Cinco anos depois do filme de terror canibal “Raw”, Julia Ducournau abraça em “Titane” outra história mais complicada de definir.
Agathe Rousselle e Vincent Lindon são os protagonistas do candidato de França aos Óscares.
Dividiu uma parte da crítica e certamente dividiu o público, mas “Titane” está aqui para ficar, como uma das propostas mais arrojadas a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Habituada a chocar o público, não fosse o caso de tanto “Raw” como “Titane” terem necessitado de ambulâncias à porta dos festivais, Julia Ducournau apresenta neste filme uma mulher em fuga dos seus pecados e quanto menos se souber sobre a história melhor (sem spoilers abaixo, mas quem preferir pode saltar os três próximos parágrafos).
Agathe Rousselle interpreta a protagonista Alexia, que em criança necessitou de uma operação de urgência onde lhe foram colocadas placas de titânio no cérebro e no corpo para que conseguisse sobreviver a um terrível acidente de carro.
Em jovem adulta, trabalha em salões de carros onde dança eroticamente em cima dos carros em exposição, atraindo olhares desejados e indesejados, que a levam a tomar uma decisão drástica e fugir em consequência disso.
Na busca de uma nova identidade, faz-se passar por um jovem desaparecido em criança e acaba por ser recebida pela personagem de Vincent Lindon, o chefe de uma caserna de bombeiros, que vai cuidar dela acreditando tratar-se do filho.
A transformação de ambas as personagens de Rousselle e Lindon é o centro emocional do filme, que apesar de todo o grotesco vai revelando a pouco e pouco um lado humano mais forte de resiliência e superação.
Quanto ao lado estético, esse está impecável, sem falhas. A direção de fotografia, a banda sonora, a montagem, a caracterização, o guarda-roupa, a direção artística, a mistura de som… tudo funciona ao melhor nível para proporcionar uma experiência visual de grande qualidade, num caminho que passa tanto por David Cronenberg e Quentin Tarantino como por Nicolas Winding Refn e Leos Carax.
Ver também: Maligno, de James Wan | Ridículo, mas vale a pena ver para crer
Macabro, grotesco e nojento mas lindo e estranhamente emocional, “Titane” é um filme certamente difícil de ver e que funciona tanto a nível metafórico como literal, dependendo da interpretação de cada um.
“Titane” encontra-se em exibição nos cinemas.