O filme “The Souvenir” protagonizado por Honor Swinton Byrne, Tom Burke (Guerra e Paz) e Tilda Swinton (Doutor Estranho) é o mais recente filme realizado por Joanna Hogg. A convite do BFI fui assistir a um screening especial do seu primeiro filme “Unrelated”, que mostrou que esta realizadora não deve passar despercebida.
“Unrelated” (2007) conta-nos a história de Anna, uma mulher nos seus quarenta anos que vai passar as férias de Verão com a familia de uma amiga de longa data. Tendo como cenário a bela paisagem de Siena Itália, Anna tem uma crise de meia idade que se vai desnivelando ao longo do filme. Joanna Hogg explora este tema de forma sensível mas quase desconfortável para a audiência.
Focando-se na personagem da Anna (Kathryn Worth) que se encontra numa fase delicada no seu casamento e procura refúgio na casa de férias de Verena (Mary Roscoe). À sua chegada Anna, que não tem filhos, acaba por se conectar mais com os jovens do que com os adultos mais perto da sua idade mas que têm vidas e experiências diferentes.
Com o passar dos dias Anna tenta ter uma ligação com o grupo de jovens, mais precisamente com Oakley (o ainda tão jovem Tom Hiddleston) que desperta nela mais do apenas interesse. Anna sente-se desejada por um homem muito mais novo e a sua auto-confiança cresce. Se há algo que aprendemos é que nada dura no Verão e Oakley acaba por rejeitar de forma passiva a atenção de Anna.
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O que mais me cativou foi a forma como Joanna Hogg explora a posição da mulher quando chega aos quarenta e não tem filhos. Anna vive no limbo, não se sente compreendida e aceite no núcleo de pessoas da sua idade ou mais velhas, mas também não é bem aceite no grupo dos mais novos. Hogg é fantástica a mostrar-nos isto quando coloca Anna a caminhar entre ambos os núcleos onde sentimos na pele a sua alienação. Há planos neste filme que são soberbos e que mostram uma maturidade incrível desta realizadora.
A ausência de banda sonora faz com que as cenas carreguem uma tensão quase anormal onde sentimos um desconforto terrível quando vemos o filme e parece que de repente entramos na cozinha de uma familia e somos obrigados a presenciar o drama que se está a passar. Das cenas mais brilhantes (são várias, mas escolho esta) é quando Hogg faz um plano da casa de férias, onde lá dentro há uma discussão entre pai e filho, e vemos cá fora o resto da familia ao pé da piscina. Nesse momento estamos ali, desconfortáveis a ouvir a discussão com o resto das pessoas e a desejar talvez que alguém nos viesse resgatar. Ou porque já vivemos a mesma situação ou porque não queremos de todo viver essa situação.
Recomento imenso verem “Unrelated”, o trabalho de Joanna Hogg e aconselho a fazerem uma maratona dos seus filmes. É tão satisfatório ver histórias no feminino e pelos olhos femininos. Esta realizadora ainda tem muito para mostrar e eu não poderia estar mais entusiasmada para ver o que ela nos irá trazer.