“Topowa – Never Give Up” é o documentário que vai dar que falar ou, pelo menos deveria. Estreado no Reino Unido no Festival Raindance, esteve disponível entre 27 de outubro e 7 de novembro, entre visionamentos e sessões de perguntas e respostas.
Findo o festival, acabou mesmo por arrecadar o prémio para Melhor Documentário na categoria de Música e não é certamente por acaso que este apaixonante documentário ganhou a dianteira neste competitivo certame.
Contextualizando em linhas gerais, conta-nos a história de vida real de 12 jovens professores de música (metais) que ensinam outros jovens no enorme bairro de lata de Katwe, na capital do Uganda, no âmbito de um projeto chamado “Brass for Africa”, fundado há 10 anos pelo piloto britânico Jim Trott.
“Topowa – Never Give Up” é realizado por Philip Sansom, galardoado cineasta e fotógrafo cuja carreira se tem pautado por trabalhos em publicidade (anúncios) e documentários; na corealização encontra-se ainda o jornalista e cineasta Inigo Gilmore, com enorme experiência de trabalho no Médio Oriente, África e Ásia.
A verdade é que “Topowa – Never Give Up”, na sua estética, parece um pouco um videoclipe de música, cheio de estrelas e com uma linguagem muito mais visual do que com muito conteúdo expositivo. Poder-se-ia pensar que o resultado seria superficial e, embora, o pareça inicialmente, a verdade é que é um veículo fantástico para projetar as vidas daquele conjunto de jovens.
Focado em cada um deles individualmente, conta as suas histórias de forma resumida e muito voltada para a caraterização tipo estrela rock, cheio de poses e sorrisos, termos curtos, tudo muito voltado para uma compreensão rápida e concisa da vida daqueles homens e mulheres do futuro.
“Topowa – Never Give Up” é o documentário do futuro, daquilo em que as pessoas se podem tornar, embora descreva as míseras condições de vida na capital do Uganda, Kampala, concretamente no enorme bairro de lata de Katwe, onde a água potável é escassa, os esgotos proliferam pelas ruas e nas casas tudo falta.
É, pois, emocionante que todos sem exceção tenham estampada no rosto a maior das felicidades e esperança e é apenas nesse ponto que o documentário se centra, já que a maior parte do seu tempo é passada a explicar a preparação do grupo para ir até ao Reino Unido, ao Festival de Música de Cheltenham.
“Topowa – Never Give Up” é uma inspiração enorme, para além de um meio poderoso de divulgação de um projeto que ajuda a que muitos e muitos jovens e crianças provenientes de um lugar onde não há muitos recantos de esperança a possam ter.
É o retrato ainda de como a música pode verdadeiramente mudar o mundo e é muito reconfortante observar os pequenos a carregar os seus instrumentos até à escola, quando até muitas das ruas de Katwe são tão estreitas que fazer passar por lá uma tuba se torna tarefa complicada.
Inicialmente, poder-se-ia colocar em causa a linguagem um pouco superficial na descrição da vida real do dia-a-dia daqueles jovens, mas o seu objetivo não passa por ir de encontro ao óbvio e prefere apontar as suas baterias à transformação real que o projeto “Brass for Africa” lhes trouxe.
“Topowa – Never Give Up” é todo sobre futuro e esperança, conseguindo chamar a atenção para uma realidade de que muitos se podem esquecer ou mesmo desconhecer. A intensidade com que toda a gente se dedica a ensaiar e o espírito de unidade e quase irmandade com que se entregam à música é desarmante. No fim, todos torcem para que o grupo possa ir todo junto ao Reino Unido, mesmo que para alguns a obtenção do passaporte seja mais difícil do que para outros.
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“Topowa – Never Give Up” é emocionante, revigorante, não vem para fazer chorar ou deprimir, mesmo que se reconheça perfeitamente que a realidade que se encontra por detrás do documentário não seja das mais animadoras.
É um documentário todo feito de amor e entrega, de tal forma que perpassa para o espetador tanto a entrega da equipa na preparação e realização como dos próprios protagonistas, que escolhem os seus melhores lados e os seus melhores sonhos para brilhar neste que é o centro do seu melhor mundo.
Há ainda tempo para tocarem todos juntos no Reino Unido com a lenda norte-americana do jazz, Wynton Marsalis, ou para encontrar a trompetista britânica Alison Balsom e a saxofonista Jess Gillam, mas as verdadeiras estrelas são os outros 12 músicos.
“Topowa – Never Give Up” faz questão que os seus sonhos sejam colocados no centro do universo, focando ainda o modo como inspiram as vidas tantos dos mais pequenos que também já aprendem música, como também da restante comunidade e famílias em que se inserem.
“Topowa! – Never Give Up” estreia brevemente.