Com o lançamento de “Tenet” em formato físico e digital…
…chegou o momento para rever o novo filme de Christopher Nolan e analisar até à exaustão.
Esperado por muitos, seja fãs ou a própria indústria que via este filme como o seu salvador num momento de pandemia, “Tenet” chegou às salas de cinema com muita pompa e circunstância. Porém, devido à reacção ao filme não ter sido avassaladoramente positiva e ao estado actual do Mundo, não foi o sucesso nas bilheteiras como seria de se esperar.
Tendo-se gostado ou não do filme, todos os que viram o novo filme do aclamado realizador Christopher Nolan partilham uma opinião em comum – este “Tenet” é daqueles filmes que merecem repetidas visualizações.
Seja para apreciar a estética e a grandiosidade da acção ou para compreender melhor os conceitos por detrás da premissa (ou até mesmo a premissa em si), uma segunda ou terceiras visualizações ajudam o espectador a criar uma melhor ideia sobre o que realmente se passa em “Tenet”.
Imensos artigos de análise já foram realizados sobre o filme, e mais ainda serão feitos agora que este já está disponível em formato físico e digital para rever as vezes que quisermos.
Mas existe uma questão importante que considero que deva ser debatida – Qual é a mensagem de “Tenet”? Ou, mais concretamente, qual a mensagem que Nolan quer transmitir à sua audiência com este seu novo filme?
Para conseguir dar a minha opinião sobre este assunto, será necessária uma pequena recapitulação do filme. E sim, spoilers aproximam-se. Portanto, quem ainda não viu o filme, é melhor prosseguir caminho apenas quando o já tiver feito.
Os players neste jogo é o nosso Protagonista, interpretado por John David Washington, que, depois de uma missão-teste numa ópera, é colocado num jogo para salvar o mundo dos planos de Sator (Kenneth Branagh) um criminoso russo que é pago por gerações futuras para reunir peças de uma arma chamada Algoritmo e rebentar essa arma.
Ao explodir, essa bomba fará com que a entropia de todo o Mundo reverta, fazendo com que futuras gerações consigam causar um grande impacto no passado e, na visão deles, melhorar o futuro. Porém, na realidade, a explosão trará uma aniquilação total da Humanidade, algo que John David Washington tem a missão de impedir.
Para o ajudar nesta viagem tem Neil, um físico que sabe mais do que aparente interpretado por Robert Pattinson, e Kat (Elizabeth Debicki) a mulher de Sator que tem o desejo de expurgar este criminoso da sua vida.
“Tenet” é bem mais complexo do que isto, seja na sua estrutura ou no desenrolar do enredo. Porém, em linhas gerais, penso que estas sejam a base para compreender a ideia do filme.
Tudo isto converge numa confusão desenfreada de passado e futuro, com entropias invertidas e revertidas, de objectos e de pessoas, sendo complicado o espectador fazer algum sentido disto sem estar totalmente focado naquilo que está a ver. E manter a atenção a 100% durante 2 horas e 30 minutos não é tarefa fácil.
No meio disto tudo, qual é, portanto, a mensagem de “Tenet”? Para percebermos o que Nolan nos quer transmitir, temos de olhar para o plano de Sator e o porquê de tudo isto estar a ser levado a cabo.
Ver também: Tenet | O épico de espionagem de Christopher Nolan
Como já referido acima neste artigo, o vilão de Branagh está a ser pago por gerações futuras para encontrar as peças do Algoritmo no nosso presente, juntá-las e coloca-las em movimento. Ao accionar o Algoritmo, a entropia de todo o Mundo reverterá, fazendo com que as futuras gerações possam causar efeitos no nosso presente.
Mas porquê é que essas futuras gerações querem tanto mudar o nosso presente? Bem, perto do final, Sator explica isto mesmo ao Protagonista.
Enquanto Sator está no iate no Vietname, está a falar por telemóvel com o Protagonista que se encontra na Rússia a tentar impedir que o Algoritmo seja accionado, sendo que isso ocorrerá quando Sator se suicidar. Ao perguntar porquê é que Sator está a fazer isto, ele explica como fez um negócio com o Futuro – dinheiro em troca de tempo; o Futuro dava dinheiro a Sator e este providenciaria tempo ao Futuro.
Tempo este que o Futuro iria utilizar para construir um Mundo novo ao destruir o nosso Presente. Isto apenas na mente deles, porque na realidade eles não tinham provas suficientes que iria resultar desta forma. Mas eles estavam dispostos a tentar.
E, como a personagem de Branagh indica, este acto revolucionário e vontade de aniquilar o passado advém do facto de o mundo do Futuro estar inabitável, totalmente destruído. Como Sator diz: “(…) their oceans rose and their rivers ran dry” – as mudanças climatéricas tomaram proporções extremas a Terra tornou-se inacessível para sustentar Vida.
Assim, o Futuro recorreu a um megalómano que não tinha nada a perder (a informação de que ele estava a padecer de cancro é-nos fornecida no filme) para tomar a decisão de exterminar o Presente para conseguir melhorar o Futuro.
Até mesmo a decisão de como fará accionar o Algoritmo é completamente egocêntrica. A própria personagem explica que se ele não puder viver naquele Mundo, então mais ninguém poderá. Esta atitude egoísta serve de espelho para a nossas atitudes egoístas nos dias de hoje, sem qualquer consideração para as futuras gerações.
Apenas com mudanças drásticas no nosso Presente será possível tornar o Futuro um lugar melhor para viver. Tem de se agir agora para não termos consequências graves mais tarde.
Analisando bem todo o panorama, Nolan tem em “Tenet” uma mensagem ambiental para nós. No meio de tantas leis físicas e de conceitos desconcertantes, a mensagem final é bastante simples: alteração climática é real e temos de agir agora para conseguir tornar o Futuro da Humanidade um lugar bom, com as mesmas ou semelhantes condições que as nossas. Temos de retirar das nossas formas de viver o egoísmo e trabalharmos juntos para um Futuro promissor.
Esta é somente a minha interpretação relativamente a “Tenet”. Com certeza que haverá outras formas de ver o filme e de descodificar a mensagem de Nolan para nós. Mas considero que este seja um ponto de partida relevante e proeminente para se iniciar a conversa.
“Tenet” já chegou ao videoclube em Portugal.