Tico e Teco: Comando Salvador é o novo filme original da Disney+, estreou no serviço de streaming a 20 de maio. Traz de volta os personagens clássicos Tico e Teco numa nova aventura.
Não bem um reboot
Muitos devem conhecer Tico e Teco, ou Chip n’ Dale no original, dos cartoons dos anos ’40 e ’50 da Walt Disney, em que muitas vezes contracenavam com o Pato Donald para lhe atazanar a vida. Mas para além desses desenhos animados, eles também tiveram a sua própria série: “Tico e Teco – Comando Salvador”, que estreou no final dos anos 80. Tentando capturar o sucesso de “DuckTales“, a série animada pegou nestes dois personagens já estabelecidos e mudou-lhes a fórmula.
Ao invés de serem esquilos traquinas, eram heróis, e juntamente com uma equipa de outros aventureiros, resolviam crimes e metiam-se peripécias dignas do Indiana Jones. As personalidades deles ficaram também mais acentuadas: Tico é o líder inteligente e Teco é o sidekick tonto. E é precisamente nessa diferença entre os dois protagonistas que esta nova versão incide.
Com uma abordagem metaficional, este filme reimagina Tico e Teco como atores, desta vez. No universo desta história, “Comando Salvador” foi uma série dos anos 90, que levou Tico e Teco ao estrelato. A série acabou por ser cancelada o que levou ao dois amigos se separarem. Passados 30 anos, eles reencontram-se e têm de, relutantemente, voltar a trabalhar juntos para resolverem o caso do desaparecimento de um amigo.
Teco está farto de ser só o ajudante de Tico; e Tico ainda tem algum ressentimento por Teco ter causado o cancelamento da série, e quer deixar a vida de aventuras para trás. É este o núcleo emocional do filme realizado por Akiva Schaffer, parte do trio humorista The Lonely Island. Andy Samberg, também parte da trupe, encarrega-se de fazer a voz de Teco. John Mulaney, que trabalhou com Samberg no SNL, interpreta Tico, por sua vez. Da mesma forma, os argumentistas do filme também vêm de séries de comédia de sucesso como “Foi assim que Aconteceu” ou “Crazy Ex-Girlfriend“. Inegavelmente, a equipa criativa por detrás deste filme já provou ser competente em criar histórias com uma boa mistura de humor satírico e sinceridade. Aqui, são maioritariamente bem sucedidos, apesar de alguns percalços.
Uma sátira ao atual estado de franchises
Schaffer basicamente usou o set up de uma nova versão da série original “Comando Salvador” para fazer uma comédia irónica sobre a indústria de blockbusters atual. Este é um filme muito self aware, cheio de piadas meta, às quais outras produções dos Lonely Island já nos habituaram. Com “Popstar: Never Stop Never Stopping” e os vários vídeos musicais que os tornaram famosos, eles mostraram-nos um humor sardónico e subversivo que gozava com vários aspetos do entretenimento atual e cultura de celebridades.
Neste filme, essa comédia ainda está bastante presente, mas percebe-se que alguma dessa energia foi destilada pela Disney. Sim, esta produção tem toda e mais alguma personagem de qualquer IP que se possa lembrar; e faz imensas piadas à custa da obsessão dos estúdios atualmente de continuarem a produzir sequela, remake e reboot de tudo o que podem. Mas após algum tempo a fórmula cansa. Se retirarmos todas as referências à cultura pop e todos os cameos de personagens que reconhecemos, a história e estrutura é bastante cliché.
Um produto da Disney, apesar de tudo
Uma vez que é uma produção da Disney, a sua altivez atrapalha um pouco a crítica que este filme faz à indústria. Muitas piadas soam de mau gosto vindo de quem vêm. Este estúdio é, afinal, uma das grandes responsáveis pela estagnação criativa em Holywood atualmente, tendo assentado também em produzir resmas de remakes e reboots. Este é um aspeto que de vez em quando pode perturbar o aproveitamento da história. Felizmente, esta atitude presunçosa não é demasiado preeminente, e outros aspetos bons do filme conseguem transparecer.
A mistura de estilos de animação foi muito bem conseguida, sendo tecnicamente ainda mais ambicioso que o seu irmão mais velho, “Quem tramou Roger Rabbit“. Sem dúvida que Akiva pretende que este filme seja uma espécie de homenagem ao mundo da animação, misturando CGI com 2D e cel-shading de forma notável. O entusiasmo dos atores dobradores também é muito bom, trazendo energia para os papéis.
Em suma, este é um filme divertido que explora alguns conceitos interessantes e por vezes hilariantes. Esta tática de pôr muitos personagens estabelecidos do estúdio num só filme tem se tornado uma moda atualmente: vemos isso em filmes como “Ready Player One”, “Ralph Breaks the Internet” ou Space Jam 2. Este consegue-se destacar por demonstrar algum escárnio para com esse próprio sistema. Mesmo que, no processo, se torne, na mesma, numa coleção de referências a outras propriedades, alimentando-se da nostalgia…