Encontro-me no Mayfair Hotel onde aguardo a chegada do realizador/argumentista Kim Nguyen para nos sentarmos e conversarmos sobre o seu mais recente filme “The Hummingbird Project” que estreou nas salas portuguesas a 1 de maio.
Um filme arrojado que retrata o plano de dois primos Vincent (Jesse Eisenberg) e Anton (Alexander Skarsgård) que querem construir um túnel para fazer passar um cabo de microfibra para poderem poupar uns meros milissegundos e assim conseguir imenso dinheiro. Um filme que retrata bem a sociedade em que vivemos atualmente e o estado a que o capitalismo chegou.
Quando fiz a minha pesquisa sobre este filme encontrei uma entrevista que deste ao Hollywood Reporter e o que mais me interessou foi o facto desta história ser tão peculiar. O que te levou a contar esta história em particular?
Toda a gente me diz isso (risos) mas sabes, eu acho que a resposta está precisamente na tua pergunta. Todo o nosso sistema económico é bastante peculiar e é pela forma como este lida com as fortunas, que estamos a perder o nosso terreno – as pessoas, a classe-média e a classe operária, – e a peculiaridade deste filme é que é exactamente sobre a peculiaridade do mundo onde vivemos. Há aquela loucura de que neste preciso momento há pessoas que ganham de milhões a milhares de milhões em segundos através de transações na bolsa. É completamente irracional! Então o propósito deste filme é explorar esse lado mas também dar esperança.
Penso nos filmes que estão a sair recentemente como, por exemplo, “Sorry to Bother You” de Boots Riley, que falam sobre o que se está a passar actualmente. Nós enquanto audiência sentimos na pele as repercussões de um sistema que nos está a falhar. E o teu filme tenta captar essa sensação, dinheiro já. Resultados já. Sucesso já. Como te relacionas com este ritmo?
Eu sinto que estamos a trabalhar em mundos diferentes, dimensões diferentes no que diz respeito ao nosso relacionamento com o tempo. Eu acho que o filme retrata essa elasticidade do tempo de certa forma. Acho que temos imenso medo do tempo. E eu acho que muitas vezes não vemos as respostas que procuramos porque estamos a apressar para a próxima coisa e não estamos no presente, no momento. Soa um pouco a new age (risos).
Eu tenho vários amigos que são artistas ou empreendedores, e falamos de como, em relação ao sucesso, há 20 anos atrás seria algo que demorava o seu tempo a acontecer. Agora em cinco minutos alguém se torna famoso. Tu, enquanto artista, como te sentes em relação a isso?
Isso é muito interessante. Uma coisa que normalmente falamos é que há quem seja famoso por simplesmente ser famoso. É quase como se essa pessoa estivesse numa roda de hamster. Não consegues explicar porque isso é assim, mas é, e o mais provável é que não seja, mas parece ser. Eu ainda recentemente estava a falar também com amigos artistas e eles dizem que quase que se sentem na obrigação de se auto promoverem diariamente. Perdes imenso tempo, em que poderias estar a criar, para fazer isso. É de loucos! Mas há algo engraçado em relação à escrita e realização. Não consegues ser famoso por algo que escreveste ou por um filme que fizeste em cinco minutos. É experiência de uma vida. Podes estar no primor da tua escrita aos 55 ou 75 anos! Eu acho que isso leva muito tempo.
Este filme tem imensos pontos técnicos, como é que tu enquanto escritor, lidaste com essa parte?
Isso é uma óptima pergunta porque queres ter a certeza que os geeks que estão atentos não digam que algo não faz sentido ou que aquilo é ridículo. Mas ao mesmo tempo também não é assim tão importante. Os detalhes precisam de lá estar mas não são cruciais. É como quando estás a ver um episódio de Star Trek e os ouves a falar, não estás realmente atento aos pormenores mas gostas da música do diálogo e há palavras nessa música que tu sabes que são importantes. Na verdade não há uma fórmula para fazer isso resultar na perfeição.
Hoje em dia fala-se muito dos novos streaming services e de como isso afeta o cinema. Enquanto realizador, o que achas destas plataformas?
Eu acho que há coisas más e boas. Mas maioritariamente boas. Eu amei o filme “Roma” e tal como este filme, as pessoas escolhem histórias de forma democrática. Isto porque um filme como este nunca teria sido feito se a Netflix não lhe tivesse pegado. Estas plataformas dão essas oportunidades e isso é algo muito bom!
Se pudesses escolher um realizador para fazer um filme sobre a tua vida, quem escolherias e porquê?
(risos) Omg! Bom se quisesse que o filme fosse estranho acho que escolheria o David Lynch. Ele faria a minha vida bem mais interessante. Mas também podia escolher Francis Ford Coppola e pedia-lhe para aldrabar um pouco e tornar tudo mais profundo e arrojado.
E assim terminamos. Kim foi extremamente simpático, com bastante energia e perguntou-me de que país vinha. Quando falei de Portugal o realizador Morgan Neville, que se encontrava na mesa ao lado, juntou-se à nossa conversa (numa entrevista que vai sair em breve).