Casey Affleck, um ator em crescendo, que consegue fazer esvair a sombra do seu irmão que o persegue, revelando versatilidade e engenho na forma de criar.
Casey Affleck é um ator norte-americano, de 42 anos, irmão mais novo do também ator Ben Affleck que, tal como este último, não se deixou ficar pela representação abraçando também a carreira de argumentista e realizador.
O ator nascido no Massachusetts, começou a sua carreira em 1988, com apenas 12 anos, no filme “Lemon Sky” e nunca mais parou. Para além de dar continuidade à sua carreira como ator, em 1999 juntou a isso o seu papel como argumentista, escrevendo, em conjunto com Matt Damon e Gus Van Sant, o argumento de “Gerry”. Mais tarde, em 2010, acrescentou ao seu currículo o papel de realizador com o falso documentário “I’m Still Here”.
Robert Ford em “O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford” (2007)
Personagem: Um homem que idolatra um gangster desde a sua infância e que faz de tudo para se integrar no seu grupo. Gradualmente, vai questionando os atos praticados pelo seu líder, colocando em dúvida os sentimentos que tem pelo gangster do Missouri.
É o primeiro filme cuja interpretação é verdadeiramente sincera e atinge grande credibilidade. É com o seu papel neste Western que começa a mostrar alguma maturidade e uma evolução em comparação com os seus desempenhos em filmes anteriores.
Seguindo uma linha muito ténue ao longo de todo o filme, é notória a seriedade com que cumpre o seu papel. Com uma personagem algo triste, fechada, tal como era a época em questão, não demonstrando as emoções ou até não as vivendo, ficando por esclarecer se a personagem esconde de facto as emoções ou se nem sequer as vive. Isto será a maior lacuna da personagem. É também ambígua a questão sobre se a personagem é mesmo, como o título do filme indica, um cobarde, ou pelo contrário, uma espécie de herói. Fica a cabo de cada um escolher qual a versão que pretende dar ao gangster do Missouri.
Casey Affleck ganhou com este desempenho a sua primeira nomeação ao Óscar de melhor ator secundário.
Realização: Andrew Dominik.
Patrick Kenzie em “Vista pela Última Vez” (2007)
Personagem: Um detetive que é contratado para investigar o desaparecimento de uma criança.
Neste filme o ator revela-se com uma personagem jovial, que vai crescendo ao longo do filme, aparentando sempre um estado de tranquilidade e serenidade. Transmite sempre, com esta personagem, um realismo subtil, conseguindo captar a atenção e o interesse.
Embora não acrescente nada de novo ao filme, para além do que lhe é pedido e exigido, também não compromete. Envolve a sua personagem numa atuação segura, sem nunca fugir da linha que apresenta e sem correr riscos. A forma como o filme está contado não ajuda muito, mas também não há da parte do ator o esforço necessário para conseguir elevar a personagem mais alto e conseguir o protagonismo que lhe era imperado.
Realização: Ben Affleck.
Tom Cooper em “Interstellar” (2014)
Personagem: Filho de um ex-piloto da NASA que vive um conflito com o pai por este embarcar numa longa viagem e o deixar só, apenas na companhia da sua irmã mais nova.
Com esta personagem, Affleck mostra claramente uma evolução em relação aos seus filmes anteriores. Mostra mais segurança, mais firmeza no que diz respeito à expressão dos sentimentos, revelando algum engenho na forma como transpõe as suas emoções.
Apesar de ter pouco impacto no filme, aproveita muito bem os momentos tornando-se não apenas mais uma personagem, mas pelo contrário, e tendo o papel de complementar o filme, consegue, com algum engenho, fazê-lo da melhor forma.
A atuação, não confundindo com a personagem, é sensivelmente mais pesada e mais densa, apesar do pouco tempo que lhe é dispensado, em comparação com as suas atuações anteriores.
Realização: Christopher Nolan.
Lee Chandler em “Manchester à Beira-mar” (2016)
Personagem: Um homem deprimido e solitário que é solicitado a cuidar do seu sobrinho adolescente depois do seu irmão ter morrido.
É neste filme que Casey Affleck atinge o climax das suas atuações. Conhecendo o ator e a forma como costuma dar vida às suas personagens, é claro dizer-se que quase não precisou de se adaptar a esta, e, podendo correr bem ou correr mal, neste caso corre da melhor forma, favorecendo e muito o ator e o seu desempenho.
Nunca sai daquilo que realmente é pedido. Revela um grande discernimento e conhecimento da personagem e de como a desenvolver. Tem uma atução extremamente segura, com a diferença de que não faz apenas aquilo o que lhe é pedido, como vai um pouco além, superando-se naquilo que é a suma melhor atuação. Resiliência, maturidade e compostura são requisitos que foi desenvolvendo ao longo da sua carreira e que, com esta personagem, os revela da melhor forma.
Lee Chandler consegue omitir as emoções e os sentimentos que vive, respeitando ao máximo a essência da personagem, que está feita, não para quase não os sentir, mas sim para os viver de uma forma calma, fria e um pouco distante.
Realização: Kenneth Lonergan.
Uma nota de apreço por “Gerry” (2002) e “I’m Still Here” (2010)
São duas criações do ator que demonstram alguma habilidade na procura e na descoberta de novas formas de fazer cinema e de apresentar as suas histórias e os seus filmes.
Escrevendo ambas as obras e assumindo a realização no falso documentário “I’m Still Here”, explora novas temáticas e novos meios para as apresentar, usando a criatividade. É claro o interesse e a vontade de ver para além do nevoeiro, de destapar o manto e descobrir algo novo.
Realização de “Gerry”: Gus Van Sant.
Realização de “I’m Still Here”: Casey Affleck.