Melissa McCarthy e Richard E. Grant fazem um par perfeito neste drama biográfico “Memórias De Uma Falsificadora Literária” baseado na vida de Lee Israel, a autora que falsificou mais de 400 cartas.
A escritora Lee Israel ficou para a história, mas não pelos melhores motivos. Na década de 90, ao longo de três anos, decidiu falsificar mais de 400 cartas de celebridades, vendendo-as na qualidade de autênticas relíquias. “Can You Ever Forgive Me?” é o livro baseado na sua vida que posteriormente, deu origem ao filme com o mesmo nome. “Memórias De Uma Falsificadora Literária” conta com Melissa McCarthy no papel de Lee Israel. Ao seu lado tem um excelente ator, o notável Richard E. Grant. Grant interpreta Jack Hock, amigo da escritora que foi o cúmplice dela durante os seus actos criminosos.
O filme é um drama-crime-comédia que mostra a dupla McCarthy/Grant com uma química muito genuína. Os “piores momentos”, como a antipatia de Israel ou os comentários irónicos de Hock, ou até mesmo a cena com o gato, acabam por ser os momentos mais hilariantes.
Israel forjou imensas cartas para puder sobreviver. Os seus problemas financeiros, o bloqueio na escrita e um pouco de alcoól à mistura, fizeram-na vender muitos pertences, incluindo uma carta que recebeu de Katharine Hepburn. Ao perceber quanto dinheiro valiam estas cartas assinadas, começa a vida do crime. Dorothy Parker, Noël Coward e Ernest Hemingway foram só algumas das suas “vitimas”. Apesar de ser o seu cúmplice e amigo, foi Hock que acabou por fazer com que Israel caísse na própria desgraça.
Vê também: “Can You Keep a Secret?” – Um Segredo Para Esquecer
Após confessar tudo em tribunal, Israel não parece estar arrependida, mas diz que não voltará a beber. E palmas para McCarthy por ter tido esta brilhante e credível interpretação na cena do tribunal e posteriormente na cena do bar. O filme pode ser vagamente baseado na vida de Israel, mas a maneira como a história é contada prende o espectador ao ecrã. Não contem nenhum flashback, nem explicações, é apenas uma narrativa muito linear e focada nos objectivos de Israel: sobreviver enquanto artista e esconder o pânico de vender algo falsificado.
Tenho de reconhecer que a maquilhagem, o guarda-roupa e os cenários também estavam no ponto. Israel e Hock não seriam o tipo de amigos que todos queriamos ter. Mais palmas para a dupla de atores que conseguiu fazer com que o espectador conseguisse sentir repugnância e ao mesmo tempo pena.
Esta interpretação de McCarthy não podia estar mais fora dos registos da atriz. “Memórias De Uma Falsificadora Literária” dá-nos uma McCarthy muito séria, amante de gatos, com mau humor, anti-social e rude. Lee Israel foi inegavelmente um papel muito desafiante, mas valeu a pena. McCarthy arrecadou a sua segunda nomeação para os Óscares.
Grant também arrecadou uma nomeação, muito merecida. Quase que levava o Óscar, não fosse Mahershala Ali e a sua brilhante interpretação em Green Book a meter-se no caminho.
“Memórias De Uma Falsificadora Literária” contou ainda com a nomeação de Melhor Argumento Adaptado. O argumento foi de Nicole Holofcener e Jeff Whitty e a realização de Marielle Heller. Apesar de não ter tido a sua estreia no cinema, podemos ver o filme nos canais TV Cine. A próxima exibição será no TV Cine Emotions, 30 de abril às 00h30. Também está disponível no site a crítica ao filme mais recente da realizadora, ainda inédito em Portugal, “Um Amigo Extraordinário”.