A temporada 2 de “The Mandalorian” chegou ao fim na Disney+ com algumas surpresas pelo caminho.
Nesta crítica é feito um apanhado do melhor e pior que estes 8 novos capítulos nos reservaram.
Já tinha saudades de acompanhar uma série semanalmente. Hoje em dia o modelo de Binge-Watching da Netflix e outros canais de streaming, ainda que nos entregue séries incríveis, por outro lado também nos oferece um consumo de conteúdo demasiado rápido. A série semanal, contudo, possui um tipo de vida diferente. A série mantém-se na boca do mundo e acaba por gerar uma conversa interessante e convidativa. Desta forma, os espetadores acabam por partilhar esta ansiedade semanal na qual teorizam o que irá acontecer no próximo episódio. Assim sendo, “The Mandalorian” traz de volta este sentido de uma série blockbuster de apelo coletivo, que nos permite teorizar semana a semana com a nossa malta, e ficar ansioso pelas novas aventuras.
A temporada mais uma vez reúne um grupo diverso de realizadores de calibre, desde Jon Favreau, a Peyton Reed e Robert Rodriguez, todos a trazer a sua voz para esta galáxia, muito, muito distante. E no que toca à realização e cinematografia, todos os episódios brilham. A ação é sem sombra de dúvidas muito bem filmada, e os efeitos especiais são do nível de um filme, algo já presente no primeiro ano da série, mas que é ainda mais evidente nesta temporada, desde as batalhas espaciais até uma sequência incrível gravada em IMAX com um dragão gigante. O valor de entretenimento da série é assim, inegável.
Ver também: “The Mandalorian” – Um novo caminho para Star Wars
[ATENÇÃO: Crítica com SPOILERS da 1ª e 2ª Temporadas]
A história e o argumento nesta temporada são um sabre de dois gumes. Se por um lado os pontos narrativos são muito interessantes por outro falta intimidade nas aventuras do Mandaloriano. A temporada final acabou com a promessa de que Din Djarin, o nosso protagonista, tem como sua missão principal devolver o Bebé Yoda à sua espécie, no caso aos Jedi. O conceito é muito interessante, e estava muito entusiasmado para ver como o laço sentimental entre o Mandalorian e o Bebé Yoda se iria desenvolver. Na primeira temporada penso que a série fez um bom trabalho em equilibrar o conceito de “aventura da semana” com a narrativa principal.
Mesmo nos episódios ditos filler, a caracterização bruta do protagonista era desenvolvida através do Bebé Yoda que o levava a demonstrar uma certa fragilidade e dessa forma evoluir para resolver o seu trauma para com os droides, e tornar-se uma pessoa que não se preocupa apenas consigo mesmo. Assim sendo, é esta relação quase de “pai e filho” que fez a série tão interessante para mim, e decerto que ela se mantém na segunda temporada, ainda que de forma muito vagarosa.
Não me interpretem mal, o Bebé Yoda é de facto muito fofo, mas fora isso, ele não fez quase nada a temporada toda. Durante a primeira metade desta temporada, a série parece uma tela para apresentar spin-offs de personagens já queridas para os fãs das séries de animação da saga. Se por um lado foi incrível ver personagens como Bo Katan, Ahsoka Tano e Boba Fett em live-action, por outro o desenvolvimento pessoal de Din Djarin para com elas era muito raso.
Todos os episódios são cheios de ação quase a tempo inteiro e torna-se a meu ver complicado de nos relacionar-mos com as personagens, sendo que a série não nos dá momentos mais íntimos com as mesmas à exceção de piadas desgastadas do Bebé Yoda a ser fofo ou a fazer asneiras.
Parte do problema é a duração dos episódios, cuja média de 30 minutos merecia certamente no mínimo 45 minutos por episódio. Tal como já mencionei, o meu problema com o argumento não são os pontos narrativos desta temporada, mas sim o ritmo e falta de intimidade.
Ver também: Mulher Maravilha 1984 | Nem todos os heróis usam capa
Afinal de contas todos os episódios tem a mesma estrutura, o Mando chega a um planeta e precisa de alguma coisa mas tem de ajudar alguém para conseguir uma nova pista sobre onde levar o Bebé Yoda. No meio disso mete-se numa data de confusões. É sempre o mesmo, à exceção dos últimos três episódios.
Este ritmo de “toma lá, dá cá” resume esta primeira metade a cenas de ação sem grande impacto a nível emocional para com as personagens. O peso da consequência é quase inexistente durante estes episódios, que se salvam pelas ótimas performances, excelente realização e cinematografia. Porém não passava disso.
Outra grande oportunidade desperdiçada a meu ver é Moff Gideon, que passou os episódios quase todos na série só para aparecer no fim e fazer cara de mau. Giancarlo Esposito transborda de carisma na tela, e infelizmente tal apenas se aproveita no último episódio da série.
Os últimos três episódios são sem dúvida os melhores da temporada, que não só avançam a trama da história a nível da ação mas principalmente a nível emocional. “The Tragedy” realizado por Robert Rodriguez, demonstra uma corrida pelo tempo na qual Mandalorian, Boba Fett e Fennec se juntam para salvarem o Bebé Yoda, cujo nome foi revelado ser Grogu, no episódio anterior. Além de Rodriguez entregar ação incrível, o episódio é o primeiro da temporada que tem consequências importantes na história, assim que Moff Gideon captura Grogu e a sua nave destrói a nave de Mando. Estava o cerco feito para um excelente final de série e penso que em algumas vertentes, eles fizeram um bom trabalho.
O último episódio chama-se “The Rescue” e é realizado mais uma vez por Peyton Reed que já tinha realizado o segundo episódio desta temporada. O episódio traz de volta Bo Katan, que se junta a Mando, Cara Dune e Boba Fett para assaltarem a nave de Gideon e resgatarem Grogu, com a promessa de ela retomar a posse do Sabre de Luz negro. A invasão à nave e tomada da ponte de controlos é feita de forma energética, sendo que Mando tem que defrontar os perigosos Dark troopers de Moff Gideon, que se demonstram como uns dos droides mais assustadores de toda a saga.
Ver também: Euphoria – Trouble Don’t Last Always | Zendaya brilha no episódio especial
Quando Mando chega a Grogu, ele depara-se com Moff Gideon que o defronta e perde. Mando recupera Grogu e o sabre, e algema Gideon. Porém, Gideon demonstra ter outras cartas na manga, afinal de contas ele sabia que ao abandonar a ponte ele lutaria contra Mando e que este iria vencer e ficar com o sabre. Isto significa que o sabre pertencia agora a Mando, e com ele o direito de governar Mandalore. Bo Katan sabe que para governar Mandalore precisaria de derrotar Mando em combate. Desta forma, Gideon dá um golpe de mestre ao gerar tensão do lado de Bo Katan e causar ainda mais perigo com o retorno dos Dark Troopers à nave.
Estes jogos mentais fazem de Gideon um vilão extremamente interessante, desilude-me portanto que não tenhamos conseguido ver muito desta personagem à exceção deste episódio e espero que este seja mais desenvolvido em temporadas vindouras. Porém, o grande momento do episódio é a chegada de Luke Skywalker, interpretado pelo ator original Mark Hamill. Este salva a equipa e leva consigo Grogu, que se despede de Din Djarin de forma emocionante.
Não sei o que pensar da chegada do icónico Jedi. Se por um lado é bom vê-lo de novo, por outro a solução torna-se um pouco fácil. Não só isso, mas também a despedida de Grogu parece um tanto apressada, sendo que ainda havia imenso para descobrirmos sobre a personagem e o seu elo com o Mandaloriano é o coração desta história.
Ainda no último episódio, este revela uma cena pós-créditos que introduz uma nova minissérie completamente focada em Boba Fett, como se já não houvessem diversas outras séries em desenvolvimento, não é verdade.
O segundo ano de “The Mandalorian” é extremamente divertido, e demonstra que a Disney+ a par da Luscasfilm estão de facto empenhadas a entregar séries de valor cinemático que quebram as barreiras do que é possível vermos no pequeno ecrã. Ainda assim, grande séries não se fazem apenas pelo espetáculo visual, e falta um trabalho de personagens mais profundo para que esta série atinja todo o potencial que a sua história e visuais demonstra ter.
A Temporada 2 de “The Mandalorian” já está disponível na Disney+.