Para sua primeira aventura em longas-metragens, Alan Yang dedicou-se de corpo e alma para contar uma história íntima neste “Tigertail”.
“O mais pessoal é o mais criativo” – Esta foi a frase mais memorável que Bong Joon Ho disse no seu discurso a receber o Óscar de Melhor Realizador, em 2020, sendo também uma forma carinhosa de homenagear Martin Scorsese.
Pois bem, Alan Yang agarra com unhas e dentes este conselho oferece-nos “Tigertail”, uma carta aberta ao seu pai e à sua história como emigrante de Taiwan para a América, tal como uma justaposição social sobre os valores familiares de diferentes culturas.
“Tigertail” conta a história da vida de Grover, um rapaz que sonha atingir sucesso em terras americanas, desde rapaz nos campos de arroz a homem citadino. Contada repartidamente por 4 momentos específicos no tempo, vimos Grover já velho (Tzi Ma) a reflectir sobre as suas decisões e o que poderá fazer para alterar o seu futuro.
Numa sociedade a viver a 200 km´s à hora, Alan Yang pede-nos para nos sentarmos por apenas hora e meia no conforto do nosso sofá enquanto que, ponderadamente, nos vai contando uma história tão pessoal que se torna, ao mesmo tempo, universal. De uma forma ou de outra, “Tigertail” terá um cantinho com o qual nos identificamos.
Todos os momentos são importantes para a vida, das mais pequenas às mastodontes. Com uma calma irresistível, Yang vai nos envolvendo e deixando-nos descobrir aos poucos a vida de Grover e as lições que devemos tirar desta história. Com um enredo entrecortado entre passado e presente, a história mundana torna-se algo maior que a vida.
Esta narrativa quebrada é-nos ainda mais evidente pelas escolhas de fotografia de Yang – os momentos passados são gravados em filme, com um grão carismático e característico da época, enquanto que os momentos do presente são gravados de forma digital, com uma cor menos vibrante.
Tudo o que “Tigertail” pretende é fazer-nos ver como a personalidade de uma pessoa é moldada pelo seu passado, mas que também nunca é tarde para mudarmos e nos adaptarmos a situações que requerem uma outra faceta nossa. Como um poema, a história repete-se em momentos e pequenos detalhes, rimando passado e presente entre si. Tudo acompanhado por uma belíssima banda-sonora, com violinos e pianos que nos transporta para os sapatos do protagonista.
Claro que, com um filme tão subtil e sóbrio no seu desenrolar, “Tigertail” pede paciência e envolvimento emocional por parte do espectador. Não será filme para infinitas repetições e se for para visualizar de forma passageira muitos espectadores que estiverem à espera de algo que os agarre imediatamente irão facilmente desligar-se.
Algo também interessante no filme é facto de oscilar entre mandarim e inglês, de acordo com as personagens presentes. Apesar de fiel ao contexto, algumas das performances saem um pouco mais rígidas e robóticas, o que não favorece a história a ser contada.
“Tigertail” dá mais primazia aos momentos de silêncio, aos pequenos gestos e olhares do que a grandes declarações de amor. É certamente um filme que, para quem estiver disposto a fazer esta pequena viagem, tem o objectivo de oferecer um momento de reflexão ao espectador. Pela minha parte, objectivo cumprido.