Chegou finalmente aos cinemas o biopic das Doce, “Bem Bom”, após meses de adiamentos devido à pandemia.
“Bem Bom” aborda a ascensão das Doce desde a criação do grupo até à Eurovisão de 1982.
Depois de muitos anos a realizar telenovelas e séries de “Laços de Sangue” a “Conta-me Como Foi”, Patrícia Sequeira tem dedicado os últimos anos à realização de filmes, minisséries e telefilmes, sobretudo para a plataforma de streaming Opto.
Quando em 2015 se estreou no LEFFEST com “Jogo de Damas”, comédia dramática contemporânea sobre um grupo de amigas composto por Rita Blanco, Maria João Luís, Ana Padrão, Fátima Belo e Ana Nave, via-se a promessa de um bom cinema português mais moderno.
Tal promessa foi cumprida com o filme seguinte, “Snu”, que com uma estética visual e musical quase retrofuturista apresentava o romance fatídico entre a Snu Abecassis de Inês Castel Branco e o Francisco Sá Carneiro de Pedro Almendra.
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Mantendo-se no período do final dos anos ’70 / início dos anos ’80, temos agora “Bem Bom”, um filme bem musicado ao som das Doce, numa época de mudança de costumes em Portugal, sobre a ascensão da maior girlband da história da música portuguesa.
Composta por Fátima Padinha, Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo, aqui interpretadas respetivamente por Bárbara Branco, Lia Carvalho, Carolina Carvalho e Ana Marta Ferreira, as Doce formaram-se por insistência de Tozé Brito, num contrato com a PolyGram, um dos pesos pesados da indústria fonográfica internacional.
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Se já em “Snu” havia um cuidado com a recriação da época, em “Bem Bom” esse cuidado foi triplicado, com uma incrível atenção ao detalhe, das roupas aos penteados, mas também aos móveis e aos produtos da época.
De um ponto de vista visual o filme está impecável, bem como do ponto de vista sonoro, com as canções das Doce a pautarem os diversos momentos da vida do grupo, desde o êxito inicial de “Amanhã de Manhã”, passando pela performance demasiado arrojada para a época de “Ali Babá”, músicas como “É Demais” e “OK, KO” e por fim a chegada à Eurovisão com “Bem Bom”.
É do ponto de vista do argumento que nem sempre o filme flui normalmente. As quatro atrizes foram bem escolhidas e cada uma tem o seu momento para brilhar, mas tanto há cenas que resultam na perfeição pela veracidade e voracidade das palavras proferidas, como há outras em que os diálogos soam a algo mais artificial, retirando algum impacto a cenas que seriam mais fortes.
Por outro lado, sinto que é pena o filme ter acabado no preciso momento em que as Doce vão entrar em palco para atuar na Eurovisão. A sua atuação de “Bem Bom” perante a plateia estrangeira teria sido a sequência ideal para acabar o filme em alta. Neste caso a sua ausência é como se o “Bohemian Rhapsody” não tivesse tido a sequência do grande concerto Live Aid de 1985 no final do filme.
Não sei se foi por decisão artística ou por orçamento insuficiente, mas “Bem Bom” teria certamente beneficiado disso. Para um filme claramente focado na intimidade e camaradaria do grupo, fazia falta um ou outro momento com uma visão mais ampla do sucesso da banda.
“Bem Bom” estreou a 8 de Julho e vale a ida ao cinema!