Em 1979 estreava “Stalker”, um dos filmes mais aclamado do realizador russo Andrei Tarkovsky e aquele que, infelizmente, iria trazer o realizador mais perto da sua morte. Mas como?
Um professor, um escritor e um guia entram dentro de um bar. Este poderia ser um início promissor para uma anedota vulgar. Mas tratasse mais do início de “Stalker”, a obra mais reconhecida de Tarkovsky.
Numa data pouco específica, “Stalker” conta-nos a história de uma expedição de um escritor e de um professor, guiados por um stalker, a uma região no seu país afectada por um suposto meteorito. Fortemente barricada, os três homens terão de entrar clandestinamente neste sítio conhecido por a “Zona”, local onde supostamente existe uma sala que concretiza os desejos mais profundos a quem lá entrar.
Apesar de ser considerado um filme de ficção científica, este não é do género a que estamos habituados. Tarkovsky não estava interessado em fazer filmes de acção, em mostrar uma visão distópica irrealista da sociedade que nos rodeia.
Em vez disso, “Stalker” é um poema visual, onde não existem guerras nas estrelas, mas sim introspecções sobre o estado da arte, a vontade humana e o significado da vida. É uma implosão de reflexões que farão o espectador deambular pelos seus pensamentos durante muito tempo.
E, devido a isto e ao facto de como Tarkovsky abordou o argumento, “Stalker” torna-se um desafiante. Takes longos e demorados, diálogo filosóficos e uma edição de som igualmente importante para o desenrolar do enredo – tudo isto empacotado em 2 horas e 40 minutos que pretendem embeber-nos no filme, fazer-nos parte da expedição e não sermos meros espectadores.
Para aqueles que procuram um filme empolgante, recheado de acção e com uma edição revigorante. este não é, de todo, o filme para vocês.
“Stalker” é um filme único, bastante singular, sem preocupações em seguir tendências. Segue ao seu próprio ritmo – devagar, devagarinho – numa viagem de contemplações aos recantos mais profundos da psique dos seres humanos.
Por este motivo, o filme faz com que a sua duração pese no espectador. Tem o intuito de fazer com o espectador tenha um papel activo, que se envolve mental e emocionalmente em toda a duração da película. Isto é, de facto, desafiante e um motivo para muitos se desligarem facilmente.
A meu ver, um dos pouco defeitos que o filme tem é o facto de nós nunca termos a percepção completa de quão malévola é a Zona. Muito nos é dito de como esta altera a sua geografia de minuto a minuto, de como consegue matar os visitantes com mau espírito, mas nunca conseguimos ter uma ideia visual desta entidade. De resto, pouco mais há a apontar negativamente a este “Stalker”.
Como nota final, é de realçar que este é um filme fatídico para a equipa de produção. Ao que tudo indica, devido ao facto de terem de passar meses seguidos a gravar perto de fábricas russas abandonadas, a saúde da equipa foi afectada gravemente, sendo que muitos morreram mais tarde de cancro, incluindo o actor Anatoliy Solonitsyn, que fazia o papel do Escritor, e o próprio Tarkovsky.
É de fazer pensar que muitos dos envolvidos tenham morrido ao dar o corpo (literalmente) pela Arte. É para termos um vislumbre de até onde o ser humano é capaz de ir para conseguir realizar o seu desejo de criar arte. Será este um dos actos mais altruístas do Ser humano? O de criar Arte?