em DVD foi comercializada por se entender que os mais jovens percebiam agora o que eram efeitos especiais, não sendo afetados pelo filme da mesma forma.
“E.T. – O Extra Terrestre” de Steven Spielberg
E.T. – O Extraterrestre (sim, esse mesmo!) foi um enorme sucesso de bilheteira em todo o Mundo. Porém, foi limitada a idade de visionamento na Noruega, Finlândia e Suécia. As autoridades responsáveis consideraram que o filme retratava os adultos como o inimigo das crianças. A idade limite na Finlândia era de oito anos, e de 12 na Noruega e na Suécia.
“Hillary: O Filme” de Alan Peterson
Em 2008, Hillary: O Filme foi produzido pela Citizens United, uma organização não-governamental conservadora com uma perspectiva crítica quanto à candidata às eleições presidenciais de 2008, Hillary Rodham Clinton. O filme retrata Hillary Clinton usando vídeos de arquivo conjuntamente com dezenas de entrevistas, artigos e relatos da sua vida até 2008.
A Comissão Federal de Eleições (FEC) baniu o filme até ao final das eleições, fundamentando que o filme quebrou as regras de financiamento de campanhas eleitorais, considerando que iria servir para recolher fundos de campanha para candidatos republicanos. A questão foi levada até ao Supremo Tribunal, onde foi levantada a questão da liberdade de expressão. Em 2010, foi dado razão à Citizens United.
“Uma Entrevista de Loucos” de Seth Rogan e Evan Goldberg
O filme cómico The Interview, com Seth Rogan e James Franco, segue a visita satírica deles à Coreia do Norte. Apesar de pretender fazer o público rir, retrata a contratação destas duas personagens para assassinar Kim Jong Un, líder da Coreia do Norte. Este país, previsivelmente, não achou graça. Considerou que promovia violência contra o seu país, banindo-o do seu mercado.
A reação do resto do Mundo foi mais surpreendente, apesar de não ter chegado a muitos cinemas acabou por ser “pedido” pela produtora Sony que fosse retirado do mercado por receio de “incomodar” a Coreia do Norte, limitando-se à Internet. Nos Estados Unidos foi rapidamente limitado à Internet, sendo que muitos cinemas cancelaram o lançamento com receio de represálias.
Entretanto por Portugal
Em Portugal, temos apenas a relatar dois filmes banidos oficialmente. Em 1970, Artigo 22 foi banido pelo governo de Marcelo Caetano por, oficialmente, uma cena retratar um homem sentado nu numa árvore. Porém, o facto do filme ridicularizar os militares também deve ter tido o seu impacto.
E, em 1972, O Último Tango em Paris, foi censurado pelo seu forte conteúdo sexual. Foi retirado oficialmente da censura em 1974.