Talking Points #1 – Netflix: Entre festivais e Óscares

No início de 2019 o Cinema Pla'net lança uma nova rubrica, um debate por mês sobre os acontecimentos que marcam a atualidade cinematográfica e televisiva.
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Netflix na corrida aos Óscares

Há vários anos que a Netflix tenta que os seus filmes sejam colocados no mesmo patamar das produções cinematográficas dos grandes estúdios de Hollywood. Mas quando múltiplas cadeias de cinema continuam a recusar a exibição dos seus filmes, a plataforma de streaming fez mira às nomeações aos Óscares.

No início, “Beasts of No Nation” ficou totalmente de fora da corrida. No ano seguinte, “Mudbound – As Lamas do Mississípi”, mesmo com nomeações em categorias como Atriz Secundária, Argumento Adaptado, Fotografia e Canção Original, não conseguiu a tão desejada nomeação de Melhor Filme. Durante os últimos meses de 2018 colocava-se a questão de “Roma” ser nomeado a Melhor Filme ou colocado de parte. Com 10 nomeações, três acabaram mesmo por se converter em prémios, apesar de ter perdido a categoria principal para “Green Book”. Mantém-se a questão: Será que a Netflix consegue alcançar o Óscar de Melhor Filme?

Surge ainda outra questão: Será que os filmes da Netflix, maioritariamente vistos em casa, devem entrar na corrida aos Óscares? “Roma” foi uma exceção e teve direito a estrear em alguns cinemas até 3 semanas antes de chegar à plataforma (em Portugal estreou na véspera). Mas a grande maioria dos filmes ficam apenas em algumas salas com os lugares comprados a priori pela própria Netflix aos donos dos cinemas, durante 1 semana, unicamente para poderem candidatar-se aos prémios de cinema.

DP: Bem, a verdade é que a Netflix é o efeito directo da globalização do cinema. Mais fácil e mais barato para quem vê. E talvez consiga chegar a mais pessoas e dar oportunidade a argumentos e realizadores que nunca veriam a luz do dia em Hollywood. A mim não me incomoda nada eles poderem concorrer aos Óscares. Arte é arte, seja em que forma for. Aliás, as séries da Netflix são elegíveis para os Emmy Awards portanto não vejo problema. Esta é a minha opinião pessoal. Agora saindo um pouco da utopia, um filme que não passa pelas telas de cinema ser incluído na corrida dos Óscares é uma barreira que, não tenho dúvidas, vai ser ultrapassada. Mas é esperar para ver. Um filme deve ser avaliado pela sua qualidade.

JB: Hoje em dia, a Netflix ainda é vista como o contentor das grandes produtoras que não vêem um futuro de sucesso de bilheteira para alguns dos seus filmes (Cloverfield Paradox) ou para projetos que nenhuma grande produtora quer porque não vê grande potencialidade monetária no mesmo (como o caso do The Irishman, com orçamento de 100M$, do Scorsese). Por esse motivo, Hollywood não tem considerado os filmes da Netflix como viáveis. Porém, penso que este seja apenas o passo inicial para a Netflix, para atrair mercado para os seus filmes. Daqui para a frente, considero que se torne uma plataforma para distribuir de forma fácil excelentes filmes, com grande potencial artístico e para concorrer a prémios, que tenham uma grande dificuldade em atingir sucesso em bilheteiras (como por exemplo o caso de “Roma” – é rara a pessoa que hoje em dia vá ao cinema ver um filme estrangeiro a preto e branco). Para além de “Roma” ainda não vi nenhum filme da Netflix que merecesse o reconhecimento como melhor filme do ano. Mas acho que deveríamos estar abertos para abraçar tal possibilidade e considerar a potencialidade da Netflix e afins para um futuro próximo.

MR: Sinceramente não sei bem o que pensar. Os filmes são filmes, uns melhores outros piores consoante os gostos de cada um, mas são sempre filmes. O problema é que ao dividirem, por vezes de forma duvidosa, os filmes de cinema para os Óscares e os filmes de televisão para os Emmys, acabam por deixar os filmes de streaming num limbo.

BM: Hoje o cinema não é apenas no cinema, é igualmente nas plataformas streaming que vieram dinamizar este mercado e muitas vezes chegando a mais pessoas. Sendo filmes com bastante qualidade, muitos até sendo grandes sucessos, acho que deveriam concorrer aos Óscares.

Netflix

CS: Bem, tendo em conta o contexto dos Óscares, acho contraproducente as produções da Netflix terem sequer ambições de ir a concurso. Ou seja, para mim resume-se mais a manter a independência do que ganhar prémios que estão vocacionados para as massas. Para mim, é irrelevante este tipo de prémios mas, eventualmente, passarão a estar em pé de igualdade tendo em conta a tendência crescente do streaming e de as pessoas já não frequentarem tanto as salas de cinema.

JLS: É um tema complicado. Só para introduzir, não sou nem pretendo vir a ser consumidor da Netflix, mas não considero a sua existência algo negativo, porque permite às pessoas consumirem cinema (e tv) de forma mais barata. Nem todos têm a possibilidade de ir ao cinema, por isso é uma alternativa que é sempre bem vinda. Por um lado, um filme não deixa de ser um filme por não ser lançado no cinema. Mas também há filmes de TV, filmes feitos diretamente para sair em DVD… Estes como é óbvio, não se comparam a nível de orçamento com os filmes da Netflix, mas a Academia tem a liberdade, e está no seu direito, de estipular os critérios que bem entender para a atribuição dos seus prémios. Se entenderem que filmes que não passam nas salas de cinema (ou que passam só como pró-forma) não devem ser considerados, pronto, cada pessoa terá a sua opinião acerca da decisão mas isso não lhes tira liberdade. Nem individualidade. Mas pelos vistos não é totalmente o caso. Só peço que sejam coerentes. Olhando para a coisa de outra perspetiva, se os filmes da Netflix não ”encaixam” nos Óscares, encaixam onde? Nos Emmys, como produções de TV? Há pelo menos uma categoria que supostamente premeia produções originais, chamada ”Outstanding TV Movie”, mas quem domina as nomeações e as vitórias são especiais de séries como ‘Sherlock’ ou ‘Black Mirror’. Claro que, tal como a outra Academia, a Academia de Televisão também é livre de ter os critérios que quiser. Mas acho até desrespeitoso colocar especiais de séries e filmes no mesmo saco, tanto para uns como para outros. O ideal seria a categoria desdobrar-se em duas.

RF: Concordo que os filmes da Netflix deveriam concorrer aos Óscares. Se um filme for merecedor de tal nomeação, penso que isso deveria acontecer. Quanto à probabilidade de receber o Óscar de Melhor Filme, penso que com o passar dos anos e o alargamento de mentalidades, isso possa de facto acontecer, embora ache que não seja para já. Pelo simples facto de ainda ser um tema algo polémico, as pessoas ainda não terem as suas ideias bem esclarecidas e, por fim, porque isto não deixa de ser um negócio e há muitos interesses por trás.

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