Guy Ritchie tem em “The Gentlemen” o filme que marca o seu regresso ao que o tão bem lançou no mundo do cinema, as comédias negras de ação.
“The Gentlemen”, que no título em portugal é-lhe acrescentado, “Senhores do Crime”, conta a história de um empresário norte-americano que construiu um império de droga, estritamente ligado ao cannabis, na cidade de Londres e que, apesar de altamente lucrativo, este tem o desejo de o vender, de forma a gozar a reforma tranquilamente.
Este é apenas o plot do filme que foi anunciado como sendo um regresso do realizador às origens. E, como um filme de Guy Ritchie que se preze, parte de uma ideia sólida, e que com o passar do tempo vai havendo reviravoltas constantes até ao último suspiro, ficando quem vê sem saber o que realmente se passou até aparecer o black screen e começarem a subir os créditos.
A narrativa é bem construída, muito bem suportada pelos inúmeros detalhes, sustentada também de forma brilhante pelas personagens extremamente bem conseguidas e pelas excelentes interpretações alcançadas pelos membros que compõem o elenco. E que elenco! Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, Hugh Grant, Michelle Dockery, Jeremy Strong e Colin Farrell, entre muitos outros.
McConaughey, igual a si mesmo, cheio de carisma, sempre muito seguro; Hunnam e Grant revelaram-se boas surpresas; Dockery e Strong, sempre muito consistentes; e por fim, Farrell, que superou, uma vez mais, com a ajuda do realizador, uma tarefa árdua: conseguir uma boa interpretação. Guy Ritchie consegue fazer com Colin Farrell o que apenas tinha sido conseguido por Yorgos Lanthimos nos seus dois últimos filmes, “A Lagosta” e “O Sacrifício de um Servo Sagrado”, arrancar um bom desempenho. Tal como nos outros filmes, em “The Gentlemen”, muito provavelmente fica a dever-se ao facto de não haver expressão, ou desta estar constantemente encoberta, seja pelos acessórios físicos, seja pela linguagem.
Muita ação com doses generosas de comédia, aliadas à fantástica montagem, fazem desta longa-metragem uma excelente obra. Divertido do início ao fim, “The Gentlemen” revela-se enérgico, vigoroso. O filme flui. Uma banda sonora forte, que acompanha a história como deve ser, uma montagem vertiginosa, uma fotografia eficaz, porém sem conseguir ser surpreendente, e uns efeitos especiais que revelam competência.
É certo que Guy Ritchie não inova com esta história de gangsters, mas consegue trazer pequenas coisas positivas, como por exemplo na forma como é contada. No início parece ser, como insiste na forma como quer que seja vista a personagem de Grant, quase como que um filme dentro de outro. Uma cena inicial longa, que é apresentada de forma lenta e ritmo baixo, que vai introduzindo os factos da tal história de gangsters. A partir daí o filme, alternadamente, vai apresentando um pacing rápido e lento. Coisa difícil de se fazer, e que Ritchie soube muito bem como, merecendo bastante crédito por isso.
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Uma outra característica dos filmes de Guy Ritchie que está bem presente em “The Gentlemen” é a linguagem usada, e, por conseguinte, o teor dos diálogos. Como uma boa comédia britânica, está repleto de humor negro. Esdrúxulos, muitos deles completamente inusitados, bizarros, os diálogos estão extremamente bem construídos, obtendo, juntamente com a interpretação dos atores, momentos de pura genialidade. Para além dos diálogos, uma boa comédia negra costuma ter também violência, e esta não foge à regra. Enxurradas de violência verbal e física, sempre de forma cómica.
E tudo o que vai aparecendo no filme, sejam eles pormenores da história, momentos cómicos ou personagens, é para acrescentar. Não há propriamente nada a mais, que destoe, que divirja do que está planeado. O filme consegue respeitar uma espécie de linha de pensamento, existindo um fio condutor que nunca foi quebrado.
Em suma, “The Gentlemen – Senhores do Crime” é um regresso, mais do que feliz, esperado e tremendamente bem consigo de Guy Ritchie às origens, com uma trama repleta de chantagens e conspirações. “The Gentlemen” pode definir-se como uma obra mirabolante, excêntrica, com momentos extravagantes e ao mesmo tempo absurdos que ao serem bem combinados dão um excelente resultado.